MORTE DE DOM PEDRO II
No ano de 1891, D. Pedro II vivia seu melancólico exílio na Europa. Expulso do Brasil em 1889
"Os funerais do Imperador do Brasil", o jornal francês "Le Pétit Journal", de 26/12/1891, mostrava em dua capa o traslado do corpo de D. Pedro II, em carruagem presidencial.
A chegada do Couraçado São Paulo, aproximando-se do cais do Porto do Rio de Janeiro, trazendo as urnas funerárias do imperador D. Pedro II e da imperatriz dona Tereza.
A multidão que foi ao cais homenagear o retorno do imperador que tantas benfeitorias trouxe ao Brasil.
MORTE DE DOM PEDRO II
Os dias finais do ex-Imperador foram marcados por tristeza e saudosismo. Vivendo modestamente no hotel Bedford em Paris, ajudado por seu amigo Conde de Alves Machado, ele registrava em diários seu desejo de retornar ao Brasil. Sua esposa, Teresa Cristina, morrera logo após chegar à Europa devido a problemas respiratórios, e ele vivia cercado de alguns monarquistas fiéis e do restante de sua família.
Nos últimos anos, D. Pedro envelhecera rapidamente, estando à beira da morte em diversas ocasiões. Após fazer um longo passeio pelo Rio Sena em um dia de inverno, ele contraiu um resfriado que evoluiu para uma pneumonia grave, levando à sua morte em 05/12/1891, três dias após seu aniversário de 66 anos.
Nas 72 horas entre aniversário e morte, uma procissão ininterrupta de pessoas foi visitar o ex-imperador. Suas últimas palavras foram: "Deus que me conceda esses últimos desejos, paz e prosperidade ao Brasil”
Ao final da tarde daquele dia 5, centenas de coroas de flores, uma delas enviada pela rainha Vitória , e mais de cinco mil telegramas já haviam chegado ao Hotel Bedford. O caixão foi coberto pela bandeira imperial e o presidente francês, Sadi Carnot (1837 – 1894), determinou honras militares, fatos que irritaram o governo brasileiro.
Na noite do dia 8, seu corpo, já embalsamado, foi levado, em cortejo oficial no mesmo carro usado nos funerais do ex-presidente Adolphe Thiers (1797 – 1877), para a igreja da Madeleine. No dia seguinte, houve exéquias solenes com a presença de autoridades francesas e de outros países, além de personalidades como sua filha, a princesa Isabel.
O escritor português Eça de Queirós (1845 – 1900) e o diplomata Joaquim Nabuco (1849 – 1910), na época correspondente do Jornal do Brasil na França, escreveu:
“Mais do que isso, infinitamente, D. Pedro II preferia ser enterrado entre nós, e por certo que o tocante simbolismo de fazerem o seu corpo descansar no ataúde sobre uma camada de terra do Brasil interpreta o seu mais ardente desejo. Ao brilhante cortejo de Paris ele teria preferido o modesto acompanhamento dos mais obscuros de seus patrícios, e daria bem a presença de um dos primeiros exércitos do mundo em troca de alguns soldados e marinheiros que lhe recordassem as gloriosas campanhas nas quais seu coração se enchera de todas as emoções nacionais. Mas foi a sua sorte morrer longe da Pátria. É uma consolação, para todos os brasileiros que veneram o seu nome, ver que ele, na sua posição de banido, recebeu da gloriosa nação francesa as supremas honras que ela pode tributar. No dia de hoje o coração brasileiro pulsa no peito da França.”
O Jornal do Brasil, de 09/12/1891, publicou: "Da igreja partiu um imenso cortejo – calcula-se que cerca de 200 mil pessoas o acompanhou – e, ao som da Marcha Fúnebre de Frédéric Chopin (1810 – 1849), o corpo foi levado para a estação de Austerlitz, seguindo de trem para Portugal. No dia 12, foram realizados os funerais em São Vicente de Fora, nos arredores de Lisboa. O corpo de dom Pedro II foi colocado no jazigo da família Bragança, entre o de sua esposa, Teresa Cristina (1822 – 1889), e de sua madrasta, dona Amélia de Leuchtenberg (1812 – 1873).
No New York Times, de 5 de dezembro, vários elogios foram feitos a dom Pedro II: "havia sido o mais ilustrado monarca do século e havia tornado o Brasil tão livre quanto uma monarquia pode ser." A imprensa brasileira também manifestou-se, em sua maioria, elogiosamente a ele. A exceção foi o Diário de Notícias, e alguns clubes republicanos que protestaram contra as homenagens, vendo nelas, segundo o historiador José Murilo de Carvalho, “manobras monarquistas. Foram vozes isoladas."
Mesmo os republicanos como Quintino Bocaiuva (1836 – 1912) e José Veríssimo (1857 – 1916), seus adversários políticos, salientaram suas qualidades, dentre elas a simplicidade, o patriotismo, o espírito de justiça e liberdade.
Sobre Pedro II, Quintino Bocaiuva declarou: “A república, que na hora do seu trinfo foi magnânima; hoje, no momento em que desaparece dentre os vivos o Sr. D. Pedro de Alcântara, só pode ter e só deve ter para com a sua memória o respeito devido a um brasileiro ilustre que, ao menos pelo seu caráter e virtudes pessoais, não desonrou o Brasil e desempenhou, como pode, ou como soube, com boa intenção e ânimo reto, as altas funções de que foi investido como chefe supremo da nação brasileira ” (O Paiz, 06/12/1891).
Segundo Veríssimo em sua coluna 'Às Segundas-feiras', intitulada Pedro II, durante o governo do monarca: “Todos pensávamos como queríamos e dizíamos o que pensávamos. Eu não sei que maior elogio se possa fazer a um estadista” (Jornal do Brasil, 08/12/1891).
1920 – O projeto do deputado mineiro Francisco Valadares (18? – 1933) requerendo a revogação do banimento da família imperial do Brasil, que havia sido apresentado em dezembro de 1919 e arquivado, recebeu em 1920 um parecer favorável da Comissão de Constituição e Justiça e foi rapidamente aprovado no Congresso. Em 03/09/1920, no Palácio do Catete, o presidente Epitácio Pessoa (1865 – 1942) assinou, com uma caneta de ouro adquirida a partir da arrecadação de dinheiro mediante subscrição pública promovida pelo jornal A Rua, o decreto que revogava o banimento da família imperial. A cerimônia foi realizada com a presença de comissões de instituições importantes como o Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, a Academia Brasileira de Letras e a Associação Brasileira de Imprensa. O decreto também autorizava o Poder Executivo, mediante concordância da família do ex-imperador e do governo de Portugal, a trasladar para o Brasil os despojos mortais de dom Pedro II e de dona Teresa Christina (A Rua, 04/09/1920).
1921 - Chegaram no Rio de Janeiro os corpos de dom Pedro II e de dona Teresa Cristina, que estavam no Mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa. Viajaram no encouraçado São Paulo, que havia transportado do Brasil à Europa os reis da Bélgica. O conde d´Eu (1842 – 1922), seu filho, o príncipe Dom Pedro (1875 – 1940), e o barão de Muritiba (1839 – 1922) acompanharam a viagem dos despojos. A princesa Isabel não chegou a se beneficiar da revogação do banimento da família real do Brasil porque faleceu em 14/11/1921. Os corpos de dom Pedro II e de dona Teresa Cristina ficaram na Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro.
1925 – Os restos mortais dos monarcas foram para a Catedral de Petrópolis.
1939 – Em 5 de dezembro, os restos mortais do casal foram transferidos para o Mausoléu Imperial, colocados em uma capela localizada à direita da entrada da Catedral de Petrópolis, numa cerimônia na qual estava presente o presidente da República, Getúlio Vargas (1882 – 1954). O túmulo foi esculpido em mármore de Carrara pelo francês Jean Magrou (1869 – 1945) e pelo brasileiro Hildegardo Leão Veloso (1899 – 1966) (Jornal do Brasil, de 6 de dezembro de 1939).
Para a elaboração dessa cronologia, além da pesquisa em inúmeros jornais da Hemeroteca da Biblioteca Nacional, a Brasiliana Fotográfica também se valeu, principalmente, dos livros Pedro II: ser ou não ser, de José Murilo de Carvalho, e As barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos, de Lilia Moritz Schwarcz.
(Fontes: brasilianafotografica.bn.gov.br)
Paulo Grani
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