quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Você se lembra do tempo em que ao invés de grandes redes de supermercados existiam em Araucária os armazéns de “secos e molhados”? Muito comuns até meados da década de 1980,

 Você se lembra do tempo em que ao invés de grandes redes de supermercados existiam em Araucária os armazéns de “secos e molhados”? Muito comuns até meados da década de 1980,

Armazéns de secos e molhados
Você se lembra do tempo em que ao invés de grandes redes de supermercados existiam em Araucária os armazéns de “secos e molhados”? Muito comuns até meados da década de 1980, esses pequenos comércios vendiam de tudo um pouco – de salame a querosene, de banha de porco a panela, de sabão a tecido, de chinelo a chineque. Os grãos eram acondicionados em sacos, comprados diretamente do produtor, e eram apanhados em conchas, pesados (geralmente em uma balança vermelha Filizola, que se destacava no balcão) e acondicionados em pacotes de papel, ali mesmo preparados. Por isso dizia-se que eram vendidos “a granel”. Não havia sacolas de plástico, geralmente as sacolas de pano ou tiras trançadas eram trazidas de casa para acondicionar as compras, e sempre reaproveitadas.
O proprietário conhecia todos os seus fregueses e tinha sempre um caderninho para “pendurar” a conta, vendia fiado para receber depois sem qualquer garantia. Pendurados também sempre estavam os salames, que não podiam faltar nesse tipo de comércio, assim como as “voltas” de “xaxixo”, como era popularmente chamado o salsichão, que sempre ia bem quando acompanhado de uma garrafa de gasosa (de preferência vermelha, sabor framboesa) ou uma pinguinha, e que podiam ser consumidos ali mesmo, em meio a uma boa conversa.
O senhor Oswaldo Raksa, em entrevista concedida ao programa Boca da Saudade, em 1996, contou algumas das coisas que vendia em seu armazém de secos e molhados: “Vendia de cachaça até salsicho. Matava dois porcos por semana às vezes (…) e açúcar, sal, café, até camisa e cinta e sapato, tamanco, vendi alguns pares de tamanco, Alpargata Roda, nossa vida!”.
Quase tudo ficava atrás de um grande balcão de madeira, não era possível o consumidor acessar sozinho os produtos da lista de compras, e quem atendia no estabelecimento - que geralmente era o proprietário ou algum de seus familiares - conhecia a lista de compras e os gostos de cada freguês. Nesse balcão sempre tinha um baleiro que rodava, ostentando aos olhos da criançada balas de todos os tipos. Ali também sempre tinha doces comuns daquela época – mariacaxuxa, maria-mole, doce de leite de copinho, suspiro colorido, doce de abóbora em formato de coração, doce de amendoim, e outras delícias que povoam a mente e trazem água na boca das crianças que habitam o interior de quem testemunhou essa época.
Em Araucária poucos desses pequenos comércios familiares remanescentes sobrevivem à concorrência das redes de supermercados e de lojas especializadas, que oferecem uma gama muito superior de variedades em produtos, marcas, embalagens e preços. Também os hábitos de consumo foram mudando e o tempo para comprar e conversar foi dando espaço à pressa e à necessidade de agilidade no atendimento. O caderninho de fiados deu lugar ao parcelamento no cartão de crédito, e a relação entre vendedor e cliente hoje se resume, muitas vezes, a um mero “é débito ou crédito?”.
(Texto escrito por Cristiane Perretto e Luciane Czelusniak Obrzut Ono - historiadoras)
(Legendas das fotografias:
1 - Caderno de anotações do armazém de Forischi & Sperandio, em Campo Redondo, 1920
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
2 - Caderninho de “fiados” do armazém de Bento Luiz de França, Guajuvira de Cima, 1900-1903
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
3 - Armazém de Alceu Novitski, em Thomaz Coelho, 2008
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
4 - Baleiro no armazém São João, em Campo Redondo, 2008 Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
5 - Doces no Bar e Mercearia Palmital, 2007
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.)

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Caderno de anotações do armazém de Forischi & Sperandio, em Campo Redondo, 1920
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.

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Caderninho de “fiados” do armazém de Bento Luiz de França, Guajuvira de Cima, 1900-1903
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.

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Armazém de Alceu Novitski, em Thomaz Coelho, 2008
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.

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Baleiro no armazém São João, em Campo Redondo, 2008 Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.

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Doces no Bar e Mercearia Palmital, 2007
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.

A primeira notícia que se tem sobre a possível vinda de um professor para a região de Tindiqüera é de 1846. A partir daí seguem outros nomeados como podemos constatar no Jornal Dezenove de Dezembro.

 A primeira notícia que se tem sobre a possível vinda de um professor para a região de Tindiqüera é de 1846. A partir daí seguem outros nomeados como podemos constatar no Jornal Dezenove de Dezembro.

Ensino público de primeiras letras nos tempos da Província
Conforme pesquisa realizada na década de 1990 e publicada pela Prefeitura Municipal de Araucária, no volume 3 da Coleção História de Araucária: “Mestres, alunos e escolas: a memória do ensino em Araucária” , os primeiros documentos sobre a educação em nosso município datam da época da Lei Provincial n° 34, de março de 1846, quando a região ainda pertencia à Província de São Paulo. A referida lei previa estabelecimento de escolas públicas de instrução primária em todas as cidades e vilas, e em outras povoações. As províncias foram subdivisões do território brasileiro, criadas no Reino do Brasil e herdadas pelo período Imperial. A província do Paraná foi criada em 1853 a partir de seu desmembramento da Província de São Paulo.
Apesar da lei que garantia o estabelecimento do ensino público, observamos que a grande tarefa dos professores nomeados sempre foi a de colocar alunos dentro da sala de aula. Como não havia obrigatoriedade do ensino, fatores relacionados principalmente com a manutenção da sobrevivência acabavam sendo empecilhos e poucos conseguiam frequentar as aulas.
A primeira notícia que se tem sobre a possível vinda de um professor para a região de Tindiqüera é de 1846. A partir daí seguem outros nomeados como podemos constatar no Jornal Dezenove de Dezembro.
Com certeza foram tempos difíceis para o ensino público, de uma escola para poucos e com o ensino das primeiras letras sobrevivendo na região por aproximadamente cinco décadas contando com a passagem de poucos professores, falta de espaços e materiais. A frequência dos alunos girou em torno de 20, sendo quase sempre do sexo masculino. As primeiras meninas matriculadas constam apenas nos registros de 1880. Augusta Suckow e Emília Luder teriam frequentado a "Escola Promíscua (diferenciada por atender meninos e meninas) da Freguesia do Iguassú".
Entre os meninos que frequentaram a pequena escola da Vila podemos destacar o jovem Manoel Gonçalves Ferreira, que mais tarde seguiria a carreira política, tendo sido o primeiro prefeito eleito em Araucária, com 31 votos, em 21 de setembro de 1892, isso após o período da Intendência Municipal, que conforme o Decreto nº 40/1890 incumbiu da administração municipal alguns cidadãos conforme dispõe em seu artigo 3º.
Manoel Gonçalves Ferreira consta nos registros educacionais como aluno de uma pequena turma com aproximadamente 19 luso-brasileiros, que na época enfrentou dificuldades como falta de bancos e mesas escolares, quadro de madeira e até mesmo de potes e canecas para água.
Entre os professores que desempenharam função no ensino público da região também encontramos nomes que posteriormente estiveram ligados à política. Entre eles o Sr. Antonio Arlindo Pereira, contratado em 1.864 como professor para fazer ensino gratuito a 20 alunos, recebendo 300$000 anuais. O mesmo entrou em exercício no dia 11 de abril de 1.864, dando suas aulas numa casa alugada. Lecionou aproximadamente por 3 anos na então Freguezia do Iguassú. A partir de 1.890, Antonio Arlindo Pereira foi político atuante, exercendo as funções de vogal, vice – presidente e também presidente em alguns períodos da primeira Intendência Municipal.
(Texto escrito por Cristiane Perretto e Luciane Czelusniak Obrzut Ono - historiadoras)
(Legendas das fotografias:
1 - Nomeação de professor para a região de Tindiqüera. Fonte: Jornal Dezenove de dezembro, 1854
2 - Nomeação de Intendência Municipal para a Vila de Araucária. Fonte: Arquivo Público do Paraná.
3 - Comunicação de contrato de professor. Fonte: Jornal Dezenove de dezembro, 1864

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Alfaiataria Riachuelo

 

Alfaiataria Riachuelo


Alfaiataria Riachuelo

Alfaiataria Riachuelo

A Alfaiataria Riachuelo, especializada em artigos militares (mas trabalha também com artigos civis), foi aberta nos anos 1930 por G. Matter, que veio de Ponta Grossa, incentivado pelo general Heitor Borges de Oliveira, que gostava muito dos uniformes confeccionados por ele. Mais tarde a alfaiataria foi tocada pelos filhos Guilherme e Oswaldo Matter e atualmente é tocada pelo filho do Sr. Oswaldo, que tem o mesmo nome do pai, Oswaldo Matter Filho.
A alfaiataria, localizada no número 266 da Rua Riachuelo é um estabelecimento tradicional e conhecido da cidade. A clientela atual é bem diversificada, atendendo desde o militar com ar severo em busca de um uniforme ou um jovem tatuado atrás de um coturno.

Referências:

Curar a alma para tratar o corpo – benzedeiras e benzedores em Araucária

 Curar a alma para tratar o corpo – benzedeiras e benzedores

em Araucária
Desde tempos imemoriais o homem recorre ao transcendente buscando auxílio para enfrentar as dificuldades da vida terrena, seja nas questões de saúde, trabalho, ou em suas relações interpessoais, e, muitas vezes, essas práticas acabam relacionando magia, religiosidade e medicina popular. Nas sociedades de característica camponesa, principalmente pela falta de recursos médicos acessíveis, era comum a existência de pessoas procuradas por seu conhecimento em medicina popular, que geralmente era advindo de seus antepassados. A essas pessoas era relacionado o poder de cura por meio de ervas e outros produtos naturais, ou, às quais se atribuíam poderes mágicos, cujas palavras, pensamentos ou o toque, geralmente acompanhados de orações, eram capazes de curar ou abrandar o mal, especialmente os de causas desconhecidas relacionadas a questões sobrenaturais.
Nos tempos em que Araucária configurava-se essencialmente como agrícola, os procedimentos médicos demandavam dinheiro, as estradas eram precárias e o meio de transporte rudimentar, o que tornava o recurso às benzedeiras e benzedores a alternativa mais viável. Existiam também aqueles cujos poderes e conhecimentos destinavam-se a curas referentes aos animais de criação e de tração, que eram amplamente procurados pelos mesmos motivos.
Mesmo com a metropolização de Curitiba a partir da década de 1960, que configurou a crescente industrialização e urbanização de seu entorno, e a melhoria na escolaridade e no acesso ao atendimento médico gratuito, as benzedeiras e benzedores continuaram existindo. Com exceção daqueles cujas ações se destinavam a animais de tração, pois a substituição desses por maquinários fez com que a procura por benzimentos diminuísse consideravelmente. Os demais continuaram tendo procura considerável, seja porque o efeito do benzimento é considerado mais rápido ou por ser usado como forma complementar ao tratamento médico convencional. Até porque muitos males do corpo e suas curas passaram a ser conhecidos com o avanço do conhecimento científico, no entanto, pemaneceram inacessíveis à grande parte da população, especialmente a mais pobre.
Durante as pesquisas para a escrita do livro "Saberes de Araucária", que é o 6.º volume da coleção História de Araucária, entre 2010 e 2011 as equipes do Arquivo Histórico e do Museu Tingüi-Cuera entrevistaram benzedeiras e benzedores do município para identificar quais os principais motivos que levam as pessoas a procurá-los, mesmo tendo acesso à medicina convencional.
Nessa pesquisa entrevistamos 13 benzedeiras e benzedores: Ana Pilatto, Antonia Santana de Jesus, Antônio Kolachak, Apolônia Furman, Arminda Soares, Eldo Dreyer, Izabel de Souza, Leona Geszewski, Leopoldo Przybylak, Maria Aparecida Gabriel, Maria Terezinha Perretto, Rozili Ferrari e Tereza Rodrigues de Carvalho, alguns deles hoje já são falecidos. Segundo as informações levantadas, os motivos que mais levam as pessoas a procurarem pelos benzimentos seriam os seguintes: para benzer susto, lombrigas atacadas, peito aberto, feridas na boca (“sapinho”), quebrante, rendidura, mal olhado, ar no rosto, ar na vista, cobreiro, bugreiro, bronquite, dor de cabeça, dor de dente, dor nas pernas, feridas que não cicatrizam, hemorragias e até picadas de animais peçonhentos (ao que se procura o benzimento como auxiliar ao tratamento médico).
Para fazer o benzimento alguns elementos tornam-se necessários para que a magia ocorra, e são eles bem variados, como água, fio, pano, palha, óleo, vela, brasa, faixa, arruda, hortelã, camomila, erva cidreira, alecrim, alho, limão, palma benta, ovo, toucinho, entre outros. Também palavras e orações são indispensáveis, algumas destinadas a santidades específicas, como Santa Apolônia para dor de dente e Santa Luzia para as vistas. Leona Geszewski profere as orações em polonês, o que, segundo ela, representa uma dificuldade quando tiver de repassar seu conhecimento para que alguém o continue.
Você sabia que existe diferença entre quebrante e mal olhado? Quem nos explicou foi a Maria Terezinha Perretto, que benze tanto um quanto o outro: “O quebrante é assim, quando as pessoas ficam admirando a criança – 'Ai, meu Deus, que bonitinha!'. As próprias pessoas da casa enchem a criança de quebrante, mesmo o adulto também pode pegar o quebrante, sabia? O adulto daí tem dor de cabeça, arrepio, as coisas assim. O mal olhado também, o mal olhado já é assim as pessoas que convivem com você que são mais invejosas (...) daí eles podem por mal olhado (...) O quebrante a pessoa não tem culpa, agora o mal olhado é de pessoas invejosas”.
Para curar a inveja alheia não existe remédio no posto de saúde, e mesmo para os males curáveis com medicamentos o carinho, o cuidado e a pessoalidade do benzimento para muitas pessoas são insubstituíveis. Junto com o benzimento vem a conversa, o calor humano, o chazinho, o carinho, tudo direcionado especialmente para aquela pessoa, diferente da frieza do medicamento industrializado e suas bulas complicadas. Além disso, esse tipo de conhecimento não pode ser aprendido de forma didática. Não existe curso técnico de formação de benzedeiras. Mas é repassado de geração em geração, de forma espontânea, para aqueles que são escolhidos por seu dom, o que torna a prática ainda mais especial e parte do patrimônio imaterial de nosso município.
Em entrevista concedida ao Arquivo Histórico em 2011, antes de falecer, o senhor Antônio Kolachak contou que atendia cerca de 70 pessoas por semana em sua casa, na região de São Miguel. Curiosamente, geralmente a fila para atendimento com o benzedor era maior do que a de pessoas que procuravam o posto de saúde mais próximo, o da Vila Angélica. Esse fato ele atribuía a seu dom de conversar e acalmar para curar a alma e então o corpo. Sendo assim, a maior explicação para que as pessoas ainda recorram a essas práticas, e que remédio nenhum substitui, resume-se a uma só palavra: fé.
(Texto escrito por Cristiane Perretto e Luciane Czelusniak Obrzut Ono - historiadoras)
(Legendas das fotografias:
1 - Antônio Kolachak utilizando cera de vela para benzimento, 2011.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
2 - Ana Pilatto benzendo criança, 2011.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
3 - Leopoldo Przybylak utilizando palha de milho para benzer hemorragia, 2011.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
4 - Rozili Ferrari preparando o toucinho com aveia para benzimento de bronquite, 2011.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
5 - Maria Terezinha Perretto utilizando pano, fio e agulha para benzer rendidura, 2011.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.)

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Antônio Kolachak utilizando cera de vela para benzimento, 2011.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.

Pode ser uma imagem de criança, sentando e área interna
Ana Pilatto benzendo criança, 2011.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.

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Leopoldo Przybylak utilizando palha de milho para benzer hemorragia, 2011.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.

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Rozili Ferrari preparando o toucinho com aveia para benzimento de bronquite, 2011.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.

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Maria Terezinha Perretto utilizando pano, fio e agulha para benzer rendidura, 2011.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.

A importância histórica da imigração alemã para o desenvolvimento da cidade de Araucária

 A importância histórica da imigração alemã para o desenvolvimento da cidade de Araucária

A população de Araucária configura-se como uma bela mistura étnica formada por diversos povos que aqui foram se estabelecendo ao longo do tempo. Ao final do século XIX muitos imigrantes europeus chegaram ao Paraná atraídos pela política imigratória empreendida pelo governo brasileiro para assentar colônias de produção agrícola. No caso dos primeiros alemães que chegaram à Araucária, esses vieram a partir das colônias criadas nos estados de Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Em Araucária não havia uma colônia alemã constituída pela política imigratória, e, dessa forma, os alemães aqui se estabeleceram por conta própria, de forma espontânea. Grandes empreendedores, eles se dedicaram especialmente a atividades urbanas e logo se integraram à sociedade local.
Em 1870 já havia registro de uma serraria do alemão Pedro Hey nas proximidades do rio Barigui, que foi responsável pelo bom desenvolvimento da colônia polonesa de Thomaz Coelho, assentada na região anos depois. Os colonos comercializavam madeira que retiravam de suas propriedades ao torná-las habitáveis e agricultáveis. Dessa forma, com a madeira da serraria de Pedro Hey foram construídas as primeiras casas dos imigrantes poloneses de Thomaz Coelho, demonstrando logo a integração entre etnias que povoaram Araucária.
No ano de 1896 também já consta o registro de que o alemão Rudolfo Hasselmann adquiriu terras em Araucária, compradas do Capitão José Ricardo Taborda Ribas, que, por sua vez, as havia recebido do imperador Dom Pedro II. Seu filho Carlos Hasselmann foi um importante agrimensor e agricultor, que fez vários levantamentos topográficos em Araucária e em outras cidades. Também realizou importante trabalho para a comunidade, atendendo pessoas que procuravam sua ajuda quando eram vítimas de picadas de cobras e outros animais venenosos. Hasselmann enviava ao Instituto Butantã, em São Paulo, cobras venenosas capturadas na região por ele e por outros moradores, sendo que a primeira remessa foi no ano de 1927. Em troca, o Instituto lhe fornecia soro antiofídico para o tratamento. Destacou-se como o mais conhecido caçador de cobras do estado do Paraná, e recebeu por seus trabalhos homenagens do Instituto Butantã.
Hasselmann também foi um dos proprietários do primeiro cinema de Araucária, que foi um marco do lazer araucariense da primeira metade do século XX. As sessões ocorriam sempre aos domingos e durante a época do cinema mudo, uma orquestra acompanhava a exibição, se apresentando ao vivo.
No ano de 1902, na região de Guajuvira, o alemão Carl Gustav Koehler construiu a primeira fábrica de palhões do Paraná com o nome Koehler-Asseburg. A fábrica utilizava matéria prima abundante na época, que era a palha de trigo e centeio cultivados nas colônias de Araucária, para produzir um invólucro que visava acondicionar garrafas de vidro para serem transportadas com o menor dano possível. Ele também foi o responsável pela fábrica de fósforos, inaugurada poucos anos mais tarde, que eram comercializados com as marcas Aurora, Campos Gerais, entre outras. Em 1939 a fábrica de palhões foi adquirida por Bogdan Wagner, e funcionou até 1978, quando passou a produzir esteira de palha para transportar bananas. Também havia uma fábrica de palhões na região de Ipiranga, que pertencia ao alemão Waldomiro Kuhn e um moinho que pertencia à família Druker.
Outras famílias de alemães povoaram Araucária, como as famílias Krüger, Luder, Bucholtz, Voss, Stag e Suckow, esses últimos foram os proprietários de um dos mais importantes pontos turísticos de Araucária, a Casa do Cavalo Baio. Construída em 1870, trata-se do mais antigo imóvel em alvenaria preservado do município, que por muito tempo foi um estabelecimento comercial da família Suckow, onde se trocavam mercadorias que vinham em carroças e nas bagagens dos tropeiros. Na década de 1940 a casa foi vendida para uma família de imigrantes franceses, que possuíam um belo cavalo baio, de onde surgiu o apelido carinhoso. Até hoje, por sua arquitetura em estilo centro-europeu e telhas alemãs, a casa chama a atenção por sua beleza, e, por conta de sua importância para o município, foi tombada em 1978 pela Secretaria de Estado da Cultura e segue sendo um marco histórico e referencial, como ponto turístico para os visitantes e como parte da identidade do município de Araucária e seus habitantes.
A participação alemã na constituição do município de Araucária e sua fácil integração a outros grupos étnicos que a povoaram, bem como sua contribuição para o desenvolvimento econômico da região, traz a esse povo um lugar especial na história de Araucária, e na formação desse belo povo miscigenado que vive nessas terras.
(Texto escrito por Luciane Czelusniak Obrzut Ono - historiadora)
(Legendas das fotografias:
1 - Familiares em frente à casa do Sr. Carlos Hasselmann, 01/01/1953.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
2 - Membros da família Voss descansando ao lado de barco a vapor, no rio Iguaçu.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
3 - Casamento de Augusto Müller com Macrena Deppa (alemão e ucraniana), 1912, coleção de Antonia Romanos.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
4 - Família Hasselmann em churrasco com amigos, 1937.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
5 - Lidia Voss, déc. de 1930.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.)

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Familiares em frente à casa do Sr. Carlos Hasselmann, 01/01/1953.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.

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Membros da família Voss descansando ao lado de barco a vapor, no rio Iguaçu.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.

Pode ser uma imagem de uma ou mais pessoas e pessoas em pé
Casamento de Augusto Müller com Macrena Deppa (alemão e ucraniana), 1912, coleção de Antonia Romanos.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.

Pode ser uma imagem de uma ou mais pessoas, pessoas em pé e ao ar livre
Família Hasselmann em churrasco com amigos, 1937.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.

Pode ser uma imagem de uma ou mais pessoas
Lidia Voss, déc. de 1930.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.

apenas a partir da década de 1910 é que o governo começou a investir na construção do primeiro prédio em alvenaria para um grupo escolar em Araucária. O prédio ficou pronto em 1914,

 apenas a partir da década de 1910 é que o governo começou a investir na construção do primeiro prédio em alvenaria para um grupo escolar em Araucária. O prédio ficou pronto em 1914,

Tempos de escola
Em meio a constante precariedade sofrida pelo ensino público desde meados do século XIX, apenas a partir da década de 1910 é que o governo começou a investir na construção do primeiro prédio em alvenaria para um grupo escolar em Araucária. O prédio ficou pronto em 1914, quando deixou de denominar-se Escola Isolada Claudino dos Santos e passou a denominar-se Grupo Escolar Dias da Rocha. Este endereço, localizado na Rua Major Sezino Pereira de Souza, além de ter abrigado o antigo Grupo Escolar, também já foi sede do Fórum, e, desde 2008 sedia o CEEBJA (Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos).
Na década de 1930, quando Araucária contava com uma população de aproximadamente 10.000 habitantes, surge imponente na paisagem da cidade o novo prédio construído especialmente para abrigar o já estabelecido Grupo Escolar Dias da Rocha, que havia aumentado sua demanda por matrículas. A nova construção era padronizada e composta por quatro salas de aula, almoxarifado, sala de professores, gabinete para a direção, secretaria e duas instalações sanitárias, fazendo cumprir o esforço da política estatal (Era Vargas/1937-1945) pela construção de mais escolas.
Entre alguns documentos oficiais de nosso acervo que dão testemunho sobre os primeiros tempos de funcionamento desta instituição, encontramos vários livros de registro, de 1938 a 1960. São documentos extremamente ricos que nos possibilitam inúmeros reencontros com o passado do ensino público em nosso município.
Revisitando o conteúdo desses documentos, é possível perceber que nas primeiras décadas de seu funcionamento o Grupo Escolar Dias da Rocha fez parte de um contexto nacional, de quando o ensino assumiu um caráter autoritário e controlador em nome de um projeto centralizador, marcado pelo nacionalismo e patriotismo exacerbado.
Para além dos inúmeros avisos que remetem as comemorações cívicas, outros textos nos revelam o teor dos itens observados pelos Delegados de Ensino em visita ao Grupo Escolar Dias da Rocha:
“Em cumprimento as minhas atribuições, visitei hoje este estabelecimento de ensino, sob a direção da normalista Egipciana S. Carrano. A matrícula é de 66 alunos e a presença de 44. Com a exceção da matrícula, que não agrada por atendimento, tudo o que me foi dado explicações, quer quanto ao trabalho didático, quer quanto a ordem, asseio e disciplina, quer ainda, quanto a escrituração administrativa (…) quer quanto a dedicação, trabalho e esforço das professoras, a Diretora e suas dignas auxiliares, agrada e satisfaz. (…)
Em 22/9/42
José Bernardo
Delegado de Ensino."
(Transcrito do livro de Termos de visita de autoridades do Grupo Escolar “Dias da Rocha”.
Acervo Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres)
(Texto escrito por Cristiane Perretto e Luciane Czelusniak Obrzut Ono - historiadoras)
(Legendas das fotografias:
1 - Prédio do Grupo Escolar Dias da Rocha, 1938
Acervo Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
2 - Alunos e professores do Grupo Escolar Dias da Rocha logo após a inauguração, em 1938. Todos os alunos encontram-se na fotografia devidamente uniformizados, porém a carência da maioria da população revela-se nos pés descalços das crianças.
Acervo Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
3 - Primeira construção em alvenaria que abrigou o Grupo Escolar Dias da Rocha e depois o antigo Forum, década de 1940
Acervo Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.

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Prédio do Grupo Escolar Dias da Rocha, 1938
Acervo Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres

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Alunos e professores do Grupo Escolar Dias da Rocha logo após a inauguração, em 1938. Todos os alunos encontram-se na fotografia devidamente uniformizados, porém a carência da maioria da população revela-se nos pés descalços das crianças.
Acervo Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres

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Primeira construção em alvenaria que abrigou o Grupo Escolar Dias da Rocha e depois o antigo Forum, década de 1940.
Acervo Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.

Vila Guaíra nos anos 1930. — Foto: Arthur Wischral / Acervo Paulo José da Costa ,

 Vila Guaíra nos anos 1930. — Foto: Arthur Wischral / Acervo Paulo José da Costa ,


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Ano 1949. Rua: 7 de setembro. A casa lá no alto: residência de Guido Viaro (ainda de pé, esquina com Castro Alves).

 Ano 1949. Rua: 7 de setembro. A casa lá no alto: residência de Guido Viaro (ainda de pé, esquina com Castro Alves).


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terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Castelo Eldorado, no interior do Paraná, revela histórias e esconde mistérios

 

Castelo Eldorado, no interior do Paraná, revela histórias e esconde mistérios

CONSTRUÍDO POR ALEMÃO DE 1942 A 1947, LOCAL JÁ ABRIGOU república COM MOEDA PRÓPRIA. HOJE É ATRAÇÃO TURÍSTICA DIVULGAÇÃO – CASTELO ELDORADO

Marilândia do Sul é um pequeno município paranaense com população estimada de apenas 8.858 habitantes, no Norte do Paraná, a 336 quilômetros de Curitiba e a 91 quilômetros de Londrina. A cidade tem na agroindústria seu principal sustento e um ar bucólico com muitas plantações, cachoeiras, pesque-pagues e campings. Mas a grande atração é um dos castelos mais belos e misteriosos do Paraná.
Construído pelo alemão Henrique Stahlke Filho durante a Segunda Guerra Mundial, de 1942 a 1947, o Castelo Eldorado já foi sede de um povoado com 1200 casas que abrigavam cerca de 5 mil pessoas, conhecida como República Eldorado. A localidade tinha até moeda própria, o famoso Boró e a “república” vivia da maior serraria da América Latina, que produzia 400 metros cúbicos de madeira por dia._

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Dois séculos depois, nasce uma sede para a prefeitura

 

Dois séculos depois, nasce uma sede para a prefeitura

O local onde se situa o Paço da Liberdade era o endereço do Mercado Municipal, que foi parcialmente demolido para a construção da prefeitura Apesar de Curitiba ter sido fundada, ainda como vila, em 1693, somente 223 anos depois é que a capital paranaense foi contemplada com uma sede própria para a prefeitura. Hoje, pode parecer estranho, mas era uma prática comum na época. Tanto que Curitiba foi considerada uma das pioneiras no Brasil a constituir uma sede própria para a sua prefeitura, com a inauguração do Paço da Liberdade, em 1916.
Durante dois séculos, o que existiu foi uma administração pública itinerante e sem sede própria. Durante muito tempo, a prefeitura chegou a funcionar em salões de igrejas e chegou até a dividir espaço com a cadeia pública. Em algumas sessões da Câmara, os vereadores chegaram a usar guarda-chuvas devido às goteiras existentes em alguns dos espaços que ocupou. A prefeitura “até então ocupara diversas casas alugadas”, ressalta o historiador Marcelo Sutil.
A vontade de construir uma sede própria era antiga, mas nunca havia dinheiro suficiente. Foi assim até o engenheiro Cândido de Abreu assumir o cargo de prefeito no começo da década de 1910Importante detalhar – de forma breve – algumas histórias curiosas. Antes de Curitiba ter prefeitos, teve uma Câmara de Vereadores. A primeira Câmara foi constituída logo em 1693. Conforme detalha a própria página virtual da Prefeitura, o cargo de prefeito passou a existir no século 19, em duas oportunidades bem distintas: “A primeira foi em 1835, durante o regime monárquico, quando o presidente da Província de São Paulo, da qual Curitiba era Comarca, assinou a Lei 18, nomeando José Borges de Macedo. Ele governou até 1838 – quando o novo presidente da Província de São Paulo assinou a Lei 95, extinguindo o cargo”.
A segunda vez que Curitiba teve prefeito foi em 1892, já no período republicano, quando foi eleito Cândido Ferreira de Abreu para o seu primeiro mandato. Na maior parte de sua história, portanto, Curitiba foi administrada pela Câmara Municipal..

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