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quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

A Casa de Eurico C. Hardt: Um Sonho Arquitetônico na Avenida Iguaçu — Elogio à Memória de uma Residência Desaparecida

 Denominação inicial: Projecto de casa para o Snr. Eurico C. Hardt

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Médio Porte

Endereço: Avenida Iguaçu

Número de pavimentos: 2
Área do pavimento: 230,00 m²
Área Total: 230,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos

Data do Projeto Arquitetônico: 04/03/1930

Alvará de Construção: Talão Nº 27136; N° 1943/1930

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de uma residência.

Situação em 2012: Demolido


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.

Referências: 

1 - GASTÃO CHAVES & CIA. Projecto de casa para o Snr. Eurico C. Hardt na Av. Iguaçu. Plantas do pavimento térreo e superior e de
implantação, corte e fachada frontal apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba.

A Casa de Eurico C. Hardt: Um Sonho Arquitetônico na Avenida Iguaçu — Elogio à Memória de uma Residência Desaparecida

Curitiba, 1930 – entre traços de tinta nanquim, ambição burguesa e o destino efêmero da cidade em transformação


Na Curitiba dos anos 1930 — uma cidade em plena metamorfose, entre o charme das vilas coloniais e os primeiros sinais de modernidade urbana — erguia-se, na majestosa Avenida Iguaçu, um projeto residencial que simbolizava o gosto, a estabilidade e o refinamento de uma elite em ascensão. Tratava-se da casa projetada para o senhor Eurico C. Hardt, um nome cuja grafia varia entre “Hart” e “Hardt” nos documentos, mas cuja presença na paisagem arquitetônica da época foi breve, embora significativa.

Infelizmente, essa residência, cuidadosamente desenhada em 4 de março de 1930, não chegou até nossos dias. Em 2012, seu destino já estava selado: demolida, substituída por novas construções, talvez mais altas, mais rentáveis, mas certamente menos carregadas de alma histórica. Restam-nos, então, apenas os traços originais no microfilme, a memória documental e a oportunidade de resgatar sua história como um ato de justiça ao patrimônio perdido.


Um Projeto com Assinatura: Gastão Chaves & Cia.

O projeto arquitetônico foi desenvolvido pelo escritório Gastão Chaves & Cia., um dos mais atuantes e respeitados de Curitiba na primeira metade do século XX. Conhecidos por sua versatilidade — transitando entre o ecletismo, o neocolonial e as primeiras influências modernistas —, os arquitetos do escritório criaram para Eurico Hardt uma residência de médio porte, porém de indiscutível elegância.

Representado em uma única prancha, o projeto incluía:

  • Planta do pavimento térreo e superior,
  • Implantação no terreno,
  • Corte arquitetônico,
  • Fachada frontal.

Tudo isso em alvenaria de tijolos, técnica consolidada na época, que oferecia solidez, durabilidade e um acabamento que permitia detalhes ornamentais sutis — molduras, cornijas, vergas arqueadas — sem cair no excesso.

A casa contava com dois pavimentos, cada um com 230 m², totalizando — embora o documento registre “Área Total: 230,00 m²” (provavelmente um erro de digitação ou simplificação administrativa) — cerca de 460 m² de área construída. Uma dimensão generosa, especialmente para a Avenida Iguaçu, que já naquela época era um dos endereços mais prestigiados da capital paranaense.


A Localização: Avenida Iguaçu, Coração da Cidade

Escolher a Avenida Iguaçu como endereço não era um detalhe. Nas décadas de 1920 e 1930, essa via era o corredor simbólico da modernidade curitibana: residências aristocráticas, clubes sociais, comércios sofisticados e, mais tarde, os primeiros edifícios verticais. Morar ali era declarar pertencimento a uma elite urbana, culta e progressista.

É provável que Eurico C. Hardt — cujo sobrenome sugere descendência alemã, comum entre os industriais e comerciantes que impulsionaram a economia paranaense — tenha encomendado essa casa não apenas como moradia, mas como afirmação de status. A fachada frontal, com sua simetria equilibrada, janelas bem proporcionadas e talvez uma varanda ou terraço no segundo andar, refletia essa ambição discreta, mas firme.


O Alvará e o Contexto Urbano

O projeto foi legalizado por meio do Alvará de Construção nº 1943/1930, emitido pelo Talão nº 27136 — um número que, embora aparentemente burocrático, registra um momento crucial na história urbana de Curitiba. A década de 1930 marcou o início de um controle mais rigoroso do espaço construído, com normas de recuos, altura e uso do solo, impulsionado pela crescente densificação da área central.

Obter um alvará naquela época era sinal de que o proprietário estava alinhado às novas diretrizes da cidade — e, ao mesmo tempo, que a cidade o reconhecia como parte de seu tecido civilizado.


A Perda: Uma Casa que Não Resistiu ao Tempo

Apesar da qualidade do projeto e da solidez da construção, a casa de Eurico C. Hardt não sobreviveu ao século XXI. Em 2012, já havia sido demolida, provavelmente para dar lugar a um empreendimento imobiliário — talvez um prédio de apartamentos, talvez um edifício comercial.

Essa perda é emblemática. Enquanto Curitiba se orgulha de sua identidade urbanística, centenas de residências históricas desaparecem sem registro, sem luto público, sem sequer uma placa. A casa de Hardt é mais um nome em uma longa lista de patrimônios silenciosos que se esvaem — não por desastres naturais, mas por escolhas urbanas que privilegiam o imediato sobre o hereditário.

Felizmente, o microfilme digitalizado do projeto, preservado nos arquivos históricos, permite que ainda possamos admirar seus traços. Nele, vemos não apenas paredes e janelas, mas o sonho de um homem, o ofício de um arquiteto e a alma de uma cidade em construção.


Memória como Resistência

Hoje, a Residência Eurico C. Hardt existe apenas em arquivos, em memórias familiares talvez esquecidas e em registros técnicos como este. Mas ao narrar sua história, devolvemos dignidade ao que foi apagado. Cada casa demolida é um capítulo rasgado do livro da cidade — e cabe a nós, historiadores, arquitetos e cidadãos, ler nas entrelinhas do que restou.

Que a Avenida Iguaçu, mesmo com seu asfalto moderno e seus prédios de vidro, não esqueça que, um dia, ali viveram famílias sob tetos de telha francesa, cercadas por jardins cuidados, ouvindo o tilintar de xícaras de porcelana nas tardes de domingo.

E que o nome Eurico C. Hardt não seja apenas uma assinatura num alvará, mas um lembrete:
toda casa tem uma história. E toda história merece ser contada — mesmo quando as paredes já não estão de pé.


Ficha Técnica Resumida

  • Denominação inicial: Projecto de casa para o Snr. Eurico C. Hardt
  • Denominação atual: Não registrada (residência demolida)
  • Endereço: Avenida Iguaçu, Curitiba – PR
  • Data do projeto: 04/03/1930
  • Alvará: Talão nº 27136; nº 1943/1930
  • Pavimentos: 2
  • Área por pavimento: 230 m²
  • Material: Alvenaria de tijolos
  • Situação em 2012: Demolida
  • Documentação: Projeto arquitetônico (microfilme digitalizado, Gastão Chaves & Cia.)

“As cidades não morrem quando seus prédios caem. Morrem quando esquecemos por que foram erguidos.” 🏛️💔