Catarina era a esperança do Reino de Castela em 1501, ou seja, a gente tava aqui, tacando flecha, cuspindo veneno na zarabatana e eles já estavam anos luz à nossa frente decidindo o futuro de quem seria a Rainha da Inglaterra. Em 1501, Catarina de Aragão, chega triunfante e feliz, era filha de Isabel de Castela, a Rainha Católica que lutava em campo e cavalgava com sua espada arrancando cabeça dos Muçulmanos juntamente com seu marido Fernando de Aragão. Lutaram bravamente pela reconquista espanhola e foram os primeiros Reis espanhóis a investirem nas terras da América Latina e unificarem a Espanha. (Leiam no final do Post a História da Espanha)
Catarina não estava se casando de má vontade; estava feliz em cumprir o seu papel com a mãe e com o Reino de Castela. Os Tudors, que são os antepassados de Betinha, eram um Reino forte e o de Castela era mais forte ainda, então seria uma aliança que os tornaria um reino grande de aliados invencíveis. O casamento organizado da Princesa de Castela com o Príncipe de Gales era cheio de muita pompa. Colocaram, inclusive uma passarela mais alta até o altar para garantir que todos vissem o casal real; Henrique entrou majestoso de branco, ao lado de Catarina, mas o Príncipe de Gales em questão, não era Henrique e sim o seu irmão mais velho, o príncipe Arthur.
Catarina era uma jovem muito bonita para os padrões da época, pois tinha uma pele muito clara e sem marcas de doenças, o que era comum na época. Tinha os quadris largos o que para os Europeus daquele período histórico significava que seria uma boa parideira. Era bem baixinha, o que não tirava o poder da aparência mais forte do marido numa sociedade machista para mulheres submissas, o que não era o caso de Catarina, ela era mega inteligente e herdou dos pais a força para se recompor frente as batalhas da vida. Henrique logo se encantou com a cunhada mas, sabia que ali era território do irmão.
Catarina foi criada com devoção católica e aprendeu inglês e história, latim, desenho e regras de etiqueta e, desde os cinco anos, quando foi firmado o contrato que aos 16 se casaria com o Principe de Gales, ela foi criada para ser a Rainha da Inglaterra e não queria ser qualquer rainha.
Seu sonho era ser uma Rainha plena como sua mãe foi.
Catarina foi viver no Castelo de Ludlow e pode levar sua criadas espanholas para viverem com ela o que facilitou muito sua adaptação a nova vida. Ela tinha 16 anos e Arthur tinha 14 anos. Apesar dessa diferença, eles se deram super bem. Arthur era um menino doce e amava poesias e música, assim como Catarina. Naquele ano a Doença do Suor ou Doença Inglesa que acometeu toda Europa medieval era uma doença que tinha sua origem não diagnosticada pela medicina e que varreu a Inglaterra e levou a óbito mais de três milhões de pessoas, entre elas o Príncipe Arthur com apenas cinco meses de casado; quase levou Catarina também. A vida definitivamente não estava um
naquele momento. Mas... tudo ainda iria piorar!
O dia do sepultamento de Arthur foi um capítulo a parte, parece que caiu um dilúvio sobre a Inglaterra; alguns historiadores narram que a Inglaterra verteu-se em lágrimas até do céu para se despedir daquele que seria seu futuro rei. O céu escureceu de dia e acharam que o mundo ia acabar, mas era um eclipse total acontecendo.
Catarina ficou arrasada com a morte de Arthur e não sabia o que fazer, pois antes ela era a futura rainha, agora ela era uma princesa estranha na Corte e, como sua mãe não havia pago seu dote inteiro ainda, as relações diplomáticas ficaram piores. Catarina viu seu sonho de ser uma rainha plena descer morro abaixo, não estava grávida do herdeiro do trono, já havia declarado que não era mais virgem, o que tirava seu valor para casar com outro Rei.
Catarina então bolou um plano mirabolante com a sua Best Criada. Afirmaram categoricamente que o casamento de Catarina não havia sido consumado, ou seja... ela não tinha transado com Arthur, mas o seu confessor e padre sabia que tinha, mas ela afirmou que não tinha e pronto. Como o Rei adorava Catarina, decidiu então que abriria um pedido para que ela se casasse com o Filho mais novo, de onze anos, Henrique. Henrique já era grande e forte, tinha mais de 1,75 nessa idade e era muito bonito e carismático, Catarina se animou com o casamento, mas diante do impasse do casamento ter sido consumado ou não, o assunto teve que ir parar nas mãos do Papa. Ele decidiria o destino de Catarina pela primeira vez.
Dois anos depois de sua chegada, formalizaram um noivado para que se casasse em dois anos, quando Henrique completasse 14 anos. O Papa fez uma Bula Papal liberando Catarina.
Finalmente a vida na Inglaterra voltava a sorrir para Catarina.
Mas, o tabuleiro do jogo virou de novo, sua mãe morreu e seu pai não pagou o dote, estava mais preocupado em manter a Unidade do Reino de Castela que cumprir o acordo firmado pra sua filha se casar na Inglaterra afinal, ela já tinha se casado mesmo, o Rei da Inglaterra então começou a perder o interesse em Catarina, ela já não era interessante para o Reino e cancelou o noivado com a intenção de mandar Catarina de volta pra casa.
Catarina escreve diversas cartas ao pai pedindo ajuda e que cumprisse logo esse pagamento para não acabar com sua reputação, mas o caloteiro do Fernando, não pagava de jeito algum.
Catarina então foi convidada pela avó de Henrique a se retirar da Corte e ela foi morar em uma casa bem modesta, onde cozinhava e costurava e ia vendendo seus pertences pra se manter. Ela acreditava que aquilo era uma prova divina pra preparar ela para o trono e tinha esperança de seu pai resolver tal situação.
Catarina acreditava que ser Rainha da Inglaterra era seu destino revelado por Deus, mas não sabia como chegar lá sem ajuda do seu pai. O tempo estava passando e ela já estava com 21 anos e nada se resolvia.
Ela já estava desesperada.
Em 1509, seu sogro faleceu e Henrique VIII estava livre do acordo do dote com o Rei Fernando e ele já gostava de Catarina, trocava diversas cartas e estava apaixonado por ela, então por sua própria decisão escolheu-a como esposa. UFA! Oito anos depois de sua chegada, finalmente Catarina cumpria seu propósito de ser Rainha da Inglaterra.
Agora começa a parte boa?
Nananinanão.
A missão de uma rainha era dar um herdeiro ao trono e a missão de Catarina estava apenas começando.
Henrique era bonitão e mulherengo, mas Catarina estava preocupada em atender os interesses do Reino de Castela, que era unificar as nações.
Catarina engravidou quatro meses depois de casar-se o que alegrou muito ao Rei. Mas, dois meses depois Catarina sofreu um aborto espontâneo e perdeu o primeiro bebê, dois meses depois ela volta a engravidar e perde também a segunda criança, três meses depois ela engravida novamente e se retira para o campo a pedido dos médicos para se manter em repouso.
Mais uma vez sem sucesso.
Henrique começava a preocupar-se com a sequência de abortos de Catarina, mas estava declarada a Guerra a França e decidiu ausentar-se com o exército e deixou Catarina no poder como regente e ela quis mostrar ao marido que era mais que uma parideira que como a sua mãe, a Grande Rainha Isabel de Castela. Ela tinha nascido para governar ao lado do marido e assim o fez. Não esperava que seu primo James da Escócia invadisse a Inglaterra na ausência de Henrique, mas ele o fez e Catarina comandou o exército para expulsá-los e conseguiu matando mais de dez mil escoceses e entre eles o Rei James, o que elevou seu carisma junto ao povo e ainda enviou o casaco ensanguentado de James ao Rei Henrique para enaltecer ainda mais seus feitos. Ela precisava garantir que Henrique reconhecesse outras habilidades nela que a ligassem ao trono.
Eles voltam a se encontrar alguns meses depois e Catarina está grávida mais uma vez e os dois planejam uma estratégia de guerra junto ao pai de Catarina, Fernando de Aragão para atacarem a França. Seu pai os trai e se alia a França, mas Henrique oferece trégua a França quebrando o protocolo diplomático e enfurecido com o Sogro. Catarina tem mais um bebê e dessa vez é um menino, mas esse resiste algumas horas e falece deixando-a envergonhada diante da Inglaterra por não conseguir dar a ela o Herdeiro esperado.
Então vem aquela voz no pé do ouvido e ela lembra das palavras do Padre com quem havia se confessado depois da morte se Arthur, que lhe lembrou as palavras da Bíblia:
" E se tomares a mulher do seu irmão... imundicia é; terás descoberto a nudez do seu irmão e sem filhos ficarão"
Mas... a profecia bíblica falhou e no ano seguinte em 1515, Catarina engravidou novamente e em fevereiro de 1516 deu a luz uma menina. Aos olhos do Catarina era uma esperança que ainda poderiam ter um menino herdeiro e aos olhos do Henrique não significava nada. E pior ainda, durante a gravidez o pai de Catarina morreu e sua irmã louca de pedra, Joana, assumiu ao lado do marido Felipe II, que era avô de Felipe, o Belo, que lembrava o Fábio Jr, enfim, ela nem ficou sabendo da morte do Pai, mas o Reino de Castela passou a ser ninguém na fila do pão, uma vez que Henrique casou sua jovem irmã Maria com o Rei da França e aliados se tornaram muito mais fortes que a Inglaterra com a Espanha. Sem a força da Rainha Isabel de Castela e de Fernando de Aragão o Reino de Castela ia de mal a pior. Mas enfim...
No ano seguinte adivinhem quem engravidou de novo? Ela mesmo, e quem perdeu de novo? Ela mesmo ... e quem engravidou mais uma vez? Acertou quem respondeu Catarina e quem perdeu o bebê alguns dias depois? Mais uma vez, a coitada da Catarina . Aos 30 anos de idade, Catarina já era considerada velha pra engravidar, bem cheinha nos padrões da época e Henrique perdeu assim as esperanças de ter um filho... e o pobrezinho e bonzinho do Henrique, ele pensou: "O que fazer com uma rainha infértil? Ela é gente boa, transa legal, concebe, mas o pai já me deu um calote no inicio, dez anos de casados e só me deu uma filha que não serve pra nada. Assim o gordinho gostoso comedor da Inglaterra começa a pensar em Feminicídio, algo bem corriqueiro na época. Ele não podia dizer que ela era Bruxa e queimar no tribunal da inquisição, pois além de muito católica casou-se com a benção do papa o que daria uma treta danada. Catarina não engravida mais e cria Mary the Queen, brilhantemente pra ser forte e governar a Inglaterra, mas, a Inglaterra nunca esteve nas mãos de uma mulher, salvo durante a regência de Catarina e Henrique não curtiu a ideia e resolveu que não iria compartilhar. Então ele começou a procurar um meio legal de anular seu casamento com Catarina e aquela passagem bíblica começou a martelar nas ideias de Henrique que procurou a autoridade eclesiástica pra dizer que havia escondido que Catarina não era mais virgem quando se casaram. Já estávamos no ano de 1527, a Rainha já estava com quase quarenta anos e considerada idosa e praticamente há quatro anos o Rei não procurava a Rainha, pois na Corte já vivia aquela por quem ele estava apaixonadíssimo que seria nossa primeira personalidade do ano, mas eu decidi integrar vocês a Henrique primeiro, enfim... Ana Bolena, a amante que seria mãe da maior Rainha que a Inglaterra já teve, quem é fã de Betinha sabe que eu não estou falando da boca pra fora, mas voltando a Henrique que buscava uma solução, pois queria uma jovem esposa, um Herdeiro, era Rei e não podia fazer nada.
A França tinha um Primeiro Ministro muito ambicioso e que tinha mais interesse em Henrique com Ana do que com Catarina, então ele incentivou Henrique a levar o pedido de anulação do casamento ao tribunal eclesiástico e Henrique o fez. Os padres se reuniram por dez dias e acharam que o Papa poderia se sentir insultado por ter dado o "ok" pro casamento, então eles lavaram as mãos e mandaram Henrique ir direto ao Papa, eles não poderiam ajudar ele a trocar se esposa. Catarina coitada, depois de tanta perda emocional e desgaste físico ainda teve que aturar mais essa, pois o embaixador da Espanha na boca miúda batia tudo pra ela.
Henrique já tinha tido um caso com a irmã de Ana, Maria Bolena, mas essa seduziu o Rei e pá, o cara estava mesmo de quatro pela morena, que queria, porque queria, ser Rainha e fazia greve de sexo pra conseguir o seu objetivo.
Henrique convida Catarina a se retirar da corte e manter o assunto em segredo, mas ela decide que não ia sair da corte, já tinha comido o pão que o diabo amassou mesmo, ligou o fod... -se e pediu ajuda ao sobrinho Carlos V , filho da sua irmã "pirada" Joana, mas enfim, Catarina pediu ajuda a Carlos V que já era um dos Imperadores mais poderosos da Europa, imperador do Sacro- Império Germânico, da Espanha , do cantinho dos países baixos enfim, a divisão geográfica ainda era a maior doideira, mas Carlos era poderoso e já tinha sido prometido em casamento a Mary "the Queen", a filha de Catarina.
O Papa manda um Clérigo para representá-lo de nome Campeggio, Catarina teria se confessado com ele e jura que casou-se com Henrique virgem, não se sabe até hoje se é verdade ou não, pois alguns documentos afirmam que ela havia consumado o casamento com Arthur, mas quando a cabeça tá pra rolo, uma mentiria até Deus perdoa. Ele ficou ao lado dela e não quis cancelar o casamento, não desistindo, Henrique e o Ministro francês pedem um julgamento público, expondo a Catarina ao ridículo, mas... ela foi lá e fez o maior dramalhão, coisa de capricorniana que não aceita perder e na frente de todo mundo deu um show de interpretação, encurralando Henrique que seria no mínimo impiedoso frente ao Júri se não mantivesse o casamento de 20 anos. Enfim, Campeggio queria ganhar tempo, pois estava se aproximando o Outono e poderia suspender aquela palhaçada por alguns meses e conseguiu; ele estava mesmo do lado dela.
Então Catarina conseguiu o que queria, seu caso teve que ir parar em Roma e ela ganhou tempo. Em compensação, Henrique não se conformava, pois achava que não tinha aquele tempo e queria de qualquer jeito um herdeiro legítimo para o trono - pense em uma peste atrasando sua vida? Assim foi Henrique pra Catarina. Cortou as visitas da filha, mandou as criadas espanholas irem dançar Flamenco e tocar castanholas, colocou ela encarcerada, foi embora da Corte com a amante, exigiu a devolução das joias, tudo pra Catarina aceitar o divórcio, mas ela não aceitava. Por fim, ele decidiu que se a Igreja não aceitava o casamento com Ana, ele não aceitava as ordens da Igreja e levava a questão ao público. Quem mandava mais? O Papa ou o Rei? Ele rompeu com a Igreja Católica e criou a Anglicana onde ele era a autoridade máxima. Casou-se com a amante e disse que não queria mais ler nem uma carta de Catarina que morreu alguns anos depois com cinquenta anos de idade, vivendo como uma freira enclausurada, sem dinheiro e afastada da única filha.
Muitos diziam que morreu de desgosto, mas a necropsia depois confirmou que ela tinha um Tumor raro no coração se enraizando para outros órgãos.
Catarina foi uma mulher forte e determinada, infelizmente caiu nas mãos de um Henrique vaidoso e egóico, o que era comum na época, não pecando pelo anacronismo, matar mulher era coisa básica, mas ele foi o campeão da Treta real.
Catarina no fim dos seus dias era chamada de " A princesa viúva" a mando de Henrique como se pudessem apagar seu tempo de vinte e dois anos como rainha, e assim foi sepultada, mas no século XVIII, tendo sua respeitabilidade restaurada, em seu túmulo recebeu em letras de ouro: kAtherine the QUEEN OF England! Em 7 de janeiro de 1536, com câncer comprovado no século XIX, despediu-se de uma vida cheia de injustiças aquela que foi uma grande e injustiçada Rainha.
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