quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Histórias de Curitiba - Esquentando as Válvulas

 

Histórias de Curitiba - Esquentando as Válvulas

Esquentando as Válvulas
Luiz Gonzaga de Mattos

Com o sonoplasta fazendo o ranger da porta, surgia a voz tenebrosa do "Doutor César". Em cada lar da Curitiba dos anos 50, ouvidos atentos à freqüência da B2, a PR-B2, Rádio lube Paranaense.
Era a hora do "Grande Teatro de Novelas Antisardina" (aquela que era o segredo da beleza feminina) e o "Doutor César", interpretado por Mário Vendramel, era o personagem principal da rádio-nove-la "O Homem de Cinzento".
Uma época em que Curitiba dividia seu tempo entre a B2 e a Guairacá a "Voz dos Pinheirais". Tempo dos programas de auditório.
Tempo em que qualquer hora era hora para vibrar com a voz de Lurdes Filheiros, Irene Macedo, Maria do Pilar, Iara Diná ou curtir o Regional do Janguito do Rosário.
Tempo em que o "Expresso das Quintas", que tinha Mário Vendramel como chefe de trem comandava o programa, criando a atmosfera de um trem em movimento.
Até mesmo passageiro clandestino aparecia: eram os artistas "de fora1', que se apresentavam no programa). Apesar do horário das tres às seis da tarde o "Expresso das Quintas"fazia lotar o auditório da B2 e provocava alvoroço na "Barão".
Uma época em que Sinval Martins, Maurício Távora, Ivo Ferro, Ari Fontoura e outros nomes causavam frisson no público feminino, que acompanhava seus personagens.
Principalmente aqueles da novela "Só pelo amor vale a vida".
Quantos pratos não escaparam das mãos trêmulas das ouvintes, enternecidas com o romantismo dos nossos radiadores...
E as paródias de Zé Pequeno? Ou as animadas apresentações de Nhô Belarmino e Nhá Gabriela, sempre "sob os auspícios da Casa Lorusso"? Um humor ingênuo e uma música alegre.
Nos "picapes", os 78 rotações de "As Mocinhas da Cidade" rodavam como sucesso do momento.
E quem pode esquecer do madrugador Arthur de Sousa com sua "Revista Matinal"? Ou a "Hora do Angelus", na Guairacá?
Rádio de uma época em que as vozes de Aluísio Finzeto, Eros Martins, entre outros, transmitiam os noticiários e davam fidelidade à notícia.
Tempo em que as famílias se visitavam e que o "majes-toso"rádio de muitas válvulas ocupava lugar de destaque na sala de visita.
E, agora, o som da televisão, ao fundo, traz de um programa enfadonho, a mensagem adequada: "tempo bom, não volta mais.
Saudade do tempo que vai"...

Luiz Gonzaga de Mattos é jornalista.

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