Histórias de Curitiba - As Polonesas do Louvre
As Polonesas do Louvre
Ilka Marquez Munhoz (in memorian)
Os acontecimentos importantes em Curitiba, no fim da década de vinte, tinham por palco a Rua XV de Novembro.
Nos estabelecimentos onde serviam o gostoso cafezinho paranaense, entre mesinhas de mármore, redondas, perambulavam garçons sonolentos, carregando displecentemente dois bules de metal com cabos de madeira.
Regorgitavam grupos que marcavam encontros: políticos, comerciantes, profissionais liberais e jovens acadêmicos, amigos que, algomerados nas pequenas mesas, discutiam e resolviam problemas, elegantemente, mas com muito ruído ou, as vezes, aos sopapos.
Bem no meio da rua circulava o bonde elétrico, com sua imponente carretilha soltando faíscas.
Nesse mesmo local situava-se o prédio do grande magazin "O Louvre", ostentando belo estilo francês.
Em duas grandes vitrines exibia os últimos lançamentos de sedas francesas, casimiras inglesas e panos preciosos para cortinas e
estofados.
Seu proprietário, o Sr. Braun, vestindo elegantemente terno claro e gravata, sempre gentil e sorridente, atendia costes-mente às senhoras que vinham em busca ds novidades européias.
As vitrines possuíam, como molduras, uma saliência que, na parte de baixo, tinha a altura de um banco e servia de assento aos passageiros do bonde, à espera da morosa condução.
Bem cedo, mal começado o dia, ali também reuniam-se as polonesas, aguardando trabalho: limpar uma casa recém pintada ou lavar uma calçada...
Elas davam alegria e movimento ao lugar, com seus lenços coloridos amarrados sob o queixo, saias rodadas cobrindo botinhas, às vezes cambaias, vassouras e baldes nas mãos.
Diante de qualquer necessidade ou dificuldade no serviço ouvia-se logo: "Vá buscar uma polonesa do Louvre!"
Conversavam em altas vozes, num linguajar que ninguém entendia, riam a bandeiras despre-gadas, contando as aventuras da véspera.
Assim se deicxavam ficar, até a última desparecer, comboiada pelo empregador retardatário, que a contratava após custosa negociação.
No dia seguinte, mal raiava o sol, retornavam, para recomeçar a faina, disciplinadas, verdadeiros soldados, empunhando baldes e vassouras qual armas, prontas para o combate de seu ganha-pão.
Descansavam seus corpos doídos sentando nas luxuosas vitrines do Louvre, contando novamente histórias entremeadas de gritos nervosos e gargalhadas espetaculares, sem dar importância aos transeuntes, que aliás nada entendiam. E tudo começava outra vez...
Onde estarão as polonesas do Louvre?
Ilka Marquez Munhoz foi coordenadora honorária das entidades das senhoras Rotarjanas Brasil.
Ilka Marquez Munhoz (in memorian)
Os acontecimentos importantes em Curitiba, no fim da década de vinte, tinham por palco a Rua XV de Novembro.
Nos estabelecimentos onde serviam o gostoso cafezinho paranaense, entre mesinhas de mármore, redondas, perambulavam garçons sonolentos, carregando displecentemente dois bules de metal com cabos de madeira.
Regorgitavam grupos que marcavam encontros: políticos, comerciantes, profissionais liberais e jovens acadêmicos, amigos que, algomerados nas pequenas mesas, discutiam e resolviam problemas, elegantemente, mas com muito ruído ou, as vezes, aos sopapos.
Bem no meio da rua circulava o bonde elétrico, com sua imponente carretilha soltando faíscas.
Nesse mesmo local situava-se o prédio do grande magazin "O Louvre", ostentando belo estilo francês.
Em duas grandes vitrines exibia os últimos lançamentos de sedas francesas, casimiras inglesas e panos preciosos para cortinas e
estofados.
Seu proprietário, o Sr. Braun, vestindo elegantemente terno claro e gravata, sempre gentil e sorridente, atendia costes-mente às senhoras que vinham em busca ds novidades européias.
As vitrines possuíam, como molduras, uma saliência que, na parte de baixo, tinha a altura de um banco e servia de assento aos passageiros do bonde, à espera da morosa condução.
Bem cedo, mal começado o dia, ali também reuniam-se as polonesas, aguardando trabalho: limpar uma casa recém pintada ou lavar uma calçada...
Elas davam alegria e movimento ao lugar, com seus lenços coloridos amarrados sob o queixo, saias rodadas cobrindo botinhas, às vezes cambaias, vassouras e baldes nas mãos.
Diante de qualquer necessidade ou dificuldade no serviço ouvia-se logo: "Vá buscar uma polonesa do Louvre!"
Conversavam em altas vozes, num linguajar que ninguém entendia, riam a bandeiras despre-gadas, contando as aventuras da véspera.
Assim se deicxavam ficar, até a última desparecer, comboiada pelo empregador retardatário, que a contratava após custosa negociação.
No dia seguinte, mal raiava o sol, retornavam, para recomeçar a faina, disciplinadas, verdadeiros soldados, empunhando baldes e vassouras qual armas, prontas para o combate de seu ganha-pão.
Descansavam seus corpos doídos sentando nas luxuosas vitrines do Louvre, contando novamente histórias entremeadas de gritos nervosos e gargalhadas espetaculares, sem dar importância aos transeuntes, que aliás nada entendiam. E tudo começava outra vez...
Onde estarão as polonesas do Louvre?
Ilka Marquez Munhoz foi coordenadora honorária das entidades das senhoras Rotarjanas Brasil.
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