Histórias de Curitiba - Campinho da Véia 2 o Tempo
Campinho da Véia 2o Tempo
Rui Werneck de Capistrano
Jorge Eduardo Mosquera (Jorginho) armou um jogo no Campinho da Véia.
Convocou a memória e a imaginação. A segunda jogou um bolão. A primeira pisou na bola.
Fui um dos fundadores do Campinho da Véia e quero entrar no 2o tempo para desembolar o meio do campo. O Tempo é o juiz.
Que dê os acréscimos no final, ou mesmo roube, pra gente virar o jogo.
O Jorginho era, há 3 anos, o que a gente chamava de "piá de bosta". Sem ofensa.
Apenas pela diferença de idade, que na infância pesa, e por que na hora de fugir quando a gente roubava frutas, o dono sempre pegava um "piá de bosta". A média de idade, em 1960, era 11 anos.
Bem, vamos ao 2o tempo.
Por enquanto, 1x0 pra eles.
Fundamental, nessa história, são os craques.
Senão, o Campinho da Véia fica igual aos milhões de outros do Arroio ao Chul, como dizíamos.
O Campinho da Véia ficava na R. Dr. Faivre, da Turma de Baixo.
Formação: Família Pinheiro Lima (aglutinada para Pirilima pelo filhinho do Clóvis e assim incorporada ao nosso vocabulário). Escalação: Diógenes, Marcos, Clóvis, Ruizinho, Ernesto e a Clélia.
Todos jogavam bem.
Depois na mesma rua: Lelinho, Everton, Herson, Zé, Rui, Juba, Jeferson, Renato Gordo (adivinhe quem 1a pro gol?), Dalton e Antonio Carlos.
A turma de Cima (da R. General Carneiro pra cima) englobava a Turma do Meio (R. Conselheiro Araújo). Formação: Ronald, Cizo, Oda, Gamaliel, Agostinho, Dinho.
Jorginho, Morais, Mauri, Pegacha, Emerson, Luizeco, zangão, Careca (da banquinha), Napoleão, Nando, Néris, Floris, Cláudio, Nego, Chico, Luis Vermelho, Edival, Arnaldo, Gil, Cesar de Ivan Sebrão, Cid, Corujão, Luis Carlos, Gordinho, Bruel, Paulo Stori.
Nem a metade entrou jogando.
Nem todos jogaram o tempo inteiro. E ainda apareciam primos e colegas de classe.
Sem esquecer que o Tio Sanso (Sansores França) era padrinho da turma.
Injustiça dizer que fomos "craques injustiçados". Nem foi só o Gil que tentou clube de verdade. (Modéstia às favas, o Everton e eu jogamos no infantil do Coritiba, do famoso Janguinho, treinador. O Agostinho jogou no Coxa e onde quis.
Os irmãos Sebrão, nem se fala. O Jeferson, idem.
No futebol de salão de Curitiba, o nome desses quatro está consagrado.
Fora uns que a cigana enganou, a maioria tem muitos troféus nas canelas e títulos no futebol de várzea e de pelada.
Acho que deu para empatar.
Um a um.
Bola pra frente.
De virada é mais gostoso.
O nome do Campinho da yéia nada tem a ver com D. Ana. É falta grave, cartão amarelo. O nome saiu do próprio terreno.
Ali morava uma velha cujo nome só sei de escutar minha mãe: "Vá buscar lenha na casa da velha Zinng". A grafia não deve ser essa. A velha morreu, a casa caiu, o mato cresceu . A gente descobriu que, além de mamona pra dar setrada, tinha espaço prum controlinho.
Daí pra limpar e aumentar foi só questão de muita discussão, corpo mole e alguma boa vontade. O que era Casa da Véia virou Mato da Véia, depois, Campinho da Véia.
Em meia dúzia, limpamos, cortamos até uma árvore que cresceu colada à casa dos Pirilima e demarcamos.
As traves eram montes de pedras.
Muito mais tarde os Piri-limas, já mais velhos e trabalhando, compraram redes, bola de futebol de salão e ergueram traves firmes.
Mas por muitas férias, sábados, domingos e feriados nós jogamos com bolas de plástico, de capotão, de meia.
Outra bola na trave: a casa do lado esquerdo não era de nenhum militar.
Era do "Man-teigueiro", que tinha uma venda de frios e laticínios.
Depois porque ele não dava frutas do quintal, passou a ser Tio Patinhas.
Também não devolvia a bola e tinha cachorro solto. A gente pulava o muro quando um corria na frente da
casa e atraía o cachorro.
O Campinho da Véia já estava todo demarcado, com traves e tudo, e virou Estádio Tio Patinhas. A turma já mais crescida, com chute mais forte, e a dona Ana entra em campo.
Além dos berros, cada vez que a bola molhada marcava a parede da casa dela, o grande feito dela foi ter chamado o "rapa", num belo dia de férias, e mandando meio time pra delegacia.
Eu escapei por pouco porque minha mãe chamou pra partir lenha.
Os outros levaram pito do delegado. E voltaram triunfantes pela R. XV de calção.
Acho que viramos o placar.
Dois a um pra nós.
Vamos segurar o jogo. E esperar o apito final. Só acrescentado que fizemos dois grandes encontros da turma. O segundo, em outubro de 88, pelos 30 anos do Campinho da Véia.
Foi na chácara do Gil, com direito a vídeo, fotos, cerveja e choradeira. Não foi um simples encontro.
Isso é coisa de formandos de Medicina de 58. Imagine o que é juntar várias profissões, cidades, idades e mais toda aquela choradeira para saber se foi gol ou não aquele chute de 1962. Só mesmo uma paixão muito grande.
Uma paixão chamada infância.
Rui Werneck de Capistrano é artista plástico, publicitário e peladeiro.
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