sábado, 31 de dezembro de 2022

Histórias de Curitiba - 29 DE MARÇO 1930

 

Histórias de Curitiba - 29 DE MARÇO 1930

29 DE MARÇO 1930
Hélio Teixeira

Hoje Curitiba não comemora 300 anos como quer o prefeito Rafael Greca.
Essa data pode ter acontecido há 39 anos, no aniversário da fundação do povoado, ou há 25 anos, no tricentenário
do levantamento do Pelourinho, como narra a história. A idade de Curitiba, na verdade, não importa.
O que importa é a história do povo curitibano.

João Korecki tem hoje 83 anos.
Nasceu em Horhow, na Ucrânia, então dominada pela Iblônia, subjugada em seguida pela União Soviética e hoje uma nação livre.
Korecki "descobriu"Curitiba exatamente no dia 29 de março de 1930, numa notícia perdida de jornal. A notícia dizia que Curitiba era fria no inverno, com um clima semelhante ao europeu.
Korecki era um ninguém na Ucrânia.
Foi obrigado a comer cascas de batata com serragem na primeira guerra: Viu morrer irmãos e parentes sob fogo de metralhadoras alemãs.
Nas vésperas do natal de 1930, ele desembarcou em Santos, passou oito dias na Ilha das Flores, depois de uma viagem cruzando o Atlântico nos porões do navio "Campana". Seu primeiro natal brasileiro foi na Ilha das Flores abraçando oito amigos e um casal de companheiros de viagem. "Pensei que tinha errado de caminho", lembra ele, "o calor do Rio de Janeiro era insuportável para quem enfrentava a neve".
João Korecki, de repente, soube que Curitiba, seu destino, não tinha o calor do Rio, ao contrário, fazia um frio danado no inverno.
Sem dinheiro, nenhuma palavra em português, acabou numa hospedaria da Rua Silva Jardim, onde dormia e não tinha almoço ou jantar.
Alí encontrou-se com "Mr.
Duff", empreiteiro das primeiras hidrelétricas do Paraná, Guaricana e Chaminé. Foi ajudar a abrir um imenso buraco na Serra do Mar.
Depois de um ano voltou a Curitiba.
Foi sapateiro e estofador na Saldanha Marinho.
Freqüentou o Cassino Ahú do portunhol de Gregório Barrios na animação de roletas e carteados.
Foi "assi-duée"do Bar e Restaurante Paraná, Bar Americano, Pérola, ficou conhecido com "O Russo"e, depois de umas e outras que o animavam a dançar "Czardas", levou o apelido de "Ivan, o Terrível". Lia o "Diário da tarde", acompanhou os primórdios desta "Gazeta do Povo". Conviveu com jornalistas, intelectuais e figuras populares que viveram e vivem nesta cidade.
Casou e teve uma filha, Iva, e dois netos.
Hoje, no máximo, derruba uma vodka aos domingos. E relata:
- Hoje, vejo brasileiros indo embora em busca de trabalho.
Na minha época, era o inverso.
Aqui foi e é o meu paraíso, mas lembro de 29 de março de 1930 e do jornal que me trouxe ao Brasil e a Curitiba.
E medito: espero para meus netos que Curitiba não seja uma nova Horhow, espantando seus filhos para outras paragens.

Hélio Teixeira é jornalista.

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