Eduardo Fernando Chaves: Projetista
Denominação inicial: Projecto de uma casa para o Snr. Peter Müller
Denominação atual:
Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência Econômica
Endereço: Villa Guayra. Rua Nº 14 esquina com Rua Nº 16
Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 48,00 m²
Área Total: 48,00 m²
Técnica/Material Construtivo: Madeira
Data do Projeto Arquitetônico: 08/09/1927
Alvará de Construção: Nº 4689/1927
Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de uma casa de madeira.
Situação em 2012: Demolido
Imagens
1 - Projeto Arquitetônico.
Referências:
1 - GASTÃO CHAVES & CIA. Projecto de casa para o Snr. Peter Müller. Plantas do pavimento térreo e de implantação, cortes e fachadas frontal e lateral apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
1 - Projeto Arquitetônico.
Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba.
Peter Müller e a Casa de Madeira na Villa Guayra: Um Sonho Simples na Curitiba dos Anos 1920
Projeto de 1927 – Demolido em ou antes de 2012
Em 8 de setembro de 1927, nos arquivos da Prefeitura Municipal de Curitiba, foi protocolado um projeto singelo, mas profundamente revelador do cotidiano urbano da época: “Projecto de uma casa para o Snr. Peter Müller”. Assinado pelo escritório Gastão Chaves & Cia., um dos mais atuantes na arquitetura residencial popular da capital paranaense nas primeiras décadas do século XX, o documento trazia os planos para uma modesta residência de 48 metros quadrados, erguida inteiramente em madeira, na então emergente Villa Guayra.
Embora efêmera — demolida décadas depois, com seu lugar já esquecido pelo tecido urbano contemporâneo —, essa casa representa muito mais do que quatro paredes e um telhado. É o retrato de uma era em que morar com dignidade era um ato de coragem, planejamento e esperança.
O Morador: Peter Müller
Peter Müller provavelmente era um imigrante ou descendente de imigrantes — alemães, poloneses ou ucranianos — cujas famílias chegaram ao Paraná nas levas migratórias do fim do século XIX e início do XX. Seu nome sugere origem germânica, comum na região de Villa Guayra, bairro que se desenvolveu a partir de loteamentos voltados à classe trabalhadora e aos pequenos comerciantes.
Ao solicitar, em 1927, a construção de sua própria casa, Peter dava um passo decisivo rumo à cidadania plena: não apenas residir, mas possuir; não apenas ocupar, mas edificar. Em tempos de pouca assistência estatal e crédito habitacional inexistente, construir uma casa era um feito de autossuficiência e determinação.
A Casa: Economia, Madeira e Funcionalidade
Com apenas 48,00 m² distribuídos em um único pavimento, a residência projetada por Gastão Chaves & Cia. era um modelo de eficiência espacial:
- Uma sala de estar que servia como núcleo social da casa;
- Dois quartos modestos, suficientes para uma família pequena;
- Cozinha integrada à área de serviço;
- Banheiro interno — ainda um diferencial na habitação popular da época;
- Fachada simples, com varanda frontal que dialogava com a calçada, típica das construções em madeira do período.
O uso da madeira como material principal não era apenas econômico — era também cultural. Muitos imigrantes trouxeram consigo técnicas construtivas tradicionais da Europa Central, adaptadas ao clima e à disponibilidade de pinho do Paraná. A madeira permitia montagem rápida, isolamento térmico razoável e reparos acessíveis — qualidades essenciais para famílias de recursos limitados.
Localizada na esquina das Ruas nº 14 e nº 16, em Villa Guayra, a casa ocupava um lote estratégico, favorecendo ventilação cruzada e visibilidade — fatores valorizados mesmo nas residências mais simples.
O Alvará de Construção nº 4689/1927 confirmava a regularidade do empreendimento, demonstrando que, mesmo nas camadas populares, a cidade exigia — e incentivava — a formalização do espaço construído.
Desaparecida, mas não Esquecida
Em 2012, quando pesquisadores consultaram os registros históricos, a casa de Peter Müller já não existia mais. Demolida, provavelmente nas décadas de 1970 ou 1980, foi substituída por outra construção ou absorvida por um novo loteamento. Nada restou de sua estrutura física.
Felizmente, sua memória arquitetônica foi preservada graças à prancha de projeto original, hoje digitalizada e guardada no Arquivo Público Municipal de Curitiba. Nela, vemos não apenas linhas e cotas, mas as aspirações de um homem comum que, em plena década de 1920, apostou no futuro ao cravar os primeiros pregos de seu lar.
Um Legado de Simplicidade e Resistência
A casa de Peter Müller não tinha torres, estuques ou jardins elaborados. Mas era sua. E nisso reside sua grandeza histórica.
Em um momento em que Curitiba se expandia além do centro histórico, bairros como Villa Guayra tornaram-se verdadeiros laboratórios de habitação popular, onde arquitetos como Gastão Chaves traduziam necessidades sociais em plantas funcionais e acessíveis. Projetos como o de Peter Müller ajudaram a moldar a identidade urbana da cidade: humana, horizontal, integrada à natureza e ao trabalho.
Hoje, ao revisitar esse projeto, lembramos que a história de uma cidade não está apenas em seus edifícios monumentais, mas também nas casas que abrigaram vidas anônimas — como a de Peter Müller, um homem cujo nome sobrevive graças a 48 metros quadrados de madeira, sonho e coragem.
Ficha Técnica:
- Proprietário: Peter Müller
- Endereço: Villa Guayra – Rua nº 14 esquina com Rua nº 16, Curitiba – PR
- Data do projeto: 08/09/1927
- Alvará de construção: nº 4689/1927
- Área total: 48,00 m²
- Pavimentos: 1
- Material construtivo: Madeira
- Categoria: Residência Econômica
- Situação em 2012: Demolida
- Documentação preservada: Projeto arquitetônico (microfilme digitalizado, Arquivo Público Municipal de Curitiba)
“Nenhuma casa é pequena demais para abrigar um grande sonho.”
— Em memória de Peter Müller e de todas as moradias modestas que, um dia, foram lar.

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