Eduardo Fernando Chaves: Projetista
Denominação inicial: Projecto para um Bungalowsinho para o Snr. Manuel Pereira na Villa Lustosa
Denominação atual:
Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência Econômica
Endereço: Villa Lustosa
Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 42,00 m²
Área Total: 42,00 m²
Técnica/Material Construtivo: Madeira
Data do Projeto Arquitetônico: 17/01/1927
Alvará de Construção: Talão Nº 51; Nº 5579/1927
Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de um bangalô.
Situação em 2012: Demolido
Imagens
1 - Projeto Arquitetônico.
Referências:
1 - GASTÃO CHAVES & CIA. Projecto de bungalowsinho para o Snr. Manuel Pereira na Villa Lustosa. Plantas do pavimento térreo e de implantação, corte e fachada frontal apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
1 - Projeto Arquitetônico.
Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba.
O “Bungalowsinho” de Manuel Pereira: Uma Morada Humilde na Villa Lustosa
Em 17 de janeiro de 1927, no escritório de Gastão Chaves & Cia., em Curitiba, foi finalizado um projeto modesto, mas carregado de significado social: o “Projecto para um Bungalowsinho para o Snr. Manuel Pereira na Villa Lustosa”. Com apenas 42 metros quadrados, construído em madeira e erguido em um único pavimento, esse pequeno bangalô encarnava o sonho de moradia digna para uma parcela da população que, na Curitiba dos anos 1920, lutava por um espaço próprio em meio à expansão urbana.
Quem era Manuel Pereira? Um nome comum, talvez um operário, um empregado doméstico, um pequeno comerciante — alguém cuja história não foi registrada nos jornais ou nos anais da elite, mas cuja existência deixou um traço nos arquivos municipais. Seu nome sobrevive apenas ligado a essa construção efêmera, como tantos outros emigrantes, descendentes de imigrantes ou nativos da terra que buscavam, com esforço, um teto que lhes pertencesse de fato.
Uma Casa “Econômica”, Mas com Dignidade
Classificada como residência econômica, a casa projetada para Manuel Pereira era um exemplo claro da arquitetura de acesso da época. Com 42 m², abrigaria, provavelmente, um casal com filhos — talvez até duas gerações sob o mesmo telhado. O uso de madeira, material abundante e de baixo custo na região sul, permitia rapidez na construção e adaptabilidade ao clima úmido e frio de Curitiba.
O projeto, assinado por Eduardo Fernando Chaves — então atuando como projetista da firma Gastão Chaves & Cia. — incluía, em uma única prancha, planta do pavimento térreo, implantação no terreno, corte e fachada frontal. Apesar da simplicidade, os desenhos revelavam cuidado com a proporção, a ventilação natural e a distribuição funcional dos espaços: uma sala de estar integrada à cozinha, um ou dois quartos, e um pequeno alpendre — elemento típico do bangalô, que ligava o interior ao quintal, espaço vital em residências populares.
Emitido em 1927, o Alvará de Construção nº 5579 (do Talão nº 51) confirmava a legalidade da empreitada, demonstrando que, mesmo nas classes menos favorecidas, a cidade exigia — e facilitava — o registro formal das construções. A Villa Lustosa, onde se localizava a casa, era um loteamento recente na época, destinado a residências de classe média-baixa, situado na zona leste de Curitiba, região que crescia com o avanço dos bondes e da urbanização periférica.
Desaparecimento Silencioso
Apesar de sua existência documentada com precisão, o “bungalowsinho” de Manuel Pereira foi demolido, segundo levantamento realizado em 2012. Nada restou da estrutura de madeira, talvez levada pelo tempo, pelo abandono ou substituída por uma construção mais densa, como tantas outras em áreas urbanizadas.
Sua demolição é um lembrete doloroso: as moradias populares raramente sobrevivem à pressão do desenvolvimento urbano. Enquanto palacetes e casarões são tombados, as casas menores — onde viveram milhares de trabalhadores anônimos — desaparecem sem cerimônia, levando consigo histórias não contadas.
Eduardo Fernando Chaves: Arquiteto do Povo
Embora Eduardo Fernando Chaves seja mais lembrado por projetos maiores e por sua atuação multifacetada (como arquiteto, construtor, fiscal e administrador), este projeto para Manuel Pereira revela outro lado de sua carreira: o compromisso com a habitação acessível. Ao aceitar projetar uma casa de 42 m² em madeira, Chaves demonstrava que a arquitetura não pertencia apenas aos ricos, mas podia — e devia — servir a todos.
Esse “bungalowsinho” era, portanto, arquitetura social antes da palavra existir — uma resposta técnica e humana à demanda por moradia em uma cidade em transformação.
Memória em Linhas de Tinta
Hoje, o único vestígio da casa de Manuel Pereira reside no microfilme digitalizado do Arquivo Público Municipal de Curitiba, onde as linhas traçadas por Eduardo Fernando Chaves ainda respiram com precisão técnica e sensibilidade espacial. Cada cômodo desenhado, cada janela posicionada, cada telhado inclinado para o escoamento da chuva contam a história de um homem comum que, por um momento, teve direito a um lar desenhado sob medida — ainda que pequeno.
Manuel Pereira talvez nunca tenha sabido que seu nome estaria, quase um século depois, ligado a um fragmento da história urbana de Curitiba. Mas é nisso que reside a beleza do arquivo: ele devolve nome e lugar àqueles que o tempo quis apagar.
“Nem toda casa precisa ser grande para abrigar uma vida inteira. Às vezes, basta um cômodo com janela para o poente.”
Fontes:
- GASTÃO CHAVES & CIA. Projecto de bungalowsinho para o Snr. Manuel Pereira na Villa Lustosa. Arquivo Público Municipal de Curitiba (Microfilme digitalizado).
- Alvará de Construção nº 5579/1927 (Talão nº 51). Prefeitura Municipal de Curitiba.

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