domingo, 30 de novembro de 2025

Maria Trevisani e Sua Casa de Madeira na Rua Bandeirantes: Um Retrato da Moradia Econômica em Curitiba nos Anos 1920

 Eduardo Fernando Chaves:  Projetista

Denominação inicial: Projecto de casa para Snra. Maria Trevisani

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência Econômica

Endereço: Rua Bandeirantes

Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 70,00 m²
Área Total: 70,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Madeira

Data do Projeto Arquitetônico: 07/12/1926

Alvará de Construção: Nº 5316/1926

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de uma casa de madeira.

Situação em 2012: Demolido


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.

Referências: 

1 - GASTÃO CHAVES & CIA. Projecto de casa para Snra. Maria Trevisani à Rua Bandeirantes. Plantas do pavimento térreo e de implantação, corte e fachada frontal apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba.

Maria Trevisani e Sua Casa de Madeira na Rua Bandeirantes: Um Retrato da Moradia Econômica em Curitiba nos Anos 1920

Em 7 de dezembro de 1926, em meio ao fervor do crescimento urbano de Curitiba, foi registrado um pequeno, porém significativo, ato de construção civil: o projeto arquitetônico de uma residência de madeira para a senhora Maria Trevisani, localizada na Rua Bandeirantes. Assinado pelo projetista Eduardo Fernando Chaves, vinculado à firma Gastão Chaves & Cia., o documento revela mais do que linhas e medidas — revela um modo de viver, uma classe social emergente e uma cidade em transformação.


Uma Casa Simples, Uma História Profunda

Com apenas um pavimento e 70 metros quadrados, a residência projetada para Maria Trevisani enquadra-se na categoria de “Residência Econômica” — uma tipologia que respondeu às necessidades habitacionais de uma população urbana em expansão, composta em grande parte por trabalhadores, pequenos comerciantes e imigrantes. Feita inteiramente de madeira, material abundante e acessível na época, a casa representava o ideal de dignidade, praticidade e pertencimento para famílias de classe média-baixa em Curitiba.

O projeto, registrado sob o Alvará de Construção nº 5316/1926, incluía plantas detalhadas do pavimento térreo, implantação no terreno, corte e fachada frontal — tudo disposto em uma única prancha, como era comum na prática arquitetônica da época. A simplicidade do desenho não diminui seu valor histórico; ao contrário, ela é precisamente o que a torna representativa de um momento decisivo na urbanização da capital paranaense.


Maria Trevisani: A Mulher por Trás da Fachada

Embora os arquivos públicos não revelem muito sobre sua vida pessoal — origem, profissão, família — o fato de Maria Trevisani ter encomendado uma casa em seu próprio nome, em 1926, já é um testemunho de autonomia. Naquele contexto, era incomum — ainda que não impossível — que mulheres fossem titulares de propriedade ou responsáveis por empreendimentos construtivos. Seu nome gravado no alvará e no título do projeto ("Projecto de casa para Snra. Maria Trevisani") a coloca não apenas como moradora, mas como agente ativa na configuração do espaço urbano.

Sua escolha pela Gastão Chaves & Cia., escritório conhecido por projetos acessíveis e bem resolvidos, sugere discernimento e cuidado. Eduardo Fernando Chaves, o projetista, atuava com sensibilidade às limitações orçamentárias sem abdicar da funcionalidade — cada cômodo, cada janela, cada varanda projetada servia a um propósito claro: abrigar com decência.


O Desaparecimento Físico, a Permanência Simbólica

Infelizmente, a casa foi demolida antes de 2012, como registram os levantamentos patrimoniais da cidade. Hoje, nada resta da estrutura de madeira que um dia abrigou os sonhos, as refeições, os silêncios e as conversas de Maria Trevisani e, possivelmente, de sua família. Mas o projeto original, felizmente preservado em microfilme digitalizado no Arquivo Público Municipal de Curitiba, permite que sua memória sobreviva.

Mais do que um documento técnico, esse projeto é um documento humano. Ele nos lembra que, antes das ruas asfaltadas, dos prédios verticais e dos condomínios fechados, Curitiba foi feita de casas modestas, sonhos individuais e pessoas como Maria Trevisani — cuja simples existência contribuiu para a tessitura social da cidade.


Legado

A residência de Maria Trevisani pode não ter sido tombada, nem ter se tornado um museu, mas ela pertence à história cotidiana — essa que raramente aparece nos livros, mas que forma o verdadeiro alicerce de uma metrópole. Ao recuperar seu nome e sua casa, honramos todas as Marias cujas vidas simples moldaram, tijolo por tijolo, a Curitiba que conhecemos hoje.

“Uma cidade não se constrói apenas com cimento, mas com as vidas que nela habitam — mesmo que por pouco tempo.”


Ficha Técnica da Obra

  • Proprietária: Maria Trevisani
  • Projetista: Eduardo Fernando Chaves (Gastão Chaves & Cia.)
  • Endereço: Rua Bandeirantes, Curitiba – PR
  • Data do Projeto: 07/12/1926
  • Alvará: nº 5316/1926
  • Tipo: Residência Econômica
  • Material: Madeira
  • Área: 70,00 m² (térreo único)
  • Situação em 2012: Demolida
  • Documentação preservada: Arquivo Público Municipal de Curitiba (Microfilme digitalizado)

Mathilde Escolastica Wilhermine Gunther Nascida a 20 de agosto de 1874 (quinta-feira) - Curitiba, Parana, Brasil Falecida a 3 de agosto de 1944 (quinta-feira) - Brasil, com a idade de 69 anos

 Mathilde Escolastica Wilhermine Gunther Nascida a 20 de agosto de 1874 (quinta-feira) - Curitiba, Parana, Brasil Falecida a 3 de agosto de 1944 (quinta-feira) - Brasil, com a idade de 69 anos


Mathilde Escolastica Wilhermine Gunther: Entre o Legado Alemão e a Alma Paranaense

Curitiba, Paraná — 20 de agosto de 1874, uma quinta-feira marcada pela bruma fria da Serra do Mar. Na cidade que ainda respirava os ecos das primeiras levas de imigrantes europeus, nascia Mathilde Escolastica Wilhermine Gunther, filha de um amor interrompido pela tragédia, herdeira de nomes germânicos e raízes profundamente brasileiras.

Seus pais eram figuras marcadas pelo tempo conturbado da imigração pós-colonial no Sul do Brasil. Seu pai biológico — ou presumido em registros genealógicos como Johann Henrich Christoph Jordan (c. 1824–1855) — falecera antes mesmo do seu nascimento, deixando um legado tênue, quase fantasmagórico. Sua mãe, Verene Mueller (1832–1875), viúva ainda jovem, carregava consigo a dor da perda e a responsabilidade de erguer uma família em meio à incerteza.

Mathilde não nasceu sob o sobrenome Jordan, mas Gunther — indício de que, após a morte de seu primeiro marido, Verene pode ter se casado novamente ou adotado outro vínculo familiar. Esse detalhe, comum entre famílias imigrantes do século XIX, reflete a complexidade dos laços afetivos e legais em uma sociedade em formação.

A infância de Mathilde foi breve demais. Com apenas 16 meses de vida, em 25 de dezembro de 1875, ela perdeu a mãe — Verene Mueller faleceu em Curitiba, deixando órfãos não apenas Mathilde, mas também suas irmãs e irmãos mais velhos. Entre eles:

  • Henrich Otto Jordan (1852–1911), seu meio-irmão, que viveria até os 59 anos, falecendo em Rio Claro, São Paulo;
  • Luise Catharina Ursula Zacarias Jordan (1854–?), cujo destino permanece velado pelo tempo;
  • e Maria Sebastiana Ottilie Gunther (1868–1944), sua irmã mais próxima em idade — com quem compartilharia não apenas a infância marcada pela orfandade, mas também o ano da morte.

Criada em Curitiba — então uma cidade pequena, de ruas de terra, casas de madeira enxaimel e igrejas erguidas com devoção luterana e católica — Mathilde cresceu sob a tutela de parentes, tutores ou talvez da própria irmã mais velha, Ottilie. A ausência dos pais desde tão cedo forjou nela uma resiliência silenciosa, típica das mulheres daquele tempo, que aprendiam cedo a costurar, rezar, cuidar e sobreviver.

Embora os registros não mencionem casamento ou filhos de Mathilde, sua vida se entrelaça profundamente com a de Maria Sebastiana Ottilie Gunther. As duas viveram juntas por 69 anos, enfrentando as mesmas tempestades históricas: a Proclamação da República, as guerras mundiais ecoando nas colônias alemãs, a perseguição aos nomes germânicos durante o Estado Novo, e a transformação de Curitiba de vila rural a capital em ascensão.

Em 8 de março de 1944, apenas cinco meses antes de sua própria morte, Mathilde despediu-se de sua irmã Ottilie, que faleceu em Curitiba. Era o fim de um elo que resistira a sete décadas de perdas, silêncios e afetos não ditos.

Mathilde faleceu em 3 de agosto de 1944, quinta-feira, exatamente 70 anos após o dia de seu nascimento — faltando apenas 17 dias para completar 70 anos. Morreu no Brasil, provavelmente em Curitiba, onde viveu quase toda a sua existência. Seu corpo foi sepultado, mas seu nome permaneceu — gravado em registros civis, em árvores genealógicas, e agora, nesta homenagem.

Seu nome composto — Mathilde Escolastica Wilhermine — é um mosaico cultural:

  • Mathilde, de origem germânica, significa “poderosa na batalha”;
  • Escolástica, em homenagem à tradição católica (Santa Escolástica, irmã de São Bento);
  • Wilhermine, variante de Wilhelm, ligada à nobreza teutônica.

Esse nome não era comum. Era uma declaração de identidade — entre a fé, a herança europeia e a nova pátria brasileira.

Mathilde jamais soube que, um dia, alguém voltaria os olhos para sua história. Que sua data de nascimento, registrada em um livro empoeirado, seria lida com emoção. Que sua orfandade precoce, sua vida discreta, seu fim solitário, seriam ressignificados como ato de coragem.

Ela não liderou revoluções, não escreveu livros, não ergueu impérios. Mas existiu com dignidade em um mundo que raramente registrava as mulheres comuns — exceto nos nascimentos, casamentos e óbitos.

Hoje, ao lembrá-la, não apenas recuperamos uma ancestral:
honramos todas as mulheres silenciosas que, sem heróis ao lado, construíram famílias com as próprias mãos.


Mathilde Escolastica Wilhermine Gunther
Curitiba, 20 de agosto de 1874 — Brasil, 3 de agosto de 1944
Filha da dor, irmã da lealdade, guardiã anônima da memória germânico-paranaense.

Que seu nome não se apague.

  • Nascida a 20 de agosto de 1874 (quinta-feira) - Curitiba, Parana, Brasil
  • Falecida a 3 de agosto de 1944 (quinta-feira) - Brasil, com a idade de 69 anos

 Pais

 Irmãos

 Notas

Notas individuais

Married name : Röhrig

 Fontes

  • Pessoa: Árvore Genealógica do FamilySearch - Mathilde Escolastica Wilhermine Röhrig (nascida Gunther)<br>Nomes de nascimento: Matilde Escolastica Wilhermine GuntherMathilde Escolastica Wilhermine Gunther<br>Gênero: Feminino<br>Nascimento: 20 de ago de 1874 - Curitiba, Parana, Brasil<br>Morte: 3 de ago de 1944 - Brasil<br>Pais: David Heinrich Carl Gunther, Verena Muller<br>Esposo: Anton Rudolf Röhrig<br>Filhos: Elsa Becker (nascida Rohrig), Ewaldo Rohrig, Elvira Buchholtz (nascida Röhrig), Eleonora Victoria Theinel (nascida Rohrig), Irma Von der Osten (nascida Röhrig), Egon Rohrig, Evaldo Rodolpho Rohrig, Irene becker (nascida Rohrig), Waldemar Rohrig, Eurico Rohrig<br>Irmãos: Emilio Heinrich Gustav Emil Gunther, Carlos Johannes Friedrich Carl Gunther, Verena Elisabeth LOUISE Wollner (nascida Gunther), Anna Barbara Ursula Meister (nascida Guinther), Louis August Cornelius Gunther, Theodor Georg Paul Gunther, Maria Sebastiana Ottilie Meyer (nascida Gunther), Carlos Peter Frederich Gunther, Johan Heinrich Carl Gunther, Georg Gunter, Henrich Otto Jordan, Luise Catharina Ursula Zacarias Krüger (nascida Jordan) - Record - 40001:799442507:

 Ver árvore

  sosa Johannes Mueller 1799-1875 sosa Anna Tanner 1800-ca 1851
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sosa Johann Henrich Christoph Jordan ca 1824-1855 sosa Verene Mueller 1832-1875
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Mathilde Escolastica Wilhermine Gunther 1874-1944
187420 ago.
1875
um ano
187525 dez.
16 meses
191128 mar.
36 anos
19448 mar.
69 anos
19443 ago.
69 anos

Morte

 
Brasil

Antepassados de Mathilde Escolastica Wilhermine Gunther

  Johannes Mueller 1799-1875 Anna Tanner 1800-ca 1851
  |- 1827 -|
  


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Johann Henrich Christoph Jordan ca 1824-1855 Verene Mueller 1832-1875
|- 1854 -|



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Mathilde Escolastica Wilhermine Gunther 1874-1944