UM POUCO DA HISTÓRIA DA VILLA CAMPO LARGO
Nada como falar com quem sabe (e muito) sobre a cidade. Perguntei ao Marcelo Sutil, da Diretoria do Patrimônio Cultural da Prefeitura de Curitiba, se ele teria alguma informação sobre a Villa Campo Largo e como ele me retornou um material precioso, faço mais essa postagem sobre o belíssimo casarão, que está num estado de conservação que começa a beirar o crítico, para contar um pouco da sua história.
O texto a seguir foi retirado do documento enviado à mim pelo Marcelo Sutil, sendo esse de autoria da historiadora Maria Luiza Gonçalves Baracho da Fundação Cultural de Curitiba. Agradeço à ambos pelas informações.
A imponente casa, denominada Vila Campo Largo, sobressai na paisagem desde a época de sua construção.
Segundo planta aprovada pela então Directoria de Obras e Viação, em 4 de agosto de 1929, com conclusão até 20 de agosto de 1931, tratava-se de um projeto de residência para o Sr. Lucas Sovierzoski. Ele e a esposa ocuparam o imóvel até o final da vida, sendo que o mesmo permaneceu com a filha, única herdeira, até aproximadamente 1970, época de seu falecimento.
Sem que hovessem herdeiros diretos, o imóvel passou a pertencer, em diferentes frações, a familiares dos ramos Sovierzoski e Guiraud, como atesta a documentação. A casa começou, então, a ser alugada, servindo para diferentes usos ao longo do tempo.
Ao longo de todas essas décadas, e ainda hoje, o imóvel compõe, com destaque, a paisagem da Avenida Iguaçu e da Praça Ouvidor Pardinho. Com seu porte e volumetria, suas linhas de influência inglesa, suas primorosas pinturas internas e da varanda, seu acabamento esmerado, desde a edificação o sobrado constituiu-se num marco da paisagem, importante elemento da memória afetiva dos curitibanos que viveram e vivem na região, e dos que por ali circulam diariamente.
Em fotografias do início dos anos 1930, ela já está presente e remete a uma época em que a expansão da cidade era direcionada para a região sul, com a melhoria e a implantação de largas avenidas e ruas, como a própria Iguaçu e a Nunes Machado. Na Iguaçu e imediações, além de energia elétrica, já havia água canalizada e os sanitários ficavam dentro das casas; comodidades que, no final dos anos 1920, já motivavam a construção de casas mais confortáveis, como a Vila Campo Largo. Aquela era também uma época de grandes quintais, resultantes de um arruamento planejado, o que propiciava o cultivo de belos jardins e de hortas bem cuidadas. Embora próxima a inúmeras fábricas que, desde o final do século 19 foram se instalando na região, os proprietários podiam usufruir da Praça Ouvidor Pardinho. Antigo Campo da Cruz, a praça propiciava uma paisagem marcada pela presença da Igreja do Imaculado Coração de Maria e seus prédios anexos; igreja cuja construção, iniciada em 1917, foi concluída no final dos anos 1920.
A denominação Vila Campo Largo, presente numa placa decorativa no alto da fachada, e que hoje, à primeira vista parece deslocada, na verdade indica um estilo de morar, quando a cidade se expandia para espaços considerados mais distantes da então área central. Trata-se de uma tipologia arquitetônica que, segundo o historiador Marcelo Saldanha Sutil, era “bastante comum na cidade entre as décadas de 1930 e 1950. Época em que se construíam as chamadas vilas, ou seja: residências espaçosas, em meio a lotes generosos e cercadas por jardins. Assobradadas ou não, foram comuns em bairros próximos ao centro, como Batel, Alto da Glória e Juvevê, e caracterizaram a paisagem destes lugares até há poucos anos”.
Esta, certamente foi uma das fortes razões que justificaram sua inserção e manutenção na listagem de Unidades de Interesse de Preservação do Município, além da relevância de suas qualidades arquitetônicas.