Histórias de Curitiba - Curitiba e Coritiba: Entre pinheiros e tatetos
Curitiba e Coritiba: Entre pinheiros e tatetos
Valério Hoerner Júnior
A análise do topônimo CURITIBA, para que dela se obtenha um entendimento fácil a respeito do seu significado, exige alguma precisão técnica, vez que o termo, como ele é hoje escrito, foi objeto de um curioso processo metonímico.
Para a necessária compreensão de um público leigo eventualmente interessado, resume-se o problema no simples significado do topônimo diante de três étimos guaranis, curiy, designativo de pinheiro, curé e coré, que significam porco.
O resultado destes radicais associados ao sufixo tupi tiba, que designa quantidade ou abundância, concorreu para a formação de dois substantivos parecidíssimos, CURITIBA e CORITIBA, diferentes apenas por uma letra.
Mas até chegar a estas formas passaram, ao longo dos três últimos séculos, por incontáveis variações - Coré-etuba, Coretiba, Coreitiba, Coritiba, Corituba, Curetiba, Curiyatiba, Curiyatuba, Curiytiba, Curituba, Curutiba, Curityba e Curitiba, entre outras -, o que acabou por produzir uma anarquia ortográfica identificada e registrada pelo historiador Ermelino de Leão no Dicionário Histórico e Geográfico do Paraná.
O nome da capital paranaense constitui pois "uma grande metonímia toponímica", conforme menção do filólogo Francisco Filipak em seu trabalho Curitiba e suas variantes toponímicas.
O processo ortográfico dessas duas formas vocabulares praticadas modernamente atende com perfeição à lógica da filologia, pois, apesar da semelhança existente entre si, ambas possuem origem absolutamente diversa.
Tomados os radicais guaranis curiy e curé ou coré, o primeiro designando pinheiro e os demais porco, tem-se que Curitiba, variante sincopada de Curiytiba, quer dizer abundância de pinheiros e Coritiba, curé + tiba ou coré + tiba, abundância de porcos.
A ortografia atual e oficial -Curitiba - foi estabelecida por decreto do então presidente do Estado do Paraná Affonso Alves de Camargo, em 1919, que levou em conta, na ocasião, ser o nome da cidade grafado comumente de diferentes formas; apresentava-se pois a conveniência de estabelecer-se-lhe a uniformidade.
Assim, oficialmente, foi decretada a grafia Curityba, com ípsilon, que só foi alterada em 1 943 quando a reforma ortográfica permutou os ípsilons pelos is, transformando, assim, naturalmente, o sufixo tyba em tiba.
O nome da cidade passou, então, a partir de 1919, a significar abundância de pinheiros, descartada qualquer outra tradução, uma vez que tenha sido adotada a corrente do étimo respectivo, curiy.
Esta tradução ficou longe portanto da resultante Coritiba (coré = porco + tiba = abundância) criada supostamente pelo cacique tingüi - Coré-etuba -, forma atual apenas do nome da sociedade Coritiba Foot Bali Club, que, por razões de conservadorismo com base na tradição, fundada que foi em 1909 quando grassava a anarquia ortográfica mencionada por Ermelino de Leão, prefere manter
ainda hoje a forma original, inclusive os componentes de língua inglesa.
Curitiba possui, então, um étimo e Coritiba outro.
A prova está no referido cacique tingüi, imortalizado na cena da fundação da cidade, que, ao conduzir por volta de 1654 os moradores da Vilinha das margens do rio Atuba à bela colina que é hoje a praça Tiradentes, situada entre duas aguadas piscosas e farta em caça, especialmente tatetos, não teria tido a ingenuidade pronunciando taki keva: Coré-etuba! 1 - de apontar para o óbvio, ou seja, os pinheiros existentes por toda parte, copadas a perder-se no horizonte.
Quis mesmo, o cacique, dizer àquele povo humilde, privado de repente dos seus garimpos, das condições ideais do local que conscientemente indicava para assentamento, fauna e flora, com fácil subsistência tanto pelas muitas varas disponíveis, o que afirmou, quanto pelo lugar proveitoso que mostrou, servido ainda pelos límpidos e piscosos rios Ivo e Belém.
Obs 1: O desaviso tem oferecido por todo o tempo equívocos com relação aos topônimos Curitiba e Coritiba.
Aparecem esses equívocos quando alguém de fora, por curiosidade, pergunta a respeito do vocábulo, intrigado que fica geralmente com a presença do o na formação do nome do clube, Coritiba Foot Bali Club, em contraposição ao nome da cidade.
Mais ainda: quando joga o Coritiba com times de fora, alguns narradores d’outros pagos, com o fito de esclarecer ao público ouvinte, dão-se ao luxo de tentar explicar a tal diferença. É quando as histórias se multiplicam, com algumas delas beirando o absurdo.
Mas seria muita pretensão, referta de ingenuidade, pretender que forasteiros se houvessem bem quanto à etimologia dos vocábulos, se nem cá na terrinha
- salvo excepcionalidades - são encontráveis virtuais aptidões
Valério Hoerner Júnior é escritor.
Valério Hoerner Júnior
A análise do topônimo CURITIBA, para que dela se obtenha um entendimento fácil a respeito do seu significado, exige alguma precisão técnica, vez que o termo, como ele é hoje escrito, foi objeto de um curioso processo metonímico.
Para a necessária compreensão de um público leigo eventualmente interessado, resume-se o problema no simples significado do topônimo diante de três étimos guaranis, curiy, designativo de pinheiro, curé e coré, que significam porco.
O resultado destes radicais associados ao sufixo tupi tiba, que designa quantidade ou abundância, concorreu para a formação de dois substantivos parecidíssimos, CURITIBA e CORITIBA, diferentes apenas por uma letra.
Mas até chegar a estas formas passaram, ao longo dos três últimos séculos, por incontáveis variações - Coré-etuba, Coretiba, Coreitiba, Coritiba, Corituba, Curetiba, Curiyatiba, Curiyatuba, Curiytiba, Curituba, Curutiba, Curityba e Curitiba, entre outras -, o que acabou por produzir uma anarquia ortográfica identificada e registrada pelo historiador Ermelino de Leão no Dicionário Histórico e Geográfico do Paraná.
O nome da capital paranaense constitui pois "uma grande metonímia toponímica", conforme menção do filólogo Francisco Filipak em seu trabalho Curitiba e suas variantes toponímicas.
O processo ortográfico dessas duas formas vocabulares praticadas modernamente atende com perfeição à lógica da filologia, pois, apesar da semelhança existente entre si, ambas possuem origem absolutamente diversa.
Tomados os radicais guaranis curiy e curé ou coré, o primeiro designando pinheiro e os demais porco, tem-se que Curitiba, variante sincopada de Curiytiba, quer dizer abundância de pinheiros e Coritiba, curé + tiba ou coré + tiba, abundância de porcos.
A ortografia atual e oficial -Curitiba - foi estabelecida por decreto do então presidente do Estado do Paraná Affonso Alves de Camargo, em 1919, que levou em conta, na ocasião, ser o nome da cidade grafado comumente de diferentes formas; apresentava-se pois a conveniência de estabelecer-se-lhe a uniformidade.
Assim, oficialmente, foi decretada a grafia Curityba, com ípsilon, que só foi alterada em 1 943 quando a reforma ortográfica permutou os ípsilons pelos is, transformando, assim, naturalmente, o sufixo tyba em tiba.
O nome da cidade passou, então, a partir de 1919, a significar abundância de pinheiros, descartada qualquer outra tradução, uma vez que tenha sido adotada a corrente do étimo respectivo, curiy.
Esta tradução ficou longe portanto da resultante Coritiba (coré = porco + tiba = abundância) criada supostamente pelo cacique tingüi - Coré-etuba -, forma atual apenas do nome da sociedade Coritiba Foot Bali Club, que, por razões de conservadorismo com base na tradição, fundada que foi em 1909 quando grassava a anarquia ortográfica mencionada por Ermelino de Leão, prefere manter
ainda hoje a forma original, inclusive os componentes de língua inglesa.
Curitiba possui, então, um étimo e Coritiba outro.
A prova está no referido cacique tingüi, imortalizado na cena da fundação da cidade, que, ao conduzir por volta de 1654 os moradores da Vilinha das margens do rio Atuba à bela colina que é hoje a praça Tiradentes, situada entre duas aguadas piscosas e farta em caça, especialmente tatetos, não teria tido a ingenuidade pronunciando taki keva: Coré-etuba! 1 - de apontar para o óbvio, ou seja, os pinheiros existentes por toda parte, copadas a perder-se no horizonte.
Quis mesmo, o cacique, dizer àquele povo humilde, privado de repente dos seus garimpos, das condições ideais do local que conscientemente indicava para assentamento, fauna e flora, com fácil subsistência tanto pelas muitas varas disponíveis, o que afirmou, quanto pelo lugar proveitoso que mostrou, servido ainda pelos límpidos e piscosos rios Ivo e Belém.
Obs 1: O desaviso tem oferecido por todo o tempo equívocos com relação aos topônimos Curitiba e Coritiba.
Aparecem esses equívocos quando alguém de fora, por curiosidade, pergunta a respeito do vocábulo, intrigado que fica geralmente com a presença do o na formação do nome do clube, Coritiba Foot Bali Club, em contraposição ao nome da cidade.
Mais ainda: quando joga o Coritiba com times de fora, alguns narradores d’outros pagos, com o fito de esclarecer ao público ouvinte, dão-se ao luxo de tentar explicar a tal diferença. É quando as histórias se multiplicam, com algumas delas beirando o absurdo.
Mas seria muita pretensão, referta de ingenuidade, pretender que forasteiros se houvessem bem quanto à etimologia dos vocábulos, se nem cá na terrinha
- salvo excepcionalidades - são encontráveis virtuais aptidões
Valério Hoerner Júnior é escritor.
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