"Unidas pelo coral da Paróquia São José e Santa Felicidade, um grupo de jovens deu origem a uma das festas mais tradicionais de Curitiba, a Festa da Uva de Santa Felicidade.
AS MENINAS CANTORAS DA PARÓQUIA
"Unidas pelo coral da Paróquia São José e Santa Felicidade, um grupo de jovens deu origem a uma das festas mais tradicionais de Curitiba, a Festa da Uva de Santa Felicidade. Era 1958 quando o grupo montou uma banca em frente aos degraus da igreja para vender as uvas que tinham sido doadas por agricultores. Tudo para ajudar aquela que era o centro da vida social naquela época: a própria igreja.
O bairro de Santa Felicidade é famoso por seus restaurantes e sua atmosfera particular. Fundado por imigrantes italianos, ele é um reduto curitibano em que famílias inteiras nasceram e se criaram, sempre unidas pela herança da Itália e pelas amizades que duram vidas inteiras. Também foi assim que nasceu a Festa da Uva.
Odila Sirlei Ercole Pereira hoje é uma senhora de 74 anos e sorridentes olhos claros cheios de histórias para contar. Em 1958, no entanto, ela era apenas uma jovenzinha de quase 14 anos que tinha na paróquia muitas de suas diversões.
“Era muito divertido para nós, meninotas assim, com 12, 13, 14 anos. Em volta da torre da igreja a gente rodeava, assim, com os rapazes e tudo.” Diva Stival, 73, é prima de Odila e explica que, em uma época em que não havia muitas opções de diversão, os arredores da igreja “eram o lugar para namorar, ir a festas ou nos jogos de futebol”, conta, rindo.
As brincadeiras durante a “festa” custaram a Odila a participação em uma foto histórica, pendurada na cozinha no Bosque São Cristóvão, que mostra a “primeira edição da Festa da Uva”. Ela não está na imagem porque, quando o fotógrafo bateu a foto, “eu estava colocando umas fitinhas no bolso dos rapazes. Era um jeito de chamar a atenção”, conta, às gargalhadas.
Tudo em torno da igreja
Odila diz que aquela primeira edição nem foi uma festa, de fato. “Os agricultores doaram para a igreja algumas cestas de uva. A gente fez uma decoração em frente à igreja, pendurou uns cachinhos de uva, botou uma mesinha de madeira e se vestiu de italianinha, com chapéu de palha assim.” Tudo foi organizado pelas meninas do coral.
Ainda hoje, o objetivo da festa é sempre arrecadar dinheiro para a paróquia. Em 2018, especificamente, para a restauração do prédio centenário. São cerca de 300 voluntários ajudando a preparar o frango, a polenta, o risoto e o macarrão. Tudo para devolver à igreja um tanto da alegria que ela proporcionou e proporciona a tantos paroquianos. As relações entre as famílias se devem, em grande parte, aos encontros antes, durante e depois das missas e às festas realizadas “no quintal” da paróquia.
“É uma amizade de anos porque quando nós éramos meninotas, nós cantávamos no coral da igreja. Foi ali que começou a nossa união, ainda meninas. E fomos crescendo, viramos mães, depois avós e continuamos no mesmo grupo. Os filhos são amigos, estudaram quase todos no mesmo colégio das irmãs.”
Falando com as mãos e o coração
"O italiano tem essa, gosta de festa. Fala bastante, gesticula muito. Uma pessoa pessoa italiana falando parece que está brigando”, ri Odila. Em Santa Felicidade, mais ainda. A cumplicidade cultivada ao longo de décadas de convivência e o sangue italiano ficam nítidos na maneira como os moradores se tratam.
“Nessa turma que estamos ali na foto [da “primeira edição da festa”] e mais umas dez, estamos juntas desde meninas. Brincávamos juntas mesmo. Agora, quando nos reunimos, na hora do café ninguém escuta nada. Não deixamos a outra falar, a outra começa e a gente fala em cima”, diz Diva. Odila emenda, rindo, “pra gente fazer uma oração antes do café, meu Deus. Eu comprei um sininho, senão ninguém para de falar”.
Ela e a prima fazem parte da Associação de Caridade de Santa Felicidade. Atualmente há 55 mulheres trabalhando no grupo, que ajuda 167 famílias, além de idosos que precisam de doações de fraldas geriátricas. A renda vem toda de trabalhos manuais executados por elas e da venda de bolos, pães e doces na barraca montada na Festa da Uva."
Texto e foto extraídos de: gazetadopovo.com.br)
Paulo Grani
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