quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

A colônia dos italianos na Lapa

 

A colônia dos italianos na Lapa

Gemin, Caus, Favaro, Tom, Cavallin, Baggio, Ricetto, Delponte, Ferrari, Sera, Piovezan, Scandelari, Pierin e Fantin. Sabe o que esses sobrenomes tão presentes na Lapa têm em comum? Todos são de famílias que saíram do norte da Itália no século XIX e chegaram à Lapa em 1889. Hoje, 128 anos depois, muitos dos descendentes dessas famílias nunca mais saíram daqui, continuam no município e viraram lapeanos de verdade. “Na década de 1880 essas famílias, que moravam em cidades pequenas do interior da Itália passavam por muitas dificuldades. O país vivia um momento de revolução industrial e a imigração para outros países foi muito grande. Então eles partiram rumo ao Brasil em busca de oportunidades”, conta a professora aposentada e descendente de italianos, Nídia Gemin.

A viagem que saiu de Gênova, e teve uma parada na França, durou cerca de três meses até chegar ao seu destino final, o porto de Santos no Brasil. Em janeiro de 1889 essas famílias chegam à Lapa e são encaminhadas e instaladas na Colônia Wirmond, mais tarde denominada de Colônia São Carlos. Os italianos trouxeram da Europa apenas a vontade de trabalhar e a religiosidade, tanto que a primeira construção de alvenaria na Colônia São Carlos foi uma igreja.

interior da igreja

Interior da Igreja de São Carlos

Mas, as dificuldades no começo foram imensas. Ao contrário do que os imigrantes imaginavam, eles receberam terras improdutivas. A região da Colônia São Carlos, dominada por pedras, não ajudava em nada o trabalho agrícola realizado pelos italianos, e a colônia inicialmente não prosperou como todos esperavam. Com as dificuldades muitos se mudaram, deixaram a colônia e passaram a morar na Lapa ou em Curitiba, mas outros continuaram no local e existem famílias que conservam até hoje aquelas propriedades de terras.

Os italianos foram muito importantes para a economia da Lapa naquela época. “Muitas daquelas famílias tinham pouco estudo, mas era um estudo de qualidade, diferente do Brasil. Então quando eles viram que a agricultura na colônia não seria um negócio rentável, eles acharam outras alternativas, abriram armazéns na cidade, moinhos e outras empresas”, conta Nídia.

Um exemplo disso é a Refratário Scandelari, fundada em 1932 por um imigrante italiano. Hoje, com 85 anos de existência a empresa é a mais antiga em funcionamento na Lapa.

Atualmente na Colônia São Carlos existe um memorial italiano que guarda recordações dos imigrantes que povoaram a região e anualmente existem comemorações que visam preservar memória italiana na Lapa. A próxima será no dia 10 de setembro.

interior memorial italiano
Uma das áreas do Memorial Italiano da Lapa – situado na Colônia São Carlos

documentos e objetos memorial
Documentos e objetos relacionados à história dos fundadores da colônia vêm sendo reunidos

Gemellaggio

Em 1989 comemorou-se na Lapa o centenário da imigração italiana na cidade. Aconteceram várias festividades pela data. Na época também surgiu a vontade de resgatar ainda mais a história daqueles imigrantes que atravessaram o oceano para chegar até a terra da coxinha de farofa.  Uma das pessoas que tomou frente a isso foi Nídia Gemin. Buscando saber mais sobre a origem de sua família ela entrou em contato com jornalistas italianos, trocou correspondência com moradores do país europeu e descobriu que muitas das famílias que chegaram à Lapa haviam saído de Ospedaletto, uma espécie de comunidade rural de uma cidade italiana chamada Istrana. A partir daí o laço com os moradores dessa cidade ficou mais próximo, muitos vieram à Lapa conhecer a Colônia São Carlos. Lapeanos como Nídia visitaram a Itália em busca de mais informações sobre a família. E dessa maneira, em 2002, a Lapa e a cidade de Istrana firmaram um acordo de Gemellaggio, que em português significa gêmeo, indicando que as duas cidades se tornaram irmãs.

Hoje em Istrana existe uma rua chamada Lapa, e na Lapa existe uma via com o nome de Istrana. Anualmente moradores das duas cidades trocam visitas e homenagens, e o contato entre algumas famílias de origem italiana nos dois países é constante.

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