Eduardo Fernando Chaves: Construtor, Fiscal e Administrador
Denominação inicial: Projecto de uma casa para o Snr. Casemiro Mitzuck
Denominação atual:
Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Médio Porte
Endereço: Rua Brigadeiro Franco
Número de pavimentos: 2
Área do pavimento: 270,00 m²
Área Total: 270,00 m²
Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos
Data do Projeto Arquitetônico: 09/07/1934
Alvará de Construção: N° 658/1934
Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de residência, Alvará de Construção e fotografia do imóvel.
Situação em 2012: Existente
Imagens
1 - Projeto Arquitetônico da fachada do imóvel.
2 – Planta dos pisos térreo e superior.
3 – Planta do muro.
4 - Alvará de Construção.
5 – Fotografia do imóvel em 2012.
Referências:
1, 2 e 3 - CHAVES, Eduardo Fernando. Projecto de uma casa para o Snr. Casemiro Mitzuck. Planta da fachada com corte e implantação; planta dos pisos térreo e superior e garagem; planta de muro, representados em três pranchas. Microfilme digitalizado.
4 – Alvará nº 658
5 – Fotografia de Elizabeth Amorim de Castro (2012).
1 - Projeto Arquitetônico da fachada do imóvel.
2 – Planta dos pisos térreo e superior.
3 – Planta do muro.
4 - Alvará de Construção.
4 - Alvará de Construção.
4 - Alvará de Construção.
4 - Alvará de Construção.
5 – Fotografia do imóvel em 2012.
Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.
A Casa do Sr. Casemiro Mitzuck: Uma Residência de Meados do Século XX e o Legado do Construtor Eduardo Fernando Chaves
Rua Brigadeiro Franco, Curitiba — 1934
Na paisagem urbana de Curitiba, entre sobrados discretos e edificações históricas do centro, ergue-se — ainda em 2012 e provavelmente até hoje — uma residência de médio porte que guarda, em sua alvenaria de tijolos e traçado simétrico, a memória de um homem comum e de um profissional extraordinário. Trata-se da casa projetada para o Sr. Casemiro Mitzuck, um morador cujo nome talvez tenha desaparecido da vida pública, mas cujo lar permanece como testemunho de uma época em que arquitetura, construção e administração caminhavam lado a lado com rigor técnico e sensibilidade urbana.
O projeto, datado de 9 de julho de 1934, foi concebido por Eduardo Fernando Chaves, figura multifacetada que atuou não apenas como arquiteto ou projetista, mas também como construtor, fiscal de obras e administrador público — um “faz-tudo” da engenharia civil curitibana da primeira metade do século XX, cuja assinatura aparece em diversos alvarás, plantas e registros municipais da época.
O Morador: Casemiro Mitzuck, cidadão e proprietário
Embora os arquivos públicos não revelem muitos detalhes sobre a vida pessoal de Casemiro Mitzuck, seu nome está indissociavelmente ligado a esta residência na Rua Brigadeiro Franco, uma das vias mais tradicionais do centro de Curitiba, historicamente habitada por comerciantes, servidores públicos e profissionais liberais.
Ao encomendar, em 1934, uma casa de dois pavimentos com área total de 270 m², Mitzuck demonstrava estabilidade econômica e aspiração por um lar moderno, funcional e digno. A escolha de um projeto vertical — incomum para residências de classe média na época — sugere uma preocupação com o uso racional do terreno urbano, já então valorizado.
Mais do que um simples cliente, Mitzuck foi o destinatário de um projeto cuidadosamente elaborado, com fachada equilibrada, planta distribuída em dois níveis e até um muro delimitador projetado — detalhe que revela atenção ao conjunto arquitetônico e à integração com o espaço público.
A Casa: Simplicidade com dignidade
Construída em alvenaria de tijolos, técnica predominante na Curitiba da década de 1930, a residência segue os princípios da arquitetura residencial urbana do período:
- Planta clara e funcional, com setores bem definidos (social, íntimo e de serviço);
- Dois pavimentos, otimizando o uso do lote;
- Fachada ordenada, com janelas alinhadas e proporções clássicas, refletindo o gosto eclético ainda presente na cidade antes da chegada plena do modernismo;
- Garagem integrada, um indício de modernidade para a época — afinal, o automóvel começava a se popularizar entre as elites e a classe média alta.
O projeto, dividido em três pranchas originais, inclui:
- Fachada com corte e implantação — mostrando como a casa dialoga com a rua e com os recuos obrigatórios;
- Plantas do térreo e pavimento superior — revelando distribuição de salas, quartos, cozinha, banheiros e área de serviço;
- Planta do muro — detalhe frequentemente negligenciado, mas essencial para a privacidade e identidade do lote urbano.
O Alvará de Construção nº 658/1934, emitido pelo município, atesta a regularidade da obra e a supervisão técnica da época — e é justamente aí que entra a figura central deste relato.
Eduardo Fernando Chaves: O construtor por trás do traço
Mais do que o autor do projeto, Eduardo Fernando Chaves personifica o perfil profissional típico da Curitiba entre as décadas de 1920 e 1950: um técnico versátil, capaz de desenhar, fiscalizar, administrar e construir. Em muitos casos, esses profissionais — frequentemente formados em escolas técnicas ou aprendizes de mestres-de-obra — assumiam múltiplas funções, garantindo coesão entre o desenho e a execução.
Chaves não era apenas um “desenhista de plantas”. Era, muito provavelmente, o fiscal da obra, o interlocutor junto à prefeitura e talvez até o responsável direto pela construção. Sua assinatura nos documentos municipais revela um homem comprometido com a normatização urbana, a segurança das edificações e a dignidade do espaço doméstico.
Seu legado está espalhado por dezenas de imóveis registrados no Arquivo Público Municipal de Curitiba, muitos deles modestos, mas sempre bem resolvidos — casas feitas para viver, não apenas para exibir.
Patrimônio vivo: A casa em 2012 e seu significado hoje
Em 2012, a residência ainda existia, conforme registrado pela fotógrafa Elizabeth Amorim de Castro, cuja imagem integra o acervo da Prefeitura Municipal de Curitiba. A fotografia mostra uma fachada preservada, com mínimas alterações — testemunho da qualidade da construção original e do respeito dos moradores subsequentes.
Embora não classificada como bem tombado, a casa do Sr. Casemiro Mitzuck é um fragmento valioso da memória construída de Curitiba. Representa:
- A arquitetura residencial burguesa dos anos 1930;
- A transição entre o ecletismo e o racionalismo;
- O papel dos técnicos locais na formação da cidade;
- E, sobretudo, a vida comum elevada à dignidade por meio de um bom projeto.
Conclusão: Mais que tijolos e plantas
A casa na Rua Brigadeiro Franco não é um palácio, nem um marco arquitetônico de vanguarda. Mas é, de forma silenciosa e persistente, um monumento à classe média curitibana, ao trabalho técnico sério e à crença de que toda família merece um lar bem feito.
Eduardo Fernando Chaves, ao projetá-la, não buscava fama — buscava solidez.
Casemiro Mitzuck, ao habitá-la, não buscava luxo — buscava abrigo, estabilidade e futuro.
Hoje, ao olharmos para essa residência, vemos mais que paredes: vemos a cidade que se fez, tijolo por tijolo, por homens anônimos que acreditaram no valor de construir bem.
"Grandes cidades não nascem de gestos heroicos, mas de milhares de casas bem feitas — cada uma delas, um ato de esperança."








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