VOCÊ ENTRA NA MATA E VÊ PÁSSAROS, MACACOS E ONÇAS ...
Assim expressou-se o comerciante Kamel, nos idos de 1927, acerca das matas existentes no entorno de Curitiba, naquela época, enquanto admirava a grandeza da construção do edifício que viria a ser chamado "Palácio Avenida", conforme veremos a seguir no texto retirado do livro "Mohamed, O Latoeiro", de Gilberto Abrão:
" Em 1927, o imigrante sirio-libanês, Fares Merhy, mandou demolir a salsicharia W. Krause-Schlacht Wurst-Geschaft, ponto de encontro dos estudantes, localizada na recém-pavimentada rua Quinze de Novembro, em Curitiba, e colocou as pedras de alicerce do enorme edifício que viria a ser o Cine-Theatro Avenida.
Kamel, ou Camilo, que descera do bonde que vinha lá das bandas da estação ferroviária e passava por ali, parou para assistir à movimentação dos operários e das máquinas. Nunca tinha visto algo semelhante em sua amada Síria. "Este Brasil é mesmo um país de milagres", pensava ele. "Em menos de duas horas, em lombo de mula, você entra na mata fechada, vê pássaros coloridos, macacos, onças, todo tipo de animais e aqui estão construindo um grande palácio!" Sentiu o orgulho estufar o seu peito. Afinal, quem estava construindo aquele palácio era um patrício seu, que viera quase três décadas antes dele. "Insha'Allah, daqui a vinte anos vou construir um edifício igual!" Mais uma vez o orgulho aflorou: Os árabes também estavam construindo Curitiba, assim como alemães, italianos, portugueses, espanhóis, poloneses e outros.
A imaginação de Kamel vagava em sonhos, quando ouviu que o chamavam.
- Kamel! Kamel!
Olhou para trás e viu Daoud Abbud, um dos irmãos proprietários da casa A Preferida.
- Olá, Daoud! Como conseguiu me ver no meio dessa gente toda?
- Ora, Kamel, e' fácil. Basta enxergar as duas enormes malas de mascate que você carrega, ver um chapéu grande, de feltro preto, com a aba caída. Você está em baixo do chapéu.
Daoud referia-se à estatura e à magreza de Kamel. [...]
Kamel perguntou a Daoud:
- Como vai seu irmão?
- Tanus vai bem. Você deve estar viajando bastante. Por onde andou agora?
- Desci a serra! Antonina, Morretes, até Paranaguá...
Em uma caminhada de dez minutos, eles chegaram à praça Municipal, onde estava localizada A Preferida, a loja de tecidos dos dois simpáticos "turcos", seu David e seu Antonio. A loja tinha doze metros de comprimento por seis de largura e balcões de madeira em toda sua extensão. Em cada balcão havia um metro de madeira, pregado, que servia para medir o tecido, e uma tesoura ao lado do metro. As prateleiras estavam abarrotadas de rolos de tecidos de todos os tipos, desde o popular algodão até a mais pura seda importada. ...".
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O PALÁCIO AVENIDA
A edificação, construída a partir de 1927 e inaugurada em 1929, foi erguida pelo imigrante e empresário sírio-libanês Feres Merhy, com projeto arquitetônico original de Valentim Freitas, Bernardino Assumpção Oliveira e Bortolo Bergonse.
Ao longo de sua história, o imponente complexo de cerca de 18 mil metros quadrados, abrigou escritórios, lojas, cafés (como o folclórico Café Guairacá) e o Cine Avenida, uma das primeiras salas de exibição da capital paranaense.
Em 1968, o prédio foi adquirido pela banco Bamerindus e restaurado em toda a sua originalidade. Em 05 de março de 1991 foi reinaugurado para ser agência central do banco. Com a extinção do Bamerindus, toda sua estrutura, inclusive o prédio, foi vendida para o Hong Kong and Shanghai Banking Corporation, e desta maneira, tornou-se a sede nacional do HSBC Bank Brasil. Em 2016, o HSBC vendeu sua subsidiária para o Bradesco, tornando-se o edifício, sede regional da instituição.
Atualmente, o andar térreo é uma agência bancária, enquanto próximo ao terraço esta instalado o "Teatro Avenida", que tem capacidade para 250 espectadores.
Desde 1991, é realizado nas janelas do edifício o espetáculo "Natal do Palácio Avenida", com apresentações de um coral de crianças que cantam músicas tradicionais do Natal e alguns sucessos da MPB, em ritmo natalino. O evento tornou-se bastante representativo das festividades de fim-de-ano em Curitiba e é conhecido em todo o Brasil, recebendo intenso afluxo de turistas."
(Extraído da Wikimedia).
Paulo Grani.
Momento da construção do edifício, em 1927.
(Foto: Acervo Gazeta do Povo).
(Foto: Acervo Gazeta do Povo).
A salsicharia W. Krause-Schlacht Wurst-Geschaft, em 1894, na então Rua da Imperatriz, depois XV de Novembro.
Foto: Família Krause/Carlos Roberto Krause.
Foto: Família Krause/Carlos Roberto Krause.
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