sábado, 31 de dezembro de 2022

Histórias de Curitiba - As Polonesas do Louvre

 

Histórias de Curitiba - As Polonesas do Louvre

As Polonesas do Louvre
Ilka Marquez Munhoz (in memorian)

Os acontecimentos importantes em Curitiba, no fim da década de vinte, tinham por palco a Rua XV de Novembro.
Nos estabelecimentos onde serviam o gostoso cafezinho paranaense, entre mesinhas de mármore, redondas, perambulavam garçons sonolentos, carregando displecentemente dois bules de metal com cabos de madeira.
Regorgitavam grupos que marcavam encontros: políticos, comerciantes, profissionais liberais e jovens acadêmicos, amigos que, algomerados nas pequenas mesas, discutiam e resolviam problemas, elegantemente, mas com muito ruído ou, as vezes, aos sopapos.
Bem no meio da rua circulava o bonde elétrico, com sua imponente carretilha soltando faíscas.
Nesse mesmo local situava-se o prédio do grande magazin "O Louvre", ostentando belo estilo francês.
Em duas grandes vitrines exibia os últimos lançamentos de sedas francesas, casimiras inglesas e panos preciosos para cortinas e
estofados.
Seu proprietário, o Sr. Braun, vestindo elegantemente terno claro e gravata, sempre gentil e sorridente, atendia costes-mente às senhoras que vinham em busca ds novidades européias.
As vitrines possuíam, como molduras, uma saliência que, na parte de baixo, tinha a altura de um banco e servia de assento aos passageiros do bonde, à espera da morosa condução.
Bem cedo, mal começado o dia, ali também reuniam-se as polonesas, aguardando trabalho: limpar uma casa recém pintada ou lavar uma calçada...
Elas davam alegria e movimento ao lugar, com seus lenços coloridos amarrados sob o queixo, saias rodadas cobrindo botinhas, às vezes cambaias, vassouras e baldes nas mãos.
Diante de qualquer necessidade ou dificuldade no serviço ouvia-se logo: "Vá buscar uma polonesa do Louvre!"
Conversavam em altas vozes, num linguajar que ninguém entendia, riam a bandeiras despre-gadas, contando as aventuras da véspera.
Assim se deicxavam ficar, até a última desparecer, comboiada pelo empregador retardatário, que a contratava após custosa negociação.
No dia seguinte, mal raiava o sol, retornavam, para recomeçar a faina, disciplinadas, verdadeiros soldados, empunhando baldes e vassouras qual armas, prontas para o combate de seu ganha-pão.
Descansavam seus corpos doídos sentando nas luxuosas vitrines do Louvre, contando novamente histórias entremeadas de gritos nervosos e gargalhadas espetaculares, sem dar importância aos transeuntes, que aliás nada entendiam. E tudo começava outra vez...
Onde estarão as polonesas do Louvre?

Ilka Marquez Munhoz foi coordenadora honorária das entidades das senhoras Rotarjanas Brasil.

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