quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Curitiba em 1954: Casamentos, Cultura e Cotidiano da Elite Paranaense

 

Curitiba em 1954: Casamentos, Cultura e Cotidiano da Elite Paranaense



Curitiba em 1954: Casamentos, Cultura e Cotidiano da Elite Paranaense

Este documento, datado de 1954, oferece um retrato vívido da vida social, cultural e comercial de Curitiba na década de 1950. Com foco nos casamentos das famílias mais proeminentes da época, anúncios de produtos modernos, serviços médicos especializados e manifestações artísticas, as páginas revelam os valores, hábitos e estética da elite paranaense daquele período. A linguagem formal, as tipografias elegantes e as ilustrações delicadas são testemunhos fiéis do estilo de vida e da hierarquia social vigentes em 1954.

A seguir, apresentamos uma análise minuciosa de cada página, descrevendo todos os elementos visuais, textuais e contextuais, sem qualquer omissão.


Página 1: “A mais bela festa do mês” — O Enlace Dalcanaie - Bornhausen

Cabeçalho:

  • Em fonte cursiva e tamanho maior, no canto superior esquerdo, lê-se: “A mais bela festa do mês”.
  • À direita, alinhado verticalmente ao centro, o subtítulo: “Enlace Dalcanaie - Bornhausen”.

Imagem Central:

  • Uma fotografia em preto e branco, centralizada e enquadrada por linhas verticais finas que descem dos cantos superiores, retrata o casal recém-casado:
    • A noiva: veste um vestido longo branco, com véu e buquê de flores, olhando para a câmera com expressão serena.
    • O noivo: à sua direita, veste terno escuro e sorri levemente.
    • Ao fundo, figuras indistintas sugerem a presença de convidados ou familiares, indicando que a foto foi tirada durante a cerimônia ou recepção.

Decoração:

  • No canto inferior esquerdo: um grupo de estrelas de cinco pontas, dispostas diagonalmente, criando um efeito decorativo leve e festivo.
  • No canto inferior direito: um desenho de plantas altas, possivelmente capim ou caniços, com folhas finas e alongadas, adicionando um toque naturalista ao layout.

Texto Inferior (Legenda da Foto):

“Realizou-se no dia 4 de fevereiro, nesta Capital, o enlace matrimonial da sra. Ivete Florencia Esquier Dalcanaie, filha do industrial Alberto Dalcanaie e de sua exma. esposa, sra. Januária Esquier Dalcanaie, com o dr. Pedro Knoder Bornhausen, filho do dr. Ernani Bornhausen, digno Governador do Estado de Santa Catarina, e de sua exma. esposa, sra. Maria Knoder Bornhausen.”

Observação histórica: O casamento une duas famílias influentes — os Dalcanaie, ligados à indústria, e os Bornhausen, com forte presença política (o pai do noivo era governador de Santa Catarina). Isso reforça o caráter de evento social de alto nível.


Página 2: Anúncios, Cultura e Poema — O Mundo de 1954

Esta página é composta por diversos blocos de anúncios comerciais e institucionais, além de um poema, refletindo a diversidade de interesses da sociedade curitibana em 1954.

Bloco Superior Esquerdo: “Marisa Rachel”

  • Título em negrito: “Marisa Rachel”.
  • Imagem: Retrato em preto e branco de uma jovem mulher (Marisa Rachel) de perfil, olhando para a direita, com penteado elegante e expressão delicada.
  • Texto:

    “Esta aparência figurativa e Marisa Rachel, filhinha do sr. Bernardo Peres e da sra. Rosa Peres, foi, na Rua Chico Menezes, presenteada com um presente alusivo ao teatral, que o Grupo Curitibano ofereceu à sua sociedade.” “Marisa Rachel é uma promissora atriz de ‘ballet’, tendo sido destacada atuação no teatral, que o Grupo Curitibano ofereceu à sua sociedade.”

Contexto: Revela a importância do teatro e das artes cênicas na vida social. O fato de ser “presenteada” e “destacada” indica seu papel como figura pública jovem e talentosa.


Bloco Superior Direito: “Casa de Saúde N. Sra. da Glória”

  • Título principal: “CASA DE SAÚDE N. SRA. DA GLÓRIA CLÍNICA NEUROPSIQUIÁTRICA”.
  • Subtítulo: “DIREÇÃO”.
  • Responsáveis: “PROF. OTAVIO DA SILVEIRA, DRs. ARNALDO GILBERTI — LACERDA MANNA — SEVERO ALMEIDA”.
  • Serviços oferecidos:

    “Instalações modernas para diagnósticos, tratamento e assistência das afecções nervosas e mentais, alienações e endocrinopatias. Eletroterapia — Insulina — Malária — Choques — Narcanização — Psicoterapia — Repouso.”

  • Informações de contato:

    “SUPERVISÃO MÉDICA PERMANENTE AVENIDA MUNHOZ DA ROCHA, 1317 FONE 3002 — POR TELEF. ‘POKALTES’ A pedido, restantes informações ilustradas.”

Contexto médico: Reflete a medicina da época, com práticas hoje consideradas obsoletas (como terapia de choque e malária), mas que eram padrão em clínicas psiquiátricas de prestígio.


Bloco Central Esquerdo: “TEMOS PARA PRONTA ENTREGA”

  • Título em letras maiúsculas e negrito.
  • Produtos listados:

    “Máquinas Somadoras Alemanas ‘EVENIMENTALL’, elétricas, saldo negativo, capacidade 99 999 999” “Máquinas Holandesas portáteis ‘HALBERG’” “Máquinas Semi-portáteis Tchecas ‘ZETA’ tabular e margaridado automático.”

  • Linha separadora.
  • Título: “VENTILADORES Nacionais e Estrangeiros”
  • Linha separadora.
  • Título: “FIXOS e GIRATÓRIOS”
  • Linha separadora.
  • Título: “VENDAS A VISTA E PELO CREDIÁRIO”
  • Endereço e contato:

    “Importadora Americana PRACA TIRADENTES, 327 FONE, 6322 CURITIBA”

Contexto comercial: Mostra a importação de tecnologia europeia (Alemanha, Holanda, Tchecoslováquia) e a popularização de equipamentos domésticos e de escritório, como ventiladores e máquinas somadoras — símbolos de modernidade e status.


Bloco Central Direito: “Poema para um menino de cole”

  • Título em itálico: “Poema para um menino de cole”.
  • Autor: “Luis Osório”.
  • Poema completo:

    “Menino que está no colo,
    em que guerra lutará?
    Longe é dez, vinte anos!
    Quantos menos, quantos mais?
    O mundo é imenso Guerra
    com intervalos de Paz!
    — Menino que está no colo,
    em que Guerra lutará?
    Defenderás outra terra
    ou a terra dos teus pais?
    Qual será tua cruzada?
    Quais serão teus Ideais?
    — Menino que está no colo,
    em que Guerra lutará?
    Tu voltarás um inválido?
    Será tu cultura?
    — Menino que está no colo,
    em que Guerra lutará?...”

Contexto cultural: Escrito em um tom melancólico e profético, o poema reflete as inquietações da época pós-Segunda Guerra Mundial, com o medo da guerra fria e do futuro incerto para as novas gerações. A linguagem arcaica (“exma.”, “tu”) é típica da poesia brasileira da década de 1950.


Bloco Inferior Esquerdo: Anúncio da “Aquacor Relinado”

  • Logotipo: Silhueta de uma mulher correndo, com o nome “DIANA” abaixo.
  • Texto complementar: “Extra para Suplemento Vulcano” (nota: este trecho pode ser parte do cabeçalho do jornal original, mas não faz parte do conteúdo do anúncio em si).
  • Contatos:

    “Rua Visconde de Guarapuava 53/4 Cx postal 41 - Fone 1157 Telegs. ROMANI CURITIBA - PARANÁ”


Bloco Inferior Direito: Anúncio da “Emilio Romani Socia”

  • Título: “EMILIO ROMANI SOCIA”.
  • Endereço: “RUA VISCONDE DE GUARAPUAVA 53/4”.
  • Contatos: “Cx postal 41 - Fone 1157”, “Telegs. ROMANI CURITIBA - PARANÁ”.

Observação: Ambos os anúncios inferiores parecem pertencer à mesma empresa ou grupo, provavelmente uma loja de artigos para casa ou moda, dado o logotipo “Diana Extra” e o nome “Romani”, que aparece nos dois contatos.


Página 3: “Dê o melhor presente!” — Anúncio da Philco

Esta página é dominada por um grande anúncio publicitário da marca Philco, típico da propaganda de consumo dos anos 1950.

Cabeçalho:

  • Em letras grandes e estilizadas: “Dê o melhor presente!”

Ilustração:

  • Desenho em preto e branco de uma mulher elegante, de vestido longo e cabelos presos, admirando um aparelho de rádio Philco. Ela está em pé, com a mão sobre o peito, num gesto de admiração ou surpresa.
  • O rádio, modelo Philco Tropic 3558, é mostrado em destaque, com design retangular, grade frontal e botões redondos.

Texto descritivo:

“Assim, com este conceito definitivo sobre o valor excepcional, nos comparamos com o presente máximo de qualidade, de forma tal de ofertar o magnífico PHILCO. Agora os demais modelos desta magnífica e nova marca PHILCO, realmente nova e moderna, oferecendo-lhe uma demonstração em nosso lar.”

Descrição técnica do produto:

“ELETROLA PHILCO TROPIC 3558. Nova modelo se conserva em toda a plenitude e estilo ‘volume’ PHILCO de Salas de Concertos. Alto falante de 12 polegadas. 8 potentes válvulas com rendimento de 11x9 horas amplificadas cobrindo desde 140 KC a 15 MC. Toque automaticamente discos de 78, 45 e 33 1/3 RPM. Conforto e velocidade nos dois dias de uso. Interrompe de música sem que a caixa se automática.”

Rodapé:

  • Em letras maiúsculas e negrito: “PHILCO — De fama Mundial em Qualidade”.
  • Chamada de atenção: “Compare e julgue...”.
  • Nome da revendedora: “HERMES MACEDO S.A.”.
  • Endereços: “CURITIBA — Rua Barão do Rio Branco, 660 — Fone 3002” e “LONDRINA — Maringá”.

Contexto histórico: O anúncio reflete a ascensão do consumismo no Brasil pós-guerra. A eletrola Philco era um símbolo de modernidade e status familiar. A linguagem emocional (“Dê o melhor presente!”) e o apelo à emoção (“magnífico”, “novo e moderno”) são características da publicidade da época.


Página 4: O Enlace Marlene Tourinho — Omar Zarde Bitetz

Esta página documenta outro casamento importante da sociedade curitibana em 1954.

Cabeçalho:

  • Título em fonte cursiva: “Enlace”.
  • Nomes dos noivos em destaque: “Marlene Tourinho” e “Omar Zarde Bitetz”.

Imagem Principal:

  • Fotografia em preto e branco de uma noiva em seu vestido de casamento, vista de costas, caminhando em direção a um altar ou local de cerimônia.
    • O vestido é longo, branco, com cauda volumosa e véu.
    • O ambiente sugere uma igreja ou salão de eventos, com cortinas pesadas e decoração clássica.

Texto à esquerda da imagem:

“A graciosa noiva solteira, referida no ritual de grande esplendor, a sua belíssima trajetória nupcial ‘louvreux’ de tecido ‘gazeuse’, capa de cetim forrando cravado, coberta por um véu de tule. Nos mãos, ramo de rosas de jardim.”

Nota: O texto descreve com riqueza de detalhes o traje da noiva, enfatizando o luxo e o cuidado com a estética — típico dos relatórios de casamentos da imprensa social da época.

Imagem Inferior:

  • Pequena foto em preto e branco de um momento da cerimônia: o noivo, em terno escuro, beija a mão da noiva, enquanto outras pessoas observam ao fundo.

Texto à direita da imagem inferior:

“Os noivos, os srs. Ney Tourinho e sra. Haydee Correa Tourinho, observados e acompanhados pelo dr. Ney Tourinho, do Instituto de Medicina Civil, no ato que foi realizado, em caráter íntimo, no residencial dos pais da noiva.”

Texto à direita da imagem principal:

“O dr. Ney Tourinho e sra. Haydee Correa Tourinho e o sr. Inocêncio Zarde Bitetz e sra. Irene Zarde Bitetz, convidaram os mais distinguidos ícones da sociedade curitibana para o grande acontecimento social que foi a realização do enlace matrimonial de seus filhos, Marlene Tourinho e Omar Zarde Bitetz, uniram suas vidas, pelos sagrados laços do matrimônio, no dia 12 de maio de março.”

Correção textual: Há um erro evidente no texto — “no dia 12 de maio de março”. Provavelmente, trata-se de um erro de digitação ou impressão, e o correto seria “12 de março” ou “12 de maio”. Dado o contexto, “12 de março” parece mais plausível, já que o casamento anterior (Dalcanaie-Bornhausen) ocorreu em fevereiro.


Página 5: O Enlace Franco Chaves — Moniz de Aragão

Esta página registra um terceiro casamento de destaque em 1954.

Cabeçalho Vertical:

  • À esquerda: “FRANCO CHAVES”.
  • À direita: “MONIZ DE ARAGÃO”.

Imagem Central:

  • Fotografia em preto e branco, enquadrada por linhas tracejadas, retrata o casal noivo:
    • A noiva, Moniz de Aragão, veste vestido branco com véu e buquê.
    • O noivo, Franco Chaves, está ao seu lado, em terno escuro.
    • Ao fundo, pessoas e possivelmente um altar ou decoração de igreja.

Legenda abaixo da foto:

“O jovem par ao deixar o Templo de S. Teresinha”

Texto à esquerda da foto:

“Foi acontecimento dos mais gratos para a sociedade a realização, no dia 24 de fevereiro último, do casamento da sra. Isabel Franco Chaves com o dr. Egna Divino Moniz de Aragão. A jovem noiva, pertencente a tradicional família paranaense, é filha do dr. Gastão Chaves, e o noivo, distinto advogado militante no fórum de Santa Catarina, é filho do ilustre jurista dr. Antônio Moniz de Aragão e de sua exma. esposa, sra. Marília Moniz de Aragão.”

Texto à direita da foto:

“Os noivos no salão de honra das alianças pelo Monsenhor Montezini”

Imagem Inferior:

  • Foto menor, em preto e branco, mostrando o casal trocando alianças, sob a supervisão de um sacerdote (provavelmente o Monsenhor Montezini mencionado).

Conclusão

As páginas analisadas oferecem um retrato rico e multifacetado da Curitiba de 1954. Elas capturam:

  • A vida social elitista, centrada em casamentos entre famílias de renome, com descrições minuciosas dos trajes, locais e convidados.
  • O avanço tecnológico e o consumo, representado pelos anúncios de eletrodomésticos (Philco), máquinas de escritório e serviços médicos modernos.
  • A sensibilidade cultural, evidenciada pelo poema de Luís Osório, que reflete as ansiedades da época, e pela menção a artistas como Marisa Rachel.
  • A estética da imprensa social, com tipografias variadas, ilustrações delicadas e uma linguagem formal que valoriza o protocolo e o status.

Juntas, essas páginas não são apenas registros de eventos, mas documentos históricos que nos permitem compreender os valores, aspirações e contradições da sociedade paranaense na metade do século XX.
















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