sábado, 1 de novembro de 2025

Mário de Souza Medeiros – Eduardo Fernando Chaves: Arquiteto e Construtor Um bangalô de alma moderna na Curitiba dos anos 1930

 Mário de Souza MedeirosEduardo Fernando Chaves: Arquiteto e Construtor

Um bangalô de alma moderna na Curitiba dos anos 1930

Em janeiro de 1936, enquanto Curitiba consolidava sua identidade urbana entre tradição e modernidade, o arquiteto e construtor Eduardo Fernando Chaves assinava um projeto singular: o “Projéto de Bungalow para o Snr. Mário de Souza Medeiros”, localizado na Rua Desembargador Motta, nº 2562. Embora modesto em dimensões — com apenas 111,00 m² distribuídos em um único pavimento —, o bangalô representava uma escolha estilística e funcional que dialogava com tendências arquitetônicas emergentes no Brasil e no mundo, especialmente aquelas que valorizavam a intimidade com a natureza, a simplicidade construtiva e a eficiência espacial.

Apesar de ter sido demolido antes ou durante o ano de 2012, o projeto permanece como um documento precioso da produção arquitetônica civil em Curitiba na primeira metade do século XX — uma época em que o ofício do arquiteto ainda se entrelaçava intimamente com o da construção, e em que figuras como Chaves desempenhavam papéis múltiplos: projetistas, técnicos, gestores de obra e, muitas vezes, conselheiros de seus clientes.


O bangalô como tipologia habitacional

A escolha do termo “bangalô” não era casual. Originário da Índia colonial britânica, o bangalô tornou-se popular no Ocidente no início do século XX como símbolo de vida simples, saudável e conectada ao entorno natural. No Brasil, especialmente nas décadas de 1920 a 1940, a tipologia foi adaptada às condições climáticas e sociais locais, aparecendo frequentemente em bairros residenciais de classe média como alternativa elegante e econômica à casa tradicional de dois pavimentos.

No caso do projeto para Mário de Souza Medeiros, o bangalô era composto por um único nível, com planta racional que integrava áreas sociais e íntimas de forma fluida. A inclusão de uma garagem independente, também projetada por Chaves, demonstra a crescente importância do automóvel na vida doméstica urbana — um sinal claro de modernidade para a época.


Características técnicas e compositivas

O projeto foi executado em alvenaria de tijolos, técnica dominante na construção civil curitibana até meados do século XX. Esse sistema permitia tanto resistência estrutural quanto liberdade estética, especialmente quando combinado com revestimentos de argamassa lisa, detalhes em madeira (portas, janelas, forros) e telhados de duas ou quatro águas com beirais pronunciados — elementos comuns nos bangalôs da era.

O Alvará de Construção nº 1689/1936, emitido pela Prefeitura Municipal de Curitiba, formalizou a obra perante as normas urbanísticas vigentes. A documentação preservada no Arquivo Público Municipal de Curitiba inclui:

  • Planta do pavimento térreo, com distribuição clara dos ambientes (sala, quartos, cozinha, área de serviço e banheiro);
  • Implantação no lote, revelando a relação da residência com os recuos frontais, laterais e fundos — essencial para garantir ventilação cruzada e privacidade;
  • Fachada frontal, provavelmente marcada por linhas horizontais suaves, janelas amplas e um alpendre ou varanda integrada — traços típicos do estilo bangalô;
  • Cortes C-D, que permitem visualizar a altura dos cômodos, inclinação do telhado e relação entre interior e exterior;
  • Projeto da garagem, com implantação, fachada e corte, indicando que o espaço para o automóvel era considerado parte integrante do programa residencial.

Todas essas informações estão reunidas em duas pranchas de microfilme digitalizado, testemunho do rigor técnico e da clareza gráfica de Eduardo Fernando Chaves.


Eduardo Fernando Chaves: arquiteto e construtor

Diferentemente dos arquitetos modernos, que muitas vezes se distanciavam da execução física da obra, Chaves atuava como arquiteto-construtor, figura comum na primeira metade do século XX, especialmente em cidades de médio porte como Curitiba. Essa dupla função garantia maior controle sobre o resultado final, além de uma relação mais próxima com o cliente — como certamente ocorreu com Mário de Souza Medeiros, cujo nome sugere pertencimento à elite profissional ou comercial da cidade.

Embora não seja amplamente celebrado na historiografia oficial da arquitetura paranaense, Chaves deixou uma herança silenciosa porém significativa: dezenas de residências, pequenos edifícios e projetos urbanos que moldaram o tecido cotidiano de Curitiba. Seus trabalhos refletem um ecletismo sensível, equilibrando referências históricas com necessidades contemporâneas, sem cair em excessos ornamentais nem em experimentalismos radicais.


O destino do bangalô e a memória urbana

Infelizmente, o bangalô da Rua Desembargador Motta não sobreviveu ao tempo. Sua demolição — provavelmente motivada por pressões imobiliárias ou pela deterioração estrutural — representa mais uma perda no patrimônio arquitetônico de base de Curitiba. No entanto, graças ao trabalho de preservação documental da Prefeitura Municipal e do Arquivo Público, o projeto permanece acessível como fonte histórica e técnica.

Sua existência, mesmo efêmera, nos lembra que a história urbana não é feita apenas de monumentos, mas também de casas comuns, projetadas com cuidado, habitadas com afeto e, muitas vezes, esquecidas sem justiça. Resgatar essas narrativas é um ato de reparação histórica e de valorização da cultura material cotidiana.


Conclusão

O bangalô projetado por Eduardo Fernando Chaves para Mário de Souza Medeiros em 1936 é um exemplo eloquente de como a arquitetura residencial de pequeno porte pode carregar em si valores estéticos, sociais e técnicos profundos. Sua simplicidade não era sinal de pobreza criativa, mas de clareza funcional e respeito pelo modo de vida de seu habitante. Hoje, embora ausente do mapa físico da cidade, ele permanece vivo nos arquivos — e na memória daqueles que acreditam que cada tijolo contém uma história.


#PatrimônioDeCuritiba
#BangalôAnos1930
#EduardoFernandoChaves
#MárioDeSouzaMedeiros
#ArquiteturaResidencialPR
#RuaDesembargadorMotta
#ArquiteturaDePequenoPorte
#AlvenariaDeTijolos
#ProjetosArquitetônicos1936
#Alvará1689
#ArquivoPúblicoMunicipalCuritiba
#HistóriaDaArquiteturaParanaense
#CasaDemolidaMemóriaPreservada
#ArquiteturaEcléticaCuritiba
#BangalôBrasileiro
#PatrimônioCulturalUrbano
#ArquiteturaEConstrução
#ResidênciaDeUmPavimento
#MemóriaUrbanaCuritiba
#PreservaçãoDoPatrimônioComum

Eduardo Fernando Chaves: Arquiteto e Construtor

Denominação inicial: Projéto de Bungalow para o Snr. Mário de Souza Medeiros

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Pequeno Porte

Endereço: Rua Desembargador Motta, nº 2562

Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 111,00 m²
Área Total: 111,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos

Data do Projeto Arquitetônico: 29/01/1936

Alvará de Construção: Nº 1689/1936

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de bangalô e garagem e Alvará de Construção.

Situação em 2012: Demolido


Imagens

1- Projeto Arquitetônico.
2 - Cortes C-D da resdência.
2 - Alvará de Construção.

Referências: 

1 – CHAVES, Eduardo Fernando. Projéto de Bungalow para o Snr. Mário de Souza Medeiros. Planta do pavimento térreo e implantação; corte e fachada frontal da residência; implantação de garagem, fachada e corte. Cortes C-D da residência, representados em duas pranchas. Microfilme digitalizado.
2 - Alvará n.º 1689

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.

Nenhum comentário:

Postar um comentário