sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Histórias de Curitiba - A grande quermesse

 

Histórias de Curitiba - A grande quermesse

A grande quermesse
Pedro Franco Cruz

Afinal, Curitiba tem 300 ou 325 anos?" A pergunta, feita para lembrar a discussão do momento entre historiadores
e outros estudiosos, veio acompanhada de uma oportuna observação: a resposta, se um dia chegarmos a ela, deve demandar
mais uns 300 ou 325 anos de discussão.
Faltou esclarecer, entretanto, a origem dessa momentosa discussão.
Vamos a ela, portanto, ainda que sucintamente.
O debate atual sobre os 300 ou 325 anos de idade desta outrora feliz Vila Nossa Senhora da Luz dos Pinhais
foi levantado pelo fotógrafo e pesquisador Cid Destefani: o nosso pelourinho, ficando onde hoje é a Praça Tiradentes,
traz como data de seu levantamento o dia 4 de novembro de 1668, portanto 325 anos atrás.
E como todo mundo sabe, argumentou Destefani, o levantamento do pelourinho marcava a fundação de toda a vila no Brasil Colônia.
Mais que um tótem de pedra usado para castigar escravos, o pelourinho significava organização política,
autoridade constituída, padrão de posse e mando.
Porque em Curitiba haveria de ser diferente?
Simplesmente porque sua excelência o alcaide atual, Rafael Valdomiro Greca de Macedo, assim o quer,
apontam ironicamente os defensores dos 325 anos.
Por essa explicação, o que sucede é que o prefeito Rafael Valdomiro não abre mão do privilégio de comandar a grande
quermesse do tricentenário, mesmo que com 25 anos e alguns meses de atraso.
Sua excelência o prefeito, em todo caso, também tem alguns pesos pesados que o defendem nessa discussão,
além dele próprio - sem trocadilho.
Certos historiadores e historiadoras, alguns até isentos, professam a mesma tese de que, em suma, Curitiba é uma exceção.
Aqui, a fundação da cidade se deu apenas 25 anos após o levantamento do pelourinho, quando tivemos a primeira eleição
para a Câmara Municipal (eleição por sinal indireta, em que mulher não votava).
Mas o que era a Vila Nossa Senhora da Luz entre uma coisa e outra, nesse interregno de 25 anos, nem os historiadores assalariados da prefeitura conseguem explicar.
Se já tínhamos um número razoável de moradores - para os padrões da época -, tínhamos até capitão povoador,
tínhamos pelourinho, igreja e padre, mais ainda não éramos vila, o que éramos então? Sei lá, respondem alguns.
Ora, ora, respondem outros, é que Curitiba, mesmo alguns séculos antes de Jaime Lerner, já era o Brasil diferente.
Para complicar mais as coisas, uns bisbilhoteiros do passado foram descobrir que o atual prefeito Rafael Valdomiro,
em seus tempos de vereador pelo PDS, em candente discurso na Câmara Municipal em 31 de janeiro de 1984,
duvidou da idade atribuída a Curitiba e que lhe daria hoje 300 anos.
Para o vereador Rafael, na época, Curitiba era bem mais velhinha.
Como se não bastasse, o mesmo Rafael Valdomiro prefaciou com fartos elogios, em 1984, o livro "Curitiba, essa Velha de Guerra".
Seu autor, João Marcassa, abre o livro com a seguinte frase: Atribui-se a Eleodoro Ébano Pereira a Fundação de Curitiba,
em 1654..."Ou seja, 339 anos atrás. E Rafael não discordou na época.
Bem, e aí já temos uma terceira data para a fundação de Curitiba.
Melhor pararmos por aqui.
Se formos nos guiar pela máxima latina "in medium virtus est", a idade de Curitiba seria de 225 anos.
Nestas alturas, porém, a discussão já foi atropelada pela ânsia de festejar.
E se a quermesse está armada, vamos a ela, que a conta somos nós que pagamos.

Pedro Franco Cruz é jornalista.

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