A pacata Curitiba dos anos 40 oferecia poucas opurtunidades de " modernos" entreterimentos a garotada.
Russo ou Polaco?
Sérgio Luiz Chautard
A pacata Curitiba dos anos 40 oferecia poucas opurtunidades de " modernos" entreterimentos a garotada.
Hoje comparando vemos o quanto perdemos em espaços livres de poluição, mas naquele tempo ainda não percebíamos o tesouro que dispúnhamos.
A grande novidade eletrônica era o rádio e os programas de auditório que geravam.
A PRB-2 tinha seu auditório na Rua Barão do Rio Branco e nele se acomodavam umas cento e cinqüenta pessoas que disputavam o previlégio de assistir programas ao vivo.
A variedade era grande e especialmente os programas de calouros que imitavam, localmente, a famosa Hora do Pato, da Rádio Nacional do Rio de Janeiro.
Existiam também sessões de cinema naqueles auditórios visando chamar mais gente para os já concorridos lugares.
Também pagava-se entrada variando o custo conforme a importância do que se apresentava.
Mas um dos programas mais disputados era, sem dúvida, o que dirigia à platéia diversas perguntas premiando o acertador.
Grupos se organizavam para responder corretamente e faturar os prêmios.
Muitos prêmios eram em dinheiro de cinco a cincoenta mil réis, verdadeiras fortunas.
Outros prêmios eram em espécie e de uma variedade incrível.
Além das perguntas normais sobre futebol, história, geografia, etc, haviam algumas que consistia em o contra-regra, na sala de comando da rádio, tocar parte de um disco, normalmente música, autor, etc, enfim perguntas sobre música e seus executantes eram usuais.
Uma das indústrias que ajudavam nos prêmios em espécie era a já vitoriosa Todeschini que sempre oferecia "cinco quilogramas da bala de ovos Rainha". Numa dessas ocasiões em que o prêmio eram esses quilos de balas a pergunta arremessada à platéia foi:
"O violinista Alexander Brailovski é russo ou polaco?"
Imediatamente o auditório separou-se em dois grupos ululantes que respondiam simultaneamente "Russso", "Polaco" um verdadeiro pandemonio sob a batuta do animador que ia, sorridente, recebendo as duas únicas respostas aparentemente possíveis.
No meio daquela selva de braços erguidos existia o de um garoto que nada dizia mas pedia a palavra por gestos e que acabou sendo notado pelo animador que esperando prolongar a festa, fez a opção: disse "Vamos ouvir o garoto ali".
- Não sei se é russo ou polaco mas Alexandre Brailovski não é violinista e sim pianista.
Fui vaiado, cuspido, xingado, mas levei meus cinco quilos de bala.
Anos mais tarde tive o prazer de assistir a um concerto de piano, no Municipal do Rio, com o meu ídolo de então.
Nunca mais, porém após aquela vitória, consegui gostar de bala de ovos!
Sérgio Luiz Chautard é técnico industrial, professor e sindicalista.
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