quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Manoel da Rocha Kuster e a Elegância Moderna na Avenida Iguassú: Um Legado Arquitetônico de 1936

 Manoel da Rocha Kuster e a Elegância Moderna na Avenida Iguassú: Um Legado Arquitetônico de 1936

Em meio à transformação urbana de Curitiba nas primeiras décadas do século XX, um nome surge com distinção em meio aos registros arquitetônicos da cidade: Manoel da Rocha Kuster. Embora pouco conhecido pelo grande público, sua marca está inscrita nas paredes, nos vãos e nas linhas sutis de um dos exemplares mais significativos da arquitetura residencial geminada da década de 1930: a residência localizada na Avenida Iguassú, s/n, projetada pelo renomado arquiteto Eduardo Fernando Chaves.

Este artigo resgata não apenas a história de uma edificação, mas o encontro entre tradição, inovação técnica e identidade familiar, em uma Curitiba que se modernizava com elegância e moderação.


Quem foi Manoel da Rocha Kuster?

Apesar da escassez de registros biográficos detalhados, sabe-se que Manoel da Rocha Kuster era um cidadão de destaque em Curitiba, provavelmente ligado à área jurídica, como sugere o título de “Dr.” frequentemente associado ao seu nome. Sua parceria com José Bellegard, outro proprietário da residência geminada, indica uma proximidade — talvez familiar, talvez profissional — comum na elite curitibana da época, que frequentemente investia em imóveis não apenas como moradia, mas como símbolo de status e estabilidade social.

Mais do que um mero proprietário, Kuster foi um comissionante de modernidade: ao encomendar um projeto arquitetônico de qualidade para sua residência, ele abraçou os novos tempos — tempos em que o concreto armado começava a substituir as estruturas de madeira e alvenaria tradicional, e em que o urbanismo ganhava contornos mais planejados.


O Arquiteto: Eduardo Fernando Chaves, Voz da Modernidade em Curitiba

O nome por trás das linhas do projeto é de peso: Eduardo Fernando Chaves, arquiteto atuante em Curitiba nas décadas de 1930 e 1940, conhecido por sua atuação técnica rigorosa e estética equilibrada. Sua assinatura aparece em diversos projetos residenciais e comerciais da cidade, sempre alinhados às tendências do ecletismo tardio com toques de racionalismo emergente.

No caso da residência geminada da Avenida Iguassú, Chaves demonstrou maestria na integração funcional e estética de dois lares distintos em uma única estrutura simétrica. Cada unidade — uma para José Bellegard, outra para Manoel da Rocha Kuster — possui identidade própria, mas dialoga harmoniosamente com a outra, criando uma fachada unificada e visualmente equilibrada.


O Projeto de 1936: Técnica, Simetria e Modernidade

O projeto arquitetônico, datado de 25 de março de 1936, foi registrado sob o Alvará de Construção nº 1839/1936 e inclui:

  • Plantas do pavimento térreo e superior
  • Planta de implantação
  • Corte longitudinal
  • Fachadas frontal e lateral esquerda

Tudo reunido em uma única prancha elaborada pelo escritório Gastão Chaves & Cia., firma responsável por traduzir a visão do arquiteto em desenhos técnicos precisos.

A construção seguiu a técnica de concreto armado, um marco da modernidade construtiva da época. Com dois pavimentos e área total de 206 m², a residência é classificada como de médio porte, o que reflete tanto o gosto pela moderação curitibana quanto a funcionalidade exigida por famílias urbanas de classe média-alta.

Apesar de ser uma residência geminada, o projeto não comprometeu a privacidade: cada unidade possui acesso independente, distribuição interna autônoma e espaços claramente delimitados — uma solução inteligente que antecipa princípios de habitação coletiva ainda hoje valorizados.


Avenida Iguassú: O Coração Urbano de uma Cidade em Expansão

Localizada em um dos eixos viários mais importantes de Curitiba, a Avenida Iguassú era, na década de 1930, o símbolo do crescimento ordenado da capital paranaense. Ali se concentravam residências de médicos, advogados, engenheiros e comerciantes — uma elite urbana que moldava o futuro da cidade com visão de progresso e civilidade.

A escolha deste endereço para a residência de Kuster e Bellegard não foi casual: era uma declaração de pertencimento a esse novo Curitiba — moderno, culto e cosmopolita, sem perder suas raízes regionais.


Situação Atual: Entre a Preservação e o Esquecimento

Em 2012, o imóvel ainda existia, conforme registrado em fotografia de Elizabeth Amorim de Castro, parte do acervo do Arquivo Público Municipal de Curitiba. No entanto, sua denominação atual é “Desocupada”, o que levanta preocupações sobre o futuro dessa edificação histórica.

Embora não esteja tombada oficialmente (até a data disponível), a residência representa um elo material com a arquitetura residencial pré-modernista da cidade — um período de transição crucial entre o ecletismo e o modernismo pleno que viria com os projetos de Alfredo Andersen, José Warchavchik e, posteriormente, os expoentes do urbanismo curitibano.

Sua preservação não é apenas uma questão estética, mas histórica e cultural: cada tijolo, cada viga de concreto armado, carrega a memória de uma geração que acreditava no poder transformador da arquitetura.


Conclusão: Um Monumento Silencioso à Vida Urbana

A residência geminada da Avenida Iguassú não é um palácio, nem uma obra de vanguarda radical. Mas é, justamente por isso, representativa: mostra como a modernidade entrou nas casas comuns de Curitiba — com discrição, funcionalidade e elegância.

Manoel da Rocha Kuster, ao lado de José Bellegard, não apenas construiu um teto, mas participou ativamente da construção simbólica de uma cidade. E Eduardo Fernando Chaves, com seu traço técnico e sensível, transformou esse desejo em concreto — literalmente.

Hoje, ao olharmos para essa edificação desocupada, devemos enxergar mais do que paredes vazias: vemos as aspirações de uma época, o cuidado com o lar, a crença no futuro e o orgulho de pertencer a uma Curitiba que crescia com dignidade.

Que sua história inspire novos olhares, novas pesquisas e, acima de tudo, novos esforços de preservação — porque nem todos os legados precisam ser monumentais para serem eternos.


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"As cidades se constroem com tijolos, mas se habitam com histórias. E esta, embora silenciosa, merece ser contada."

Eduardo Fernando Chaves: Arquiteto

Denominação inicial: Projecto de residência para o Snr. José Bellegard e Dr. Manoel da Rocha Kuster.

Denominação atual: Desocupada

Categoria (Uso): Residência Geminada
Subcategoria: Residência de Médio Porte

Endereço: Avenida Iguassú s/n.

Número de pavimentos: 2
Área do pavimento: 206,00 m²
Área Total: 206,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Concreto Armado

Data do Projeto Arquitetônico: 25/03/1936

Alvará de Construção: Nº 1839/1936

Descrição: Projeto Arquitetônico para a construção de Residência Geminada, Alvará de Construção com Memória de Cálculo e fotografia do imóvel.

Situação em 2012: Existente


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.
2 – Alvará de Construção.
3 – Fotografia do imóvel em 2012.

Referências: 

1 e 2 - GASTÃO CHAVES & CIA. Projecto para duas Residências. Avenida Iguassú s.n. Propriedade do Snr. José Bellegard e Dr. Manoel da Rocha Kuster. Plantas dos pavimentos térreo e superior e de implantação, corte e fachada frontal e lateral esquerda apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
2 - Alvará n.º 1839
3 – Fotografia de Elizabeth Amorim de Castro (2012).

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.

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