sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Prédio do antigo Hotel Martins

 Prédio do antigo Hotel Martins

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Recentemente aqui no Turistória, escrevemos sobre a Rua Riachuelo, uma das mais tradicionais e antigas de Curitiba. Ao longo dos mais de cem anos da rua, nela estiveram diversos prédios e estabelecimentos dos mais variados ramos. Alguns ali ficaram por mais tempo, outros por menos, outros mudaram de dono ou de ocupação.


Neste artigo falaremos sobre um desses edifícios: o do Antigo Hotel Martins, que hoje é o Edifício Regina Weiss de Castillo. Sua localização é o nº 110, na Rua Riachuelo, entre as ruas Alfredo Bufren e a Praça Generoso Marques. Boa parte das informações obtidas sobre ele estão no livro “As muitas vistas de uma rua: histórias e políticas de uma paisagem – Curitiba e a Rua Riachuelo”, lançado em 2014 pela Editora Máquina de Escrever.


Origem


O prédio foi construído entre 1927 e 1930 para abrigar o Hotel Martins, que ocupava os dois andares superiores, enquanto no térreo havia quatro lojas. Uma dessas era a fábrica e loja de calçados dos irmãos José e Diogo Muggiati. Outra era a Casa Constantino, que vendia artigos masculinos. No local por um tempo havia também a empresa de relógios e jóias Heisler, Dalit & Cia.


Kirchgässner é responsável também por outras construções na capital paranaense, entre elas uma casa projetada para seu irmão na Rua Visconde de Nácar, nº 36, e outra na Rua Portugal. Além destas, a mais famosa e a primeira obra de arquitetura modernista de Curitiba: a Casa Kirchgässner. Sobre ela e sobre as outras construções de Frederico Kirchgässner nós do Turistória já escrevemos em maiores detalhes neste link.


O Hotel Martins, que ficava na Riachuelo, no entanto, não era uma manifestação tradicional do modernismo como outros edifícios de Kirchgässner; ele possui caráter eclético com elementos do
 
art nouveau.


De, provavelmente, 1930 até 1936, o hotel foi administrado por Martins Jaruga. Usamos o termo "provavelmente" pois temos a certeza da data de transferência de administração, mas não temos fontes que provam que Jaruga era quem administrava o hotel desde o início. O que temos são provas de que o hotel era dele desde pelo menos 1932.


Em Março de 1936, Jaruga transferiu a administração do Hotel Martins para Olympio Martins, é o que nos informa a edição de 15 de março de 1936 do Jornal O Dia. Ele o fez porque estava abrindo outro hotel: o Palace Hotel, que ficava localizado na Rua Barão do Rio Branco, nº 62.


Olympio Martins, por sua vez, deixara de administrar o Hotel Odeon para estar à frente do Hotel Martins. Uma observação que podemos fazer disso é a de que havia uma rotatividade de donos entre os hóteis da capital e do Estado, em que as mesmas pessoas muitas vezes administravam diversos hotéis ao longo da vida.




Desse período até mais recentemente são escassas as informações que temos sobre o Hotel Martins. Embora o hotel não exista mais, seu edifício ainda está em pé.


Atualmente


Em 1991, o edifício sofreu um incêndio e ficou por anos inativo. Em 2018, foi restaurado como parte do empreendimento All You Need, da Thá Engenharia. Hoje o nome do edifício é Regina Weiss de Castilho e é ocupado para a habitação. Tendo em vista sua importância histórica e cultural para Curitiba, o prédio é um Unidade de Interesse de Preservação (UIP).




A Casa Edith: uma história romeno-libanesa

 A Casa Edith: uma história romeno-libanesa

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Inaugurada por volta de 1917, a Casa Edith foi fundada pelo imigrante libanês Kalil Karam, nome escolhido em homenagem a sua primeira filha, Edith Karam. Depois do Paço Municipal, essa é, sem dúvidas, a construção histórica mais conhecida da Praça Generoso Marques. E o motivo é o mais o nobre possível: a Casa Edith continua funcionando, mesmo depois de 100 anos de sua inauguração.


Inicialmente, porém, o estabelecimento se situava na Praça Tiradentes, ao lado da Farmácia Stellfeld, onde hoje é a Pernambucanas. A Casa Edith, já reconhecida como uma das principais lojas de roupas e artigos masculinos da cidade, ficou ali até meados da década de 1930.


Com o fechamento desta sede, a matriz da Casa Edith se transferiu para o antigo prédio onde a sua filial funcionava desde 1925: o casarão azul da esquina da Praça Generoso Marques. A origem desta casa, porém, é bem mais antiga e remonta ao ano de 1879. 


Não há muitas informações sobre quem a construiu, mas sabe-se que entre 1890 e 1900 a casa foi ocupada por Magalhães & Brazilino de Moura.


Esse passado da construção, anterior à chegada da Casa Edith, em tese, explica as suas características arquitetônicas. Tal qual a sua vizinha, a casa dos Labsh, o prédio tem traços neoclássicos, com 2 andares, 6 portas e 6 janelas venezianas brancas em cada frente. Na parte virada para a Generoso Marques, há um frontão que relembra ao prédio histórico da UFPR, assim como detalhes na cobertura e nas colunas que fazem referência à cultura clássica. 


A Casa Edith se manteve mesmo depois da morte do seu fundador, o sr. Kalil Karam, em 1949. A loja, então, foi administrada por seus oito herdeiros, até ser comprada em 1959 pelo imigrante romeno Virgil Trifan, em sociedade com Franklin Rodrigues. Apesar disso, eles mantiveram o nome “Casa Edith” e continuaram a vender roupas e artigos de vestuário, dando sequência à tradicional história da loja. Além disso, ambos preservaram o costume dos Karam de animar o carnaval curitibano com doação de trajes, até a década de 70.


Hoje, além de uma referência no ramo de vestuário, a Casa Edith também é uma Unidade de Interesse de Preservação e um Patrimônio Histórico tombado a nível municipal. A sua presença no centro da cidade mantém viva a memória de anos longínquos do passado de Curitiba.

 

Duas notas:


A família Karam mantém a trajetória familiar até os dias de hoje, com destaque à Regina Maria Karam, que preserva a memória de seus antepassados. Por sua vez, Edith Karam teve vida longa; ela faleceu em 2014 com 101 anos de idade.


Quanto a Virgil Trifan, depois da morte de seu sócio ele se transformou no dono unitário da Casa Edith. Sua trajetória, além disso, é de muita luta: nascido em Radauti, na Romênia, ele foi perseguido entre 1942 e 1944, por conta de sua religião - o judaísmo. Depois da libertação do país e depois de sobreviver ao Holocausto, Trifan migrou ao Recife e depois para Curitiba. Após anos vendendo roupas autonomamente, o comerciante conseguiu dinheiro suficiente para comprar a Casa Edith. Além dela, o romeno também era proprietário da Casa Globo e da Loja Cardinal. Trifan faleceu em 2019, aos 93 anos.



Texto e pesquisa: Gustavo Pitz

Referências


RIZZI, Suzelle. Cândido de Abreu e a Arquitetura de Curitiba entre 1897 e 1916. 2003. 186 p. Dissertação (Mestrado em Teoria, História e Crítica da Arquitetura). Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba.

https://www.fotografandocuritiba.com.br/2016/04/casa-edith.html


https://www.gazetadopovo.com.br/haus/estilo-cultura/na-casa-edith-o-passado-dita-a-moda/


https://www.facebook.com/MuseuShoaCuritiba/photos/%C3%A9-com-pesar-que-o-museu-do-holocausto-comunica-o-falecimento-do-sr-virgil-trifan/2290847407689150/


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