ANTIGAMENTE, FAZÍAMOS SERENATAS
" Curitiba, com muita saudade e grande respeito, recordo parte dos anos dourados que com voce vivi intensamente.
ANTIGAMENTE, FAZÍAMOS SERENATAS
" Curitiba, com muita saudade e grande respeito, recordo parte dos anos dourados que com voce vivi intensamente.
Curitiba, minha terra natal, confesso, com subido orgulho, que respiro teu ar desde quando tinha voce 245 anos, isto é, desde quando nasci no coração de minha cidade menina, na antiga Rua Colombo, hoje desembargador Clotário Portugal, onde aos pés de uma roseira foi plantado o umbigo de um curitibano que sabe colocá-la à altura máxima do respeito e do bem-querer, como todos os que te amam e zelam pela tua beleza.
Lembro quando, nos idos de 1954 a 1958, vagava pelas tuas ruas, avenidas e praças iluminadas de hoje, em companhia de grandes bons amigos (não cito nomes para não omitir ninguém), sempre carregando em tuas noites o meu velho violão.
Nessa época, eu morava no Jardim Centenário, no Seminário, e dali andava pelos teus bairros às vezes de automóvel, às vezes a pé, tocando violão e cantando para tuas garotas que tanto eu amei e respeitei, como, então nós rapazes era comum este comportamento e respeito.
A serenata, como sempre foi, revestia-se de um ato singelo de homenagem, onde a garota eleita pelo grupo amador de seresteiros era acordada durante a madrugada silente e segura, onde a paz de tuas noites transbordava os corações de teus cantores de inspiração e amor (raramente apareciam pais enciumados e até agressivos, insensíveis às homenagens que por extensão lhes alcançavam).
Década dos boleros, que hoje estão lentamente reaparecendo, das canções, sambas-canções e valsas, que nunca morreram, mesmo nas tuas madrugadas frias, onde se via formar sobre os telhados, gramas, etc., a beleza do véu criado pela obra divina, que ornamentava minha cidade de branco, tal qual memorável festa de 15 anos de menina moça, a geada, que linda!
Saía da casa a pé e atravessava toda a cidade, para fazer serenatas em todos os teus bairros, sem correr qualquer risco, pois os que se aproximavam (gente de todas as cores e tipos), nada mais queriam, senão integrar-se ao grupo seresteiro como mais um amigo, coisas boas que as noites da época ofereciam.
Lindas serenatas, embora as noites reservassem acontecimentos não programados, como correr de cachorros, pular o muro alto do Colégio Cajuru e, dentre outros, recordo que após cantar a terceira música para uma de tuas meninas, Curitiba, no jardim da casa ao lado ouviu-se um forte estampido de arma de fogo e, a seguir, aparece na calçada um cidadão de pijama, empunhando um revólver e, dirigindo-se ao grupo da seresta, disse:
"Ou voces entram na minha casa para cantar e tocar ou disparo todo este revólver". Foi um susto, mas não passou felizmente de uma brincadeira, acabamos tomando café completo na residência do gentil pistoleiro e de sua distinta senhora, onde foi dada continuidade à serenata.
Aquela que elegi dona de meu coração semanalmente era acordada ao som de meu pinho, quando em música lhe confessava amor, cantando "Por um sorriso teu darei a vida e morrerei - Feliz levando a tua imagem no meu coração".
Curitiba, hoje não mais se ouve falar que se canta em serenata em tuas noites, mas voce encanta noite e dia, o teu povo e o mundo, pelo teu sorriso, pelas tuas flores, pelo teu verde, pelo teu acolhimento, por tudo enfim."
(Texto do doutor Clotário de Macedo Portugal Neto, publicado em Histórias de Curitiba / Foto ilustrativa: pinterest)
Paulo Grani
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