O PADEIRO, SUA CARROCINHA E SEU CAVALO
Morava nas Mercês, começo dos anos 1960, e lembro-me do padeiro que vinha com sua carrocinha, sempre passava duas vezes
por dia, cedinho pela manhã e lá pelas três da tarde, hora tradicional do café, vinha ele com sol ou com chuva. O som do cincerro do cavalo e da sua buzina manual anunciavam de longe a sua chegada.
O cavalo parava instintivamente em frente à casa de cada freguês. O padeiro entregava pão bengala, pão d’água, pão sovado, broas, tranças, pão doce e outros.
Não tinha cartucho, os pães eram pegos com as mãos mesmo. Cada cliente tinha sua sacola que ficava num cantinho certo na casa, para que o pão fosse lá depositado pela manhã, pois, quase sempre, ele era entregue antes do cliente levantar. Alguns fregueses tinham uma caixa ao lado do portão, com uma tampa frontal e outra traseira, para a retirada dos pães.
À tarde, quando a carrocinha chegava, os fregueses iam pegar os pães diretamente nela para escolher os mais assadinhos ou pegar algo diferente, além, também, de interagir com o padeiro. Enquanto entregava o pao-de-cada-dia, ia ouvindo e desfiando histórias que passavam de um bairro para outro, num piscar de olhos.
O padeiro era conhecido de todos e fazia mais do que entregar os pães, ele era também o sistema de comunicação mais eficiente que existia na época. Filho com sarampo, criança com caxumba, mulher brigada com marido, sogra doente ou gente com dor de dente, as notícias eram com ele mesmo, dava conta até de dizer sobre as gestantes. Também pudera, todo santo dia fazia o mesmo trajeto e era amigo de todos.
Tudo que ele fornecia era anotado numa caderneta com o nome do freguês e pago no começo do mês, quando este recebia o salário.
Paulo Grani.
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