Histórias de Curitiba - O mímico da XV
O mímico da XV
Luiz Beauchamp
Ele já levou até murro na boca.
Por amor à arte. Tá certo que nem todo mundo gosta de ser imitado, acham que é deboche.
Mas afinal, estava trabalhando.
Enquanto o teatro não o convida... o jeito é fazer do calçadão um palco.
Curitiba tem isso. A Rua das Flores é o cenário do cotidiano, que muitas vezes ganha pitadas adicionais de bom humor e irreverência.
Tem quem não goste, apesar do esforço que ele faz para agradar.
Antes era chute, pontapé, cassetada.
Mas agora o povo participa mais", acalma-se Ailton Júnior dos Santos, mímico de profissão, e, por opção
O espaço está aberto, pessoas por todos os lados contemplam o mímico e sua presa. A sensação é de estar sendo seguido, ou, no mínimo, observado. São dezenas de olhos que sorriem.
Alguns, gargalham.
Depende do espaço, ou melhor, da abertura concedida pelo transeunte.
Algumas moças saem de braço dado com o Júnior, outras aceitam a gentileza de ter um carregador de pacotes.
Em cada momento está presente o bom humor, apesar da irritação, nervosismo e vergonha do curitibano.
Não é todo mundo que considera uma brincadeira. "Pra cima de mim?!"... Júnior então disfarça, olha para cima, acena para o lado. É ligeiro.
Pena que não foi rápido o bastante para se desviar daquele soco. A família do artista quer 10 milhões de cruzeiros pelo pedaço do dente - senão não retira o processo.
É... fora do palco a vida do mímico foge à piada.
Também carrega seus dramas pessoais, que transparecem na forma de dialogar , no olhar perdido em meio a uma conversa.
Na rua, o personagem se solta.
Irradia bom humor e confessa que recebe generosas doses de alegria.
Ao menos isso, porque a hora de correr o chapéu não é sempre satisfatória.
"Tem aquele senhor do charuto, que chega todas as tardes, entre três e meia e quatro horas", recorda. Dá uma paradinha, bate as cinzas no chão, coloca os óculos, olha para o alto. O mímico acompanha tudo. É uma relação curiosa, que se repete diariamente.
Sem violência.
As vezes, há até casos românticos. A mulher, Júnior conheceu no palco.
Na rua, onde a arte imita a vida.
Casaram e ele não saiu mais de Curitiba, onde chegou há seis anos. Júnior é carioca, mas acha que o curitibano está se soltando.
Apesar da maioria guardar uma distância segura, tem quem cumprimente, acene e trave com o mímico uma cumplicidade artística.
Que seria dele sem a colaboração coadjuvante?
Teve uma vez que conheceu a outra face da moeda.
Estava no Rio quando foi surpreendido por colegas mímicos.
Um chegou pela frente, outro posicionou-se mais atrás.
Outros dois acompanharam. "Saímos andando em cinco pela rua", alegra-se Júnior.
Aqui ainda não tem disso.
Mas o curitibano está mais relaxado. Só é preciso cuidar com os mais nervosinhos...Afinal, sorrir também é uma arte.
Luiz Beauchamp é cronista.
Luiz Beauchamp
Ele já levou até murro na boca.
Por amor à arte. Tá certo que nem todo mundo gosta de ser imitado, acham que é deboche.
Mas afinal, estava trabalhando.
Enquanto o teatro não o convida... o jeito é fazer do calçadão um palco.
Curitiba tem isso. A Rua das Flores é o cenário do cotidiano, que muitas vezes ganha pitadas adicionais de bom humor e irreverência.
Tem quem não goste, apesar do esforço que ele faz para agradar.
Antes era chute, pontapé, cassetada.
Mas agora o povo participa mais", acalma-se Ailton Júnior dos Santos, mímico de profissão, e, por opção
O espaço está aberto, pessoas por todos os lados contemplam o mímico e sua presa. A sensação é de estar sendo seguido, ou, no mínimo, observado. São dezenas de olhos que sorriem.
Alguns, gargalham.
Depende do espaço, ou melhor, da abertura concedida pelo transeunte.
Algumas moças saem de braço dado com o Júnior, outras aceitam a gentileza de ter um carregador de pacotes.
Em cada momento está presente o bom humor, apesar da irritação, nervosismo e vergonha do curitibano.
Não é todo mundo que considera uma brincadeira. "Pra cima de mim?!"... Júnior então disfarça, olha para cima, acena para o lado. É ligeiro.
Pena que não foi rápido o bastante para se desviar daquele soco. A família do artista quer 10 milhões de cruzeiros pelo pedaço do dente - senão não retira o processo.
É... fora do palco a vida do mímico foge à piada.
Também carrega seus dramas pessoais, que transparecem na forma de dialogar , no olhar perdido em meio a uma conversa.
Na rua, o personagem se solta.
Irradia bom humor e confessa que recebe generosas doses de alegria.
Ao menos isso, porque a hora de correr o chapéu não é sempre satisfatória.
"Tem aquele senhor do charuto, que chega todas as tardes, entre três e meia e quatro horas", recorda. Dá uma paradinha, bate as cinzas no chão, coloca os óculos, olha para o alto. O mímico acompanha tudo. É uma relação curiosa, que se repete diariamente.
Sem violência.
As vezes, há até casos românticos. A mulher, Júnior conheceu no palco.
Na rua, onde a arte imita a vida.
Casaram e ele não saiu mais de Curitiba, onde chegou há seis anos. Júnior é carioca, mas acha que o curitibano está se soltando.
Apesar da maioria guardar uma distância segura, tem quem cumprimente, acene e trave com o mímico uma cumplicidade artística.
Que seria dele sem a colaboração coadjuvante?
Teve uma vez que conheceu a outra face da moeda.
Estava no Rio quando foi surpreendido por colegas mímicos.
Um chegou pela frente, outro posicionou-se mais atrás.
Outros dois acompanharam. "Saímos andando em cinco pela rua", alegra-se Júnior.
Aqui ainda não tem disso.
Mas o curitibano está mais relaxado. Só é preciso cuidar com os mais nervosinhos...Afinal, sorrir também é uma arte.
Luiz Beauchamp é cronista.
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