quinta-feira, 21 de julho de 2022

"Na esquina da antiga Rua da Liberdade, ao lado da Estação, o imóvel da família Tassi, construído pelos imigrantes italianos da região de Mântova, Angelo e Angela Tassi

 "Na esquina da antiga Rua da Liberdade, ao lado da Estação, o imóvel da família Tassi, construído pelos imigrantes italianos da região de Mântova, Angelo e Angela Tassi

"Na esquina da antiga Rua da Liberdade, ao lado da Estação, o imóvel da família Tassi, construído pelos imigrantes italianos da região de Mântova, Angelo e Angela Tassi, possuía a princípio, um pavimento e funcionava como comércio de alimentos e bebidas. Mas como os viajantes que desembarcavam da Estação, buscavam além da alimentação um lugar para descansar da viagem, começaram a pedir “pouso” aos proprietários. Assim, em 1900, os Tassi inauguraram o Hotel Estrada de Ferro.
A alta demanda de clientes obrigou Angelo Tassi a ampliar as instalações do hotel. Uma das alterações realizada em 1910, o imóvel passou a ter dois pavimentos, adquiriu características ecléticas, e exigiu o emprego de mais funcionários, para atender aos 60 quartos, salões de refeições (café/jantar), hall, jardim de inverno e duas cozinhas. Entretanto, o hotel permaneceu com o nome Hotel Estrada de Ferro até o final da década de 1910, recebendo a nova denominação, Hotel Tassi, somente na década seguinte.
A construção edificada em alvenaria de tijolos e cobertura de telhas francesas, sem recuo colocadas às divisas laterais, é o mais extenso dos sobrados que compõem o conjunto arquitetônico da face leste da praça Eufrasio Correia. Arquitetura eclética, tendo nas cornijas em massa, nas aberturas guarnecidas por balaústres na platibanda e nos ressaltos sobrepostos aos vãos seus principais adornos.
A fachada eclética ornava com o seu entorno onde pulsava o movimento da modernidade e ao entrar no hotel os hóspedes vislumbravam uma estrutura cordial e receptiva. "Logo na entrada havia uma porta dupla, com vidros biseautés e ao lado esquerdo, havia a recepção, com o escritório atrás. O piso da entrada era ladrilhado. Nesse hall de entrada, ficavam uma mesa e cadeiras de descanso”, descreveu Milena Angela Tassi de Andrade, neta dos fundadores. Em suas lembranças Milena comentou sobre a sensação de acolhida, requinte e conforto das instalações: “ Na frente, tinha a escada de mármore branco com colunas laterais, que levava ao primeiro andar, onde estavam os dormitórios.
Era costume da família Tassi, após o jantar, ficar no hall conversando com alguns hóspedes.". Aspecto que o caracterizava como um hotel familiar, onde os proprietários mantinham relações de sociabilidade informal com os hóspedes, em uma época em que a hospitalidade vigorava e o hoteleiro, além de fornecer alimento e acomodação, oferecia também aos seus hóspedes conforto e aconchego.
Do hall de entrada, portas de imbuia almofadadas davam acesso ao jardim de inverno com teto de vidro e o piso ladrilhado por rosetas. O restaurante principal e o salão de café possuíam cozinhas separadas. O Hotel contava também com um porão para o armazenamento do vinho e dividia espaço com a câmara escura de fotografias de Santo Tassi, pai de Milena e filho de Angela e Angelo Tassi.
Ao recorrer as suas memórias Milena nos fornece o ambiente em seu uso rotineiro e com todas as suas funções: “A lavanderia tinha acesso para o pátio interno... lavava-se a roupa em grandes tanques. Ao lado, a sala de passar, com grandes cestos para a roupa lavada", e na parte traseira do prédio, havia uma garagem e um galinheiro. No pátio central onde depois foi construído o jardim de inverno, comentou sobre a existência de um chafariz em que a noite eram tocadas músicas para os hóspedes. Os quartos maiores ficavam no primeiro andar e alguns com vista para a Praça Eufrásio Correia. Já no segundo andar os quartos eram menores com aposentos destinados aos funcionários. Os banheiros eram separados dos quartos e as camareiras se encarregavam de preparar os banhos quentes. Outro aspecto peculiar era a moradia da família que se encontrava ao fundo estabelecimento “, com um porão e terraços separados da entrada do hotel, que era pela Rua Barão do Rio Branco.".
O Hotel Tassi permanece na lembrança dos familiares, Suzette Passalacqua relatou que alguns hóspedes tornavam-se amigos da família. No entanto, as relações entre hoteleiro-hóspede tinham suas delimitações e os espaços entre o trânsito de hóspedes e a área restrita à família deviam ser respeitados. Suzette revelou que Angelo Tassi proibia os namoros de suas filhas com os hóspedes, porém essa foi uma regra inflexível burlada por ela, pois acabou por se envolver e casar-se com um hóspede.
Em 1942, após anos de funcionamento sob a administração dos Tassi, o hotel foi alugado e recebeu um novo nome: Continental. Posteriormente, na década de 1960, a família decidiu vender o imóvel. No ano de 1972, a Estação Ferroviária foi desativada, resultante da progressiva substituição do transporte ferroviário pelo rodoviário. Em seguida, a região da Estação passou a viver um momento de abandono com o fechamento de vários hotéis, inclusive o Continental em 1976. Desta forma as portas do antigo Tassi, endereço de chegadas e partidas de vários viajantes que encontravam nos aposentos e na conversa dos donos o aconchego, foi lacrada.
Na década seguinte, um incêndio abalou a estrutura do edifício, que ficou à mercê dos seus atuais proprietários, porém um novo olhar de representantes da memória histórica do Estado delimitou-o como novo espaço urbano a ser preservado.".
(Extraído do TCC de Talita Roberta Pompeu Lichoveski, em tcconline.utp.br)
Paulo Grani.

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Cartão Postal do início século XX.
Acervo Casa da Memória

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Hall do Hotel Tassi, foto de 1935.
Autor desconhecido. Fonte: Elisabete Tassi Teixeira. Fundação Cultural de Curitiba.

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. Hotel Estrada de Ferro, em foto de 1902. Fonte: Elisabete Tassi Teixeira. Fundação Cultural de Curitiba

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Cartão Postal do início século XX. Autor desconhecido.
Acervo Casa da Memória.

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HOTEL AMPLIADO, AINDA DENOMINADO HOTEL ESTRADA DE FERRO, 1917.

Foto: Autor desconhecido. Fonte: Elisabete Tassi Teixeira. Fundação Cultural de Curitiba, 1991, p.27.

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