segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Hoje está tudo mudado. Mas a praia charme do Estado era Matinhos, a namoradinha do Paraná. O quente da temporada era no mês de julho, onde a " polacada" fugia do frio e da geada. Caiobá era um desastre.

 Hoje está tudo mudado.
Mas a praia charme do Estado era Matinhos, a namoradinha do Paraná. O quente da temporada era no mês de julho, onde a " polacada" fugia do frio e da geada.
Caiobá era um desastre.
Histórias de Curitiba - Férias de curitibano


Férias de curitibano
Gilberto Felipe Daher

Hoje está tudo mudado.
Mas a praia charme do Estado era Matinhos, a namoradinha do Paraná. O quente da temporada era no mês de julho, onde a " polacada" fugia do frio e da geada.
Caiobá era um desastre.
Meia duzia de casas e um paredão de pedra na Praia Mansa dava o nome de praia dos mortos vivos.
Ali no começo da Alameda Cabral, ao lado do Bar Stuart, partiam os confortáveis ônibus "Pulmann" da Sulamericana.
Tinham o nr. 01, nr. 02 e o nr. 03.
Conheciam-se os motoristas pelo nome . Na realidade, eles eram verdadeiros heróis.
Seus Fe-nemês, com caixa sêca e sem hidráulica, deslizavam pelos paralelepipidos da Estrada da Graciosa, levando consigo a alegria de muitos curitibanos que iam passar suas férias na alegre Matinhos.
No alto da serra, uma parada para a mijadinha.
Como não existiam lanchonetes sofisticadas, a parada era uma barraca improvisada que vendia caldo de cana e possuia uma nascente ao lado.
Mas as mães não se descuidavam.
Como a viagem durava quase seis horas em média, levávamos famosos ovos cozidos, com frango assado, bolo de fubá e outras iguarias.
Os motoristas tinham que cronometrar o horário <la maré alta, pois parte do caminho era feito pelas areias, a partir tl.i Praia de Leste.
A chegada em Matinhos era uma festa em que só laltava banda de música.
Além dos veranistas, os ônibus transportavam provisões para as famílias airilibanas que já estavam por lá, l atas de leite ninho, garrafas de leite da colônia que eram compradas em Santa Felicidade e previamente fervido para aguentar a viagem, cai xas de galinhas vivas, entre outros. O ônibus também trazia notícias da cidade que eram divul gadas de boca a boca
A tanga não existia e a moçada contentava se cm aprei i.u as donzelas com seus elegantes maiôs que cobriam tudo, () maior sucesso foi quando uma moça de São Paulo apareceu por lá com um maiô de duas peças Matinhos vi
rou celebridade.
A paquera dos curitibanos na praia era feita de uma forma bem diferente, na rêde de voley do seu Anônio, um pontagrossense apaixonado pelo esporte.
Mas o voley era secundário naquelas alturas do campeonato, principalmente quando se faziam equipes mistas.
Grande parte das famílias de muitos curitibanos foi concebida naquela rêde, dentre os quais Milton e Janete, Maria de Lurdes e Manoel, Elizabeth e Pingo, Marcos e Tânia e muito mais.
Algumas características de Matinhos eram marcantes.
Carros existiam muito poucos.
Somente aqueles que conseguiam descer a Serra da Graciosa.
Para subir eram outros quinhentos.
Luz só tinha duas vezes por dia, das 09, às 11 h. e das 18 às 2 horas.
Os roteiros eram quase sagrados. O footting na pracinha só começava após as beatas terminarem suas novenas na lgraja da Praça.
As moças passeavam ao meio da Rua Principal e os rapazes ficavam encostados nas paredes das casas.
Diariamente funcionava o
boliche e o restaurante do Lafite, bem no local que hoje está o parque de diversões.
Ali era o pon-to-quente da temporada.
Existia uma radiola Hi-Fi, onde suas válvulas brilhavam mais do que noite de céu estralado e uma máquina de fazer pipoca. O assoalho era bem encerado para receber os pés-de-valsa que lá chegavam todas as noites, para dançar ao som de Ray-Coniff, Lucio Gatica, Roberto Yanês.
Muitas mocinhas tinham de mentir para os pais, para não perder nem um pouco do baile do Lafite.
Mas o respeito se fazia presente. O salão era mais iluminado do que um estádio de futebol à noite em dia de clássico.
As moças tomavam Crush e os rapazes Cuba-Libre de preferência. A distância era regulamentada pela distância de dois palmos.
Os gorrinhos de lã e o cachecol eram acessórios importantes do vestuário.
E a noite fluia animando a todos.
Porém, como na história da Cinderela, à meia-noite os corações se separavam e seguiam rapidamente para as suas casas.
Quem passasse deste horário só chegava em casa com a ajuda de uma lanterninha a pilha que à noite comumunte se carregava no bolso.
A Companhia Força e Luz do Paraná era implacável: desligava os geradores termo-elétricos e com eles o sonho de mais uma noite maravilhosa dos curitibanos em Matinhos.

Gilberto Felipe Daher é engenheiro.

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