Histórias de Curitiba - Habeas Corpus ao Jacaré
Habeas Corpus ao Jacaré
Luiz Geraldo Mazza
Um dos bares mais populares de Curitiba nos anos 50 e 60 era o "Cinelândia"que operava na Rua Ermelino de Leão e tinha como prato de resistência duas coisas: um ralado de limão, ver-díssimo, com pinga, e os pratos na base da culinária exótica (carne de jacaré, tartaruga, codorna e perdiz, tatu, paca). Ja, à essa época, existia a Divisão de Defesa da Flora e Fauna a quem cabia fiscalizar os abusos da área porque infelizmente ainda não tínhamos eco-chatos em número suficiente para a defesa conservacionista. O bar era um sarro, porque bebuns clássicos volta e meia se espantavam, acreditando que viam a realidade transfigurada, quando notavam um jacaré com um enorme anzol à boca saindo do banheiro em direção ao refeitório.
Na verdade isso não deveria espantar, pois um dos macetes da casa era colocar suas iguarias, vivas, lá na porta como propaganda: tartarugas i-mensas, por exemplo, e nas quais, para testar-lhes a resistência, algumas pessoas pisavam na sua carapaça e posavam para fotografias.
Por um dia, a Defesa da Fauna foi até o bar que era atendido pelo Vítor, sócio do "Ligei-rinho"que iria mais tarde assumir a Confeitaria Stuart, e lá chegando a fiscalização exibiu a inflação praticada: era uma falta de enquadramento adequado em alíneas de animais de pesca ou captura, pois apesar do anzol enorme no focinho o jacaré não tinha uma definição precisa se decorrente de uma situação ou de outra. E para certar essa situação indefinida, a fiscalização pintou no recinto e exigiu a apreensão do réptil.
Para os freqüentadores, alguns deles bem além de Bagdá e às vezes enxergando coisas bem mais fantásticas a escorrer pelas paredes, a atuação dos fiscais uniformizados era um cenário de sonambulismo, e tudo ficou muito mais estranho ainda quando o jacaré passou a dar rabanadas, a três por dois, colocando em fuga os servidores públicos e obrigando boa parte dos freqüentadores a subir nas mesas para evitar riscos maiores.
Na seqüência desse filme chapliniano, da fase muda, o a-nimal, é lógico, acabou dominado, a casa foi devidamente multada, mas em compensação, dos que se achavam no recinto a maioria se imaginou envolvida numa saga inesquecível em que os mais ágeis e acrobatas foram aqueles que a despeito de alcoolizados conseguiram subir nas mesas e manter o equilíbrio com receio das terríveis rabanadas do jacaré. Mais tarde, isso já na Stuart, vulgarizou-se o prato à base de testículos de boi.
Imagina-se que se como no caso da antiga "Cinelândia"se sacrificasse no local os touros para produzir aquele requinte culinário!
Luiz Geraldo Mazza é jornalista.
Luiz Geraldo Mazza
Um dos bares mais populares de Curitiba nos anos 50 e 60 era o "Cinelândia"que operava na Rua Ermelino de Leão e tinha como prato de resistência duas coisas: um ralado de limão, ver-díssimo, com pinga, e os pratos na base da culinária exótica (carne de jacaré, tartaruga, codorna e perdiz, tatu, paca). Ja, à essa época, existia a Divisão de Defesa da Flora e Fauna a quem cabia fiscalizar os abusos da área porque infelizmente ainda não tínhamos eco-chatos em número suficiente para a defesa conservacionista. O bar era um sarro, porque bebuns clássicos volta e meia se espantavam, acreditando que viam a realidade transfigurada, quando notavam um jacaré com um enorme anzol à boca saindo do banheiro em direção ao refeitório.
Na verdade isso não deveria espantar, pois um dos macetes da casa era colocar suas iguarias, vivas, lá na porta como propaganda: tartarugas i-mensas, por exemplo, e nas quais, para testar-lhes a resistência, algumas pessoas pisavam na sua carapaça e posavam para fotografias.
Por um dia, a Defesa da Fauna foi até o bar que era atendido pelo Vítor, sócio do "Ligei-rinho"que iria mais tarde assumir a Confeitaria Stuart, e lá chegando a fiscalização exibiu a inflação praticada: era uma falta de enquadramento adequado em alíneas de animais de pesca ou captura, pois apesar do anzol enorme no focinho o jacaré não tinha uma definição precisa se decorrente de uma situação ou de outra. E para certar essa situação indefinida, a fiscalização pintou no recinto e exigiu a apreensão do réptil.
Para os freqüentadores, alguns deles bem além de Bagdá e às vezes enxergando coisas bem mais fantásticas a escorrer pelas paredes, a atuação dos fiscais uniformizados era um cenário de sonambulismo, e tudo ficou muito mais estranho ainda quando o jacaré passou a dar rabanadas, a três por dois, colocando em fuga os servidores públicos e obrigando boa parte dos freqüentadores a subir nas mesas para evitar riscos maiores.
Na seqüência desse filme chapliniano, da fase muda, o a-nimal, é lógico, acabou dominado, a casa foi devidamente multada, mas em compensação, dos que se achavam no recinto a maioria se imaginou envolvida numa saga inesquecível em que os mais ágeis e acrobatas foram aqueles que a despeito de alcoolizados conseguiram subir nas mesas e manter o equilíbrio com receio das terríveis rabanadas do jacaré. Mais tarde, isso já na Stuart, vulgarizou-se o prato à base de testículos de boi.
Imagina-se que se como no caso da antiga "Cinelândia"se sacrificasse no local os touros para produzir aquele requinte culinário!
Luiz Geraldo Mazza é jornalista.
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