segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Histórias de Curitiba - A Fábrica de Carruagens

 

Histórias de Curitiba - A Fábrica de Carruagens

A Fábrica de Carruagens
Jorge Andriguetto

Neste ano maravilhoso dos 300 anos de Curitiba, com meu abraço, peço licença para incluir o meu testemunho sobre uma das mil e uma histórias de nossa querida cidade.
Em 1893, chegou a Urussan-ga, S.C., João Batista Gnoatto, o capo da tradicional Família Gnoatto, avô do Dr. João Batista Alberto Gnoatto, ilustre homem público, com passagem pela Prefeitura Municipal de Apucara-na e Câmara de Vereadores de Curitiba, da qual foi seu presidente, tendo promovido, inclusive, a restauração do magnífico Palácio Rio Branco.
Em 1895, o velho patriarca tranferiu-se para Curitiba, instalando, aqui, a primeira fábrica de carruagens.
Fornecia-as para os "cocheiros"da época, entre eles o Boscardin e o alemão Henrique Mehl.
Este, era o encarregado do transporte dos presidentes do Estado e de seus familiares.
Henrique Mehl importou, da Europa, os primeiros cavalos tordilhos.
Seus filhos, Manoelito (falecido) e Julin-ho, foram grandes turistas. O último deles, Waldemar, ébem sucedido empresário.
A fábrica de carruagens de João Batista Gnoatto, com a importação dos primeiros automóveis deu lugar a uma bem equipada oficina mecânica, na rua Des.
Motta, a cargo de seu filho Luiz Batista Gnoatto, casado com D. Paulina Guarize Gnoatto. São seus filhos além do citado vereador, o advogado Alfredo (falecido), Frei Damião, Madalena (falecidos), Alcides, Juiz de Direito, Lili Pupi, viúva de um ex-prefeito de Colombo; Milton, advogado; Terezinha Sozi, viúva, e Maria Cláudia, casada com o empresário An gelo Abage.
Em frente à oficina de Luiz Batista, estabeleceu-se seu cunhado, Tarqüinio Marchiorato, com o mesmo ramo, dando início, porém, à fabricação de charretes, veículo de tração animal, com rodados de pneus.
Eram lindas (meu pai, com comércio e chácara no Uberaba, teve algumas delas).
A oficina de Luiz Batista Alberto oferecia aos olhos de seus freqüentadores um espetáculo de arte
inédito.
Para começar, naqueles tempos, os mecânicos consertavam e faziam peças para os automóveis.
Hoje, sabem, apenas, trocar peças.
Na década de 1940, vivia em Curitiba o saudoso pintor e caricaturista Hélio Barros.
Era filho do grande advogado Hugo de Barros, de saudosa memória.
Dois outros irmãos deixaram sua presença marcada na história de Curitiba, o humanitário médico Dr. Mário de Barros, que foi deputado estadual e candidato a Governador do Estado, e Homero de Barros, também de saudosa memória, que foi professor catedrático de Direito do Trabalho.
Duas filhas, solteiras, ornamentam a nossa sociedade, a Cloris e a Diva. A última, extraordinária pianista, estilo clássico, como outras, fiel discípula de Chopin.
Voltando ao Hélio.
Mestre do pincel, deixou nas paredes da oficina de Luiz Gnoatto paisagens e retratos que encantavam a todos, Hélio era boêmio, buscava inspiração nas quebradas das madrugadas paca
tas de Curitiba.
Como era amigo dos Gnoatto, tinha livre acesso à oficina.
Assim, no resto da noite deliciava-se com sua criações, deixando-as em todas as paredes e janelas da oficina.
Pena que o casario daquele ponto, engolido pelo progresso, deu lugar a um horrível conjuntos de prédios.
Era assim a oficina mecânica de Luiz Alberto Gnoatto.
Foi assim a primeira fábrica de carruagens de seu pai, João Batista.
Mas, Hélio Barros deixou, também, como caricaturista, sua marca nas salas de espera de consultórios médicos e odontológi-cos.
Seria ineteressante que se promovesse uma exposição dessas gravuras, tão sugestivas, notada-mente, quanto aos dramas vividos naquelas antigas cadeiras de dentistas, verdadeiros instrumentos de horror.
Aqui vai minha despretenciosa sugestão.
Parabéns Curitiba.

Jorge Andriguetto é desembargador, catedrático e membro do Centro de Letras do Paraná.

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