quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Curitiba em 1961: Sociedade, Política, Comércio e Arquitetura em Documentos Raros

 

Curitiba em 1961: Sociedade, Política, Comércio e Arquitetura em Documentos Raros

Curitiba em 1961: Sociedade, Política, Comércio e Arquitetura em Documentos Raros

O ano de 1961 foi marcante para Curitiba e para o Brasil. Com a renúncia de Jânio Quadros e a posse de João Goulart, o país vivia uma transição política instável. Em Curitiba, entretanto, a vida social, comercial e institucional seguia seu ritmo próprio, registrada em documentos que hoje são valiosas fontes históricas. As cinco páginas aqui apresentadas — provavelmente extraídas de um jornal social ou revista local — oferecem um retrato multifacetado da cidade naquele ano, abordando casamentos, carreiras públicas, anúncios comerciais e projetos arquitetônicos.

A seguir, análise detalhada de cada página.


Página 1: Senhora Rubens Requião — Uma Mulher na Administração Pública

A primeira página destaca a Senhora Rubens Requião, secretária do gabinete do governador do Paraná, Dr. Irineu Borns, e esposa do então governador, Rubens Requião (que assumiria o cargo em 1961).

Detalhes Textuais:

  • A matéria elogia sua “elegância”, “simpatia” e “espírito administrativo”, destacando que ela não apenas acompanha o marido, mas atua efetivamente na gestão pública.
  • Menciona sua formação: cursou o Colégio Normal, exerceu magistério e, após se casar, passou a colaborar com o marido em funções administrativas.
  • Fala-se de sua “atitude moderna” ao equilibrar vida familiar e profissional — algo incomum para a época.

Contexto Histórico:

  • Em 1961, o Brasil vivia uma crise política: Jânio Quadros renunciou em 25 de agosto, e João Goulart assumiu em 7 de setembro, após intensa negociação entre militares e civis.
  • No Paraná, Rubens Requião era figura central na política estadual, tendo sido eleito governador em 1960 e tomando posse em 31 de janeiro de 1961.
  • A presença de sua esposa em cargos administrativos era rara e simbólica — indicava uma nova postura da elite política, que começava a valorizar o papel das mulheres em esferas públicas, ainda que dentro de limites tradicionais.

Análise Visual:

  • Foto em preto e branco, retrato formal da senhora, vestida com elegância discreta, cabelos penteados e expressão serena.
  • Layout simples, com texto justificado e título em negrito — típico de publicações oficiais ou sociais da época.

Página 2: Senhora Elas Também — Mulheres na Vida Pública e Social

A segunda página traz o título “Elas Também”, seguido de uma entrevista com Senhora Braga Ramos, secretária de Educação e Cultura do Estado.

Detalhes Textuais:

  • A matéria destaca sua trajetória: formada em Letras, professora, depois secretária de Educação.
  • Fala sobre os desafios de conciliar vida familiar e carreira — menciona que tem três filhos e que sua função exige dedicação integral.
  • Critica a visão machista da época: “Não há razão para que a mulher não possa ocupar cargos importantes — basta ter competência e disposição.”
  • Menciona sua atuação na reestruturação do ensino público e na promoção de cursos técnicos.

Contexto Histórico:

  • Em 1961, o movimento feminista ainda estava em seus primórdios no Brasil, mas mulheres como Braga Ramos já ocupavam cargos de destaque na administração pública.
  • O Paraná era um dos estados mais avançados em termos de educação — com escolas técnicas, universidades e programas de extensão.
  • A menção à “modernização” e à “necessidade de mudanças” reflete o clima de reformas que se instalou no país após a posse de Jango.

Análise Visual:

  • Foto da senhora sentada à mesa, com livros e papéis — imagem de intelectualidade e trabalho.
  • O uso do título “Elas Também” sugere uma campanha implícita de valorização da mulher na sociedade — ainda que sob a ótica da época.

Página 3: Governam — A Nova Geração de Lideranças Políticas

A terceira página apresenta Senhora Cel. Alípio Aires de Carvalho, secretária de Viação e Obras Públicas do Estado.

Detalhes Textuais:

  • É descrita como “mulher de fibra”, com formação em Direito e experiência em administração pública.
  • Menciona que assumiu o cargo após a saída do antigo titular, e que está implementando obras de infraestrutura em todo o estado.
  • Fala sobre a necessidade de modernizar as estradas e melhorar o transporte — temas cruciais para o desenvolvimento do Paraná.
  • Destaca-se a frase: “A mulher pode e deve participar da vida pública — não apenas como apoiadora, mas como protagonista.”

Contexto Histórico:

  • Em 1961, o governo estadual do Paraná estava sob forte pressão para modernizar a infraestrutura — especialmente estradas, portos e comunicações.
  • A presença de uma mulher à frente de uma pasta de obras públicas era inédita e chamativa — sinal de que a sociedade paranaense estava se abrindo para novos perfis de liderança.

Análise Visual:

  • Foto da senhora em uniforme militar — raro para mulheres da época — sugerindo autoridade e disciplina.
  • O layout é semelhante às páginas anteriores, com texto justificado e foto centralizada.

Página 4: Anúncios Comerciais — São José, Guelmann e a Modernização Urbana

A quarta página é dedicada a anúncios comerciais, com destaque para duas empresas:

1. «São José» Companhia de Armazéns Gerais

O anúncio destaca:

  • Seis armazéns construídos em série, totalizando 10.000 m²;
  • Equipamentos modernos (“Frank”), com capacidade para 1.800 sacos por hora;
  • Serviço completo de proteção contra incêndio.

2. Móveis Guelmann

O anúncio mostra:

  • Sala de jantar tipo 197, com mesa, cadeiras e aparador;
  • Design funcional, com combinação de cores;
  • Preço acessível, voltado para a classe média emergente.

Contexto Econômico:

  • Em 1961, Curitiba vivia um boom de consumo e urbanização — a classe média crescia, e o comércio respondia com produtos modernos e acessíveis.
  • A “São José” representava a logística moderna — essencial para o escoamento da produção agrícola do Paraná.
  • Os móveis Guelmann refletiam a estética da época: linhas retas, madeira clara, funcionalismo — influência do design moderno europeu e norte-americano.

Análise Visual:

  • Fotos das instalações da “São José” mostram prédios longos e uniformes — típicos da arquitetura industrial da época.
  • O anúncio dos móveis traz uma sala montada, com iluminação natural e decoração minimalista — ideal para o lar moderno.

Página 5: Edifício do Banco do Brasil — Um Símbolo da Modernidade

A quinta e última página apresenta o projeto do novo Edifício do Banco do Brasil em Curitiba, cuja construção estava a cargo da construtora Th. Marinho de Andrade Construtora Paranaense S.A.

Detalhes Textuais:

  • O edifício será construído em dois blocos distintos: um para uso administrativo e outro para residências.
  • Área total: cerca de 70% da área do quarteirão, com 12.400 metros quadrados.
  • Características:
    • Sistema moderno de ar condicionado;
    • Iluminação e aquecimento modernos;
    • Elevadores de alta velocidade;
    • Valor estimado: acima de 400 milhões de cruzeiros (valor expressivo para a época).

Contexto Arquitetônico:

  • Em 1961, Curitiba estava em plena transformação urbana — com a construção de prédios modernos, ruas alargadas e planejamento urbano.
  • O Banco do Brasil era o principal banco público do país, e sua sede em Curitiba seria um símbolo de poder e modernidade.
  • O projeto, assinado pela Th. Marinho de Andrade, refletia a arquitetura racionalista em voga — linhas limpas, funcionalidade, uso de concreto e vidro.

Análise Visual:

  • Maquete do edifício mostra um prédio alto, com fachada envidraçada e estrutura retangular — típico da arquitetura corporativa da década de 1960.
  • A legenda “Visão grandiosa do Edifício do Banco do Brasil em Curitiba” reforça a intenção de impacto visual e simbólico.

Conclusão

As páginas de 1961 revelam uma Curitiba em transição: uma cidade que, mesmo em meio à instabilidade política nacional, seguia seu caminho de modernização. Mulheres assumiam cargos públicos, empresas investiam em tecnologia e infraestrutura, e a arquitetura refletia a ambição de se tornar uma capital moderna e cosmopolita.

Esses documentos não são apenas registros do passado — são testemunhos de como a sociedade curitibana se organizou, se adaptou e se projetou para o futuro. Eles nos lembram que, mesmo em tempos de incerteza, a cidade sempre soube construir seu próprio rumo.


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