segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Um dia, descendo a Vicente Machado, levei um grande susto. Estavam demolindo o antigo Colégio Belmiro César. Um filme passou em minha memória, o que aumentou a revolta e mágoa diante do que estava acontecendo.

 Um dia, descendo a Vicente Machado, levei um grande susto.
Estavam demolindo o antigo Colégio Belmiro César.
Um filme passou em minha memória, o que aumentou a revolta e mágoa diante do que estava acontecendo.
Histórias de Curitiba - O Belmiro César


O Belmiro César
Vinicius Coelho

Um dia, descendo a Vicente Machado, levei um grande susto.
Estavam demolindo o antigo Colégio Belmiro César.
Um filme passou em minha memória, o que aumentou a revolta e mágoa diante do que estava acontecendo.
Uma empresa comprava imóvel e para evitar o tombamento colocava o prédio abaixo, mesmo sem aproveitar o terreno, o que até hoje ainda não aconteceu.
Peguei os jornais do dia, da semana e nenhum falou sobre o acontecimento.
Que tristeza, que falta de memória.
O Belmiro César teve importância fundamental na formação de gente da maior repre-sentatividade da Sociedade Paranaense.
Por ali passaram figuras como Jayme Canet, Geroldo Hau-er, Raul, Renato, Vladimir e ítalo Trombini, David e Berek Kriger, Luiz Affonso Camargo, Salomão Soifer, Tato Taborda, desembargadores Abrahão Miguel e Negi Calixto e mais uma lista infindável de grandes figuras.
Sua origem era a Escola Americana, fundada por missionárias dos EUA. Com a transferência de miss Ida Kholb para o Mackenzie, em São Paulo, o professor Luiz César adquiriu o Colégio e fundou o Belmiro na década de 30.
Excelente educador, tinha na família uma sustentação de estrutura, onde dona Maria o auxiliava e os filhos Marlus, Henrique (desembargador e hoje Corregedor da Justiça do Paraná), Cleuza e Milce figuravam no "Firme, Forte, Franco e Fiel"com presença marcante.
Tinha professores de alto gabarito na época, como o Scheil (matemática), Arthur Borges de Macedo (ciências), Bento Mossu-runga (música), Guido Viaro (desenho) que era o professor de melhor pontaria com um apagador, Ivete Durski (português) por quem me descobri apaixonado, mas verifiquei que toda classe era apaixonada por ela e "rompi"em dois dias, miss Sophia (inglês), Vidal Vanhoni (história), mais tarde deputado e secretário de Educação.
Gente de melhor qualidade, não esquecendo do professor Mon-drone, que dava educação Física e ficava com pena dos alunos às 6 da manhã com um frio de 2 graus e acabava abrandando a aula.
Um dia, um incidente aconteceu.
Incidente diplomático.
Dois filhos de Mr. Charles Fulton, um inglês que dava aulas em Curitiba, estudavam lá. E o Valmor Coelho, gênio da nossa turma e hoje um consagrado advogado, tomou conta de um recreio numa discussão com o mais velho dos Fulton.
Os dois não admitiam que eram brasileiros.
Nasceram aqui, mas foram registrados no consulado e portanto eram ingleses.
Valmor, mais nacionalista do que nunca, argumentava com sua verborragia vasta e sua inteligência incomum:
- "Vocês são brasileiros".
- "Não.
Somos ingleses".
A torcida era grande, o apoio ao Valmor era total. Só seii que acabaram dando uma gravata no empertigado britânico, que vendo o final da guerra, vencido pela força física e não entendendo a força verbal, ainda assim teve sua saída.
- "Vocês são, ou não são brasileiros?"...
- "Yes, sir".

Vinicius Coelho é jornalista.

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