Andava beirando os seis anos quando, pelas mãos ainda jovens de minha mãe, fui levado da rua Dr. Pedrosa, onde morávamos, para uma velha casa em meio à André de Barros, endereço da professora mais famosa da época.
A Escola de Dona Carola
Lauro Grein Filho
Andava beirando os seis anos quando, pelas mãos ainda jovens de minha mãe, fui levado da rua Dr. Pedrosa, onde morávamos, para uma velha casa em meio à André de Barros, endereço da professora mais famosa da época.
Com a mestra, uma senhora miúda e simpática, em cuja fala cantava o peculiar acento nordestino, minha mãe conversou a respeito do novo aluno, já alfabetizado e um tanto desenvolto nas quatro operações.Ajustadas na hora e no preço de vinte mil réis por mês, D. Carola assegurou à interessada que 1a "puxar"pelo menino, o que desse e pudesse.
Assim que minha mãe saiu, a professora colocou-me defronte ao quadro negro, onde me submeteu a um breve exame oral para ver até onde 1a em português e aritmética.
Somei e diminuí bem, multipliquei regularmente e dividi mal. A sala era retangular, com duas alas de carteiras contíguas que se estendiam por todo comprimento. À frente de tudo D. Carola, em pé, ou sentada na janela, comandando, corrigindo, ensinando. A disciplina era observada à risca e ninguém ousava infrigí-la. Não só pelo respeito que a professora inspirava, como pelo temor às reguadas que estalavam fáceis ao mínimo sinal de mau comportamento.
A escola preparava para os exames de admissão ao Ginásio e Escola Normal.
Estudava-se de tudo: aritmética desde os enormes carroções do livro de Souza Lobo, até álgebra, juros e câmbio.
Em português eram as análises gramáticas, mais que as lógicas, as composições e os ditados extraídos dos "Autores Contemporâneos". Geografia decorava-se no "O Brasil e o Paraná", de Sebastião Paraná. Nesse livro aprendi que a população do Brasil era de 36 milhões de habitantes e a superfície de 8.000.767.01 lkms2.
Não existia recreio, nem intervalos, nem chamadas, nem perda de tempo. O estudo era incessante e só na saída das aul.is é que sobravam opurtunidades para as brincadeiras de rua, pelada, búrico, ou pião, conforme as temporadas. A classe era mista de meninos e meninas, unidos por uma camaradagem sadia que a todos confraternizava na estima e no bom entendimento.
A Escola manteve-se aberta durante pelo menos trinta anos na mesma quadra da André de Barros, próxima à Floriano, instruindo e educando centenas e centenas de crianças.
Recordo e reconheço todos os colegas daquele tempo e daqueles bancos, médicos, advogados, engenheiros, magistrados, presidentes de Clubes, de Entidades, da Boca, etc. D. Carola há muito desapareceu.
Sua imagem lembrada e perpetuada em nome de rua, marca uma página na História da cultura paranaense.
Da mestra e seus alunos, para tudo dizer, seriam poucas as muitas folhas de um livro. O livro que D. Carola merece.
Lauro Grein Filho é do Centro de Letras do Paraná.
Nenhum comentário:
Postar um comentário