Histórias de Curitiba - Nêga Balão
Nêga Balão
Odilon de Oliveira Carneiro
Curitiba sempre teve através dos tempos, entre sua gente, figuras populares que marcaram época por suas estrepolias, singularidades, reações hilárias, outras violentas, apalhaçadas às vezes, inteligentes, poucas.
De minha infância de Maria Pelanca, adolescência de "Ca-chorrinho", mocidade de "Caju Pé de Bicho", maturidade de "Gilda", lembro até hoje, com um misto de saudade e pavor, da estupenda e impetuosa Nêga Balão.
Preta retinta, bonduda, sempre séria mas com dentes alvos e lindos nos seus raros momentos de sorrir.
Alcoolizada e provocada, virava o dêmo. Aí, sai da frente.
De certa feita, o meu irmão Zé Carlos chegando em casa encontrou a nossa vó Brasília bastante satisfeita, aos risos e pulinhos.
Até que enfim, disse ela, havia encontrado uma empregada asseada, trabalhadora e que tudo levava a crer, ótima de forno e fogão.
Meu irmão, curioso, foi até a cozinha para dar uma olhada na cuja.
Voltou apavorado.
- Vó, a senhora empregou nada mais nada menos que a famosa e perigosa Maria Balão.
Sem se perturbar, foi a saudosa senhora até perto da recém-empregada e, observando-a bem, notou se tratar na verdade de pessoa um tanto estranha e algo lhe disse não se tratar de flor de bom aroma. O susto foi grande ao perceber, por baixo da blusa que vestia, a ponta de uma faca.
Com bastante jeito, pediu para a preta ir comprar no armazém do Zé Cisac, na Praça Zacarias, arroz, feijão ou sei lá o quê.
Ao ultrapassar a porta que dava para o corredor de saída, minha avó, ágil e esperta, fechou e trancou a mesma.
Aí começou a inana.
Maria Balão, aos berros e impropérios, dava murros e pontapés violentíssimos na porta que, demorasse um pouco, seria arrombada.
Os habitantes da casa, todos nós e até o gatinho de estimação, das janelas da frente da casa, clamávamos por socorro.
Um guarda que fazia a vigilância do Grupo Anexo, em frente de nossa residência, atendendo aos rogos que fazíamos em desespero, enfrentou a negra furiosa "no braço" e no exato momento em que a mesma começava a puxar o facão que portava. Nêga Balão, a famosa figura exótica de meus oito anos, foi presa.
Hoje, quase setentão, quando na Boca Maldita alguém me aponta alguém, dizendo se tratar de um tipo popular, dou um passo em ré, precavido.
Nêga Balão, dona dos palavrões e dos ódios.
Proprietária da anarquia, mas de dentes alvos e lindos, nos seus raros sorrisos.
Nêga Balão, figura lendária...
Odilon de Oliveira Carneiro é advogado e procurador de justiça aposentado
Odilon de Oliveira Carneiro
Curitiba sempre teve através dos tempos, entre sua gente, figuras populares que marcaram época por suas estrepolias, singularidades, reações hilárias, outras violentas, apalhaçadas às vezes, inteligentes, poucas.
De minha infância de Maria Pelanca, adolescência de "Ca-chorrinho", mocidade de "Caju Pé de Bicho", maturidade de "Gilda", lembro até hoje, com um misto de saudade e pavor, da estupenda e impetuosa Nêga Balão.
Preta retinta, bonduda, sempre séria mas com dentes alvos e lindos nos seus raros momentos de sorrir.
Alcoolizada e provocada, virava o dêmo. Aí, sai da frente.
De certa feita, o meu irmão Zé Carlos chegando em casa encontrou a nossa vó Brasília bastante satisfeita, aos risos e pulinhos.
Até que enfim, disse ela, havia encontrado uma empregada asseada, trabalhadora e que tudo levava a crer, ótima de forno e fogão.
Meu irmão, curioso, foi até a cozinha para dar uma olhada na cuja.
Voltou apavorado.
- Vó, a senhora empregou nada mais nada menos que a famosa e perigosa Maria Balão.
Sem se perturbar, foi a saudosa senhora até perto da recém-empregada e, observando-a bem, notou se tratar na verdade de pessoa um tanto estranha e algo lhe disse não se tratar de flor de bom aroma. O susto foi grande ao perceber, por baixo da blusa que vestia, a ponta de uma faca.
Com bastante jeito, pediu para a preta ir comprar no armazém do Zé Cisac, na Praça Zacarias, arroz, feijão ou sei lá o quê.
Ao ultrapassar a porta que dava para o corredor de saída, minha avó, ágil e esperta, fechou e trancou a mesma.
Aí começou a inana.
Maria Balão, aos berros e impropérios, dava murros e pontapés violentíssimos na porta que, demorasse um pouco, seria arrombada.
Os habitantes da casa, todos nós e até o gatinho de estimação, das janelas da frente da casa, clamávamos por socorro.
Um guarda que fazia a vigilância do Grupo Anexo, em frente de nossa residência, atendendo aos rogos que fazíamos em desespero, enfrentou a negra furiosa "no braço" e no exato momento em que a mesma começava a puxar o facão que portava. Nêga Balão, a famosa figura exótica de meus oito anos, foi presa.
Hoje, quase setentão, quando na Boca Maldita alguém me aponta alguém, dizendo se tratar de um tipo popular, dou um passo em ré, precavido.
Nêga Balão, dona dos palavrões e dos ódios.
Proprietária da anarquia, mas de dentes alvos e lindos, nos seus raros sorrisos.
Nêga Balão, figura lendária...
Odilon de Oliveira Carneiro é advogado e procurador de justiça aposentado
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