segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

O Bangalô de Othelo Lopes na Alameda Cabral: Elegância Efêmera de uma Curitiba em Transformação

 Eduardo Fernando Chaves:  Arquiteto

Denominação inicial: Projeto de Bungalow para o Snr. Othelo Lopes

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Pequeno Porte

Endereço: Alameda Cabral

Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 110,00 m²
Área Total: 110,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos

Data do Projeto Arquitetônico: 06/07/1934

Alvará de Construção: Nº 653/1934

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de bangalô e Alvará de Construção.

Situação em 2012: Demolido


Imagens

1 – Projeto Arquitetônico.
2 – Alvará de Construção.

Referências: 

CHAVES, Eduardo Fernandes. Projéto de Bungalow na Allameda Cabral para o Snr. Othelo Lopes. Planta do pavimento térreo e implantação; corte e fachada frontal apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
2 - Alvará n.º 653

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.

O Bangalô de Othelo Lopes na Alameda Cabral: Elegância Efêmera de uma Curitiba em Transformação


No auge dos anos 1930, quando Curitiba despontava como uma das cidades mais modernas do sul do Brasil, surgiu na Alameda Cabral — uma das vias mais arborizadas e prestigiadas do bairro Alto da Glória — um projeto residencial que refletia o gosto burguês pela simplicidade sofisticada: o bangalô de Othelo Lopes, projetado pelo arquiteto Eduardo Fernando Chaves.

Registrado em 6 de julho de 1934, o projeto apresentava uma residência de 110 m², construída em alvenaria de tijolos, com um único pavimento, mas com proporções generosas para os padrões da época. Mais do que uma casa, era um símbolo de estabilidade, gosto e pertencimento a uma classe média ascendente que enxergava na moradia própria não apenas um abrigo, mas uma declaração de identidade.


Othelo Lopes: O Morador Invisível

Quase nada se sabe sobre Othelo Lopes além de seu nome e do endereço onde decidiu construir seu lar. Não há registros públicos que revelem sua profissão, origem familiar ou trajetória pessoal. O nome “Othelo” — incomum no contexto brasileiro da época — sugere possivelmente uma influência literária ou até familiaridade com o teatro (em alusão à tragédia de Shakespeare), ou talvez uma homenagem familiar de raiz ítalo-lusitana, comum entre imigrantes e seus descendentes em Curitiba.

Independentemente de sua história pessoal, o fato de ter encomendado um projeto a Eduardo Fernando Chaves, um dos profissionais mais respeitados da engenharia curitibana, indica que Othelo Lopes era um homem de certo discernimento estético e capacidade financeira. Ele não queria apenas uma casa: queria uma casa bem-feita, pensada, desenhada com equilíbrio entre funcionalidade e beleza.


O Projeto: Bangalô com Presença Urbana

Com 110 m² distribuídos em um único pavimento, o bangalô projetado para Othelo Lopes era maior que a média dos bungalows da época — muitos deles tinham entre 60 e 90 m². Sua construção em alvenaria de tijolos (e não em madeira, como era comum em residências econômicas) revelava intenção de durabilidade, conforto térmico e status social.

O projeto, conservado em microfilme no Arquivo Público Municipal de Curitiba, incluía, em uma única prancha, planta do pavimento térreo, implantação no terreno, corte e fachada frontal. Embora não se tenham detalhes ornamentais extravagantes — em linha com o estilo modernizador e funcional dos anos 1930 —, a composição da fachada demonstrava cuidado com a simetria, a hierarquia dos vãos e a integração com o espaço externo, provavelmente com um pequeno jardim frontal e um alpendre lateral, elementos típicos do modelo bangalô.

O alvará de construção, de número 653/1934, foi emitido poucos dias após o projeto, sinalizando agilidade administrativa e o interesse da prefeitura em regular e fomentar a urbanização de áreas nobres como a Alameda Cabral, já então conhecida por sua beleza paisagística e concentração de residências de classe média alta.


O Desaparecimento

Apesar de sua localização privilegiada e da solidez do projeto, o bangalô de Othelo Lopes foi demolido, segundo levantamento realizado em 2012. A Alameda Cabral, ao longo das décadas, viu muitas de suas casas originais cederem lugar a edifícios residenciais, escritórios ou reformas radicais que apagaram suas características históricas.

A demolição dessa residência é mais do que a perda de uma construção: é o apagamento de uma camada da identidade urbana de Curitiba — aquela que valorizava a escala humana, a vegetação, a luz natural e a presença de moradores reais, com nomes, sonhos e rotinas.


Eduardo Fernando Chaves: O Arquiteto da Cidade que Ainda Respirava

Mais uma vez, Eduardo Fernando Chaves revela sua versatilidade ao equilibrar simplicidade e distinção. Seu bangalô para Othelo Lopes não era palaciano, mas era digno, sólido, habitável — uma arquitetura que servia à vida, não ao espetáculo. Chaves, que atuava simultaneamente como arquiteto, construtor, fiscal e administrador, entendia que cada casa, por menor que fosse, era um mundo para quem nela habitava.


Legado em Linhas e Silêncio

Hoje, a única testemunha da existência do bangalô de Othelo Lopes é o microfilme do Arquivo Público Municipal de Curitiba, onde as linhas traçadas por Chaves ainda conservam a memória de uma casa que já não existe fisicamente, mas que existiu de verdade: nela, alguém acordou, cozinhou, amou, discutiu, criou filhos, olhou o jardim e escutou o vento nas árvores da Alameda Cabral.

Othelo Lopes pode ter desaparecido da história oficial, mas sua casa — ainda que demolida — permanece como testemunho de uma Curitiba que valorizava o lar como espaço de pertencimento.

E, enquanto houver quem leia os arquivos, seu nome não será esquecido.


“As cidades se transformam, mas os sonhos que nelas habitaram merecem ser lembrados — mesmo que só em papel.”


Fontes:

  1. CHAVES, Eduardo Fernando. Projéto de Bungalow na Allameda Cabral para o Snr. Othelo Lopes. Arquivo Público Municipal de Curitiba (Microfilme digitalizado).
  2. Alvará de Construção nº 653/1934. Acervo da Prefeitura Municipal de Curitiba.


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