RELEMBRANDO O LAR DAS MENINAS DE CURITIBA
LEGENDA: 1. Casa Central (térreo: salas de aula e ambientes administrativos; 1.° andar: dormitórios das internas); 2. Pavilhão Médico; 3. Capela; 4. Clausura das Irmãs; 5.. Ginásio; 6. Casa-lar; 7. Refeitório, cozinha e lavanderia.
RELEMBRANDO O LAR DAS MENINAS DE CURITIBA
Pois bem, numa certa tarde lá estava eu olhando para aquele lugar interessante. O bosque tinha um conjunto de árvores, próximas umas das outras, e algumas tinham balanços onde as meninas brincavam. Meu tio Alceu, apontando uma determinada árvore disse-me ela chamar-se "Pau-de-Bugre" e, então, explicou-me que ao avistar um pau-de-bugre tínhamos que cumprimentá-lo com respeito, cumprindo certo cerimonial: "Se for durante o dia, deveríamos dizer por 3 vezes, em voz alta: 'Bom dia sr. Bugre; se à noite, 'Boa noite sr. Bugre' e, em seguida, dizer, 'o sr. nos concede a licença de passar?'. Eu, criança, fiquei impressionado e indaguei o por quê daquela reverência. Ele explicou-me que, para quem desconhecia o fato, ao passar por baixo da árvore Pau-de-Bugre, a pessoa ficava com caroços e bolhas na pele. Impressionado, questionava-me, como podia aquela árvore fazer algo, quase sobrenatural. Mais tarde, estudando, descobri que algumas pessoas possuíam reação alérgica em seu contato ou proximidade, causando reação dérmica local (bolhas, vermelhidão e coceira, que persiste por vários dias.
Mas, retomando a lembrança do "Lar das Meninas", descobri que o prédio foi inaugurado em 1954, como Lar-Escola Hermínia Lupion, instituição de acolhimento de meninas entre zero e dezoito anos, em regime de internato, que fossem abandonadas, órfãs, estivessem em situação de risco, possuíssem deficiências físicas ou mentais ou problemas de comportamento.
A instituição possuía capacidade para atender até 200 menores, embora exista relatos de ter abrigado até 300 crianças em determinados períodos. A partir de 1979, passou também a atender meninos, mas em número reduzido.
O projeto do Lar das Meninas foi elaborado no ano de 1948, assinado por Ernesto Guimarães Máximo, abrangendo um total de 11.843,36 m² de área construída. Seus pavilhões foram concebidos com funções distintas: Casa Central: salas de aula e ambientes administrativos, dormitórios das internas; Pavilhão Médico; Capela; Clausura das Irmãs;,Ginásio; Casa-lar; Refeitório; cozinha e lavanderia.
A direção administrativa da instituição era realizada por religiosas pertencentes à Congregação das Irmãs Filhas da Caridade de São Vicente de Paula e as crianças atendidas eram provenientes do Juizado de Menores e Secretaria do Trabalho e Assistência Social. As causas de internamento decorriam em geral de: Qualquer problema em casa a menina era internada como castigo; órfão bilateral; órfão unilateral; mãe ou pai, que precisava trabalhar não podendo cuidar da filha; menor internada para estudar; genitores em condições econômicas precárias precisando trabalhar; menor adolescente que apresentava problemas de comportamento; menor que havia cometido furto; menor cujos responsáveis não possuíam idoneidade moral para educá-la; abandonada pela família; apreendida pela polícia; encontrada perambulando pelas ruas; maltratada pela família; menina trazida do interior, da casa dos pais, por família que necessitava de seus serviços, não se adaptando era entregue ao Juizado de Menores ao invés de ser devolvida à sua família; com deficiência física e/ou mental; com deficiência auditiva; filhas de pais doentes (tuberculosos); epiléticas; filhas de mães solteiras.
As meninas eram divididas por faixa etária: existia o berçário, para os bebês; a creche, para crianças que não haviam atingido a idade de escolarização; no prédio central ficavam os dormitórios daquelas que possuíam entre 3 e 17 anos de idade; e na Casa Lar viviam as jovens que estavam completando 18 anos. As meninas estudavam em escolas próximas e aos finais de semana iam à missa, realizavam atividades de recreação dirigida e, algumas raras vezes, saíam para assistir espetáculos de teatro ou dança.
No bosque, podiam brincar, praticar esportes, cultivar hortas e flores. As mais velhas possuíam maior liberdade e em alguns fins de semana podiam sair sozinhas ou namorar dentro da escola. No dia a dia, auxiliavam na limpeza e manutenção da instituição e também aprendiam trabalhos manuais, como tricô, bordado, crochê, bem como tinham aulas de cabeleireiro, manicure, limpeza de pele e culinária. Após atingirem a maioridade, algumas meninas saíam noivas ou casadas; outras, contratadas para trabalhar (grande parte das vezes em casas de família); e outras ainda saíam grávidas, circunstância em que eram encaminhadas para o Lar da Mãe Solteira.
O Lar das Meninas funcionou nesta sede até fevereiro do ano de 1996, quando esta foi interditada, devido a rachaduras nos prédios. As moradoras foram transferidas para outro espaço, o Educandário das Irmãs Oblatas, no bairro Tarumã, sob protestos da Associação dos Amigos do Lar das Meninas. A decisão da mudança foi realizada durante reunião entre representantes da comunidade, da Secretaria da Criança e Assuntos da Família e do Instituto de Assistência Social do Paraná, após laudos técnicos de engenheiros da Secretaria Estadual de Obras, empresa Consultesp e Universidade Federal do Paraná. Houve grande demora na reforma, o que inquietou a comunidade e também aventou a possibilidade de o prédio servir a outra instituição, o que de fato acabou ocorrendo.
Após passarem um período de cerca de dois anos alojadas no bairro Tarumã, as internas do Lar das Meninas foram novamente trazidas para o bairro Mercês, em 1998, sob nova gestão. Porém, para seu retorno, o governo do estado construiu um novo espaço, um condomínio de Casas-Lares em terreno atrás do bosque. A criação das Casas-Lares buscava promover um contato mais individual no atendimento às crianças, proporcionando a elas um núcleo de convivência com características familiares. Em cada uma das casas, uma “mãe social” cuidava de cerca de nove crianças. [...]
(Extraído de: apjc.com.br)
Paulo Grani
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