Em Araucária a produção de vestuários em série só chegaria, aos poucos, após a industrialização e metropolização de Curitiba, na década de 1960.
A história na ponta da agulha
A costura artesanal teve início ainda na pré-história com a produção de vestuários feitos com peles de animais, através da utilização de pelos e agulhas feitas de ossos e marfim. Na Idade Média surgiram as primeiras agulhas feitas em ferro e a confecção de túnicas em algodão, além das peças em lã. Todo o trabalho era feito de forma artesanal e manufaturada, até que no século XVIII, com o advento da Revolução Industrial, surgiram na Europa as primeiras máquinas de costura, que acabaram por substituir o trabalho de muitos artesãos, já que sua produção era mais ágil e padronizada, gerando revoltas que levaram ao ateamento de fogo em máquinas de costura das fábricas que começavam a surgir. Além disso, o aprendizado técnico da costura foi substituindo o ensinamento artesanal mestre/aprendiz, que era passado de geração em geração. Mas a costura com características artesanais não sucumbiu totalmente, já que eram encomendadas pela burguesia peças exclusivas e feitas sob medida para se diferenciar das peças produzidas em larga escala pelas indústrias têxteis, utilizadas por camponeses e proletários. Surgiu, então, a alta costura, empregada por costureiras e alfaiates.
Em Araucária a produção de vestuários em série só chegaria, aos poucos, após a industrialização e metropolização de Curitiba, na década de 1960. Até então a população – pobres e ricos - compravam um pedaço de tecido, chamado de fazenda, para que as costureiras e alfaiates costurassem roupas sob medida, e esse ofício era aprendido de forma artesanal, geralmente entre familiares.
O senhor Lúcio Mosson foi alfaiate em Araucária por quase 50 anos, de 1957 a 2005. Filho de agricultores, ele aprendeu a profissão com seu tio Salvador Knopik e trabalhou durante muitos
anos com outro tio, o José Janoski, que já era proprietário de uma alfaiataria no centro do município. Segundo ele, seu principal trabalho era a confecção de ternos, casacos e camisas. O senhor Ipenor Boratto também foi alfaiate desde 1958, quando chegou a Araucária vindo do Rio Grande do Sul, e ensinou o ofício para seu cunhado Benjamim Coser. Antes de existir eletricidade em Araucária eles utilizavam o pesado ferro em brasa para passar as peças e arrumar os frisos, de modo que precisavam de muito cuidado para a brasa não estourar e queimar os tecidos.
Ainda hoje alfaiates e costureiras de Araucária são procurados para ajustes e consertos, e também produção de peças exclusivas e únicas. Sem a pretensão de competir com as fábricas de produção em série, seu diferencial está na execução de trabalho artesanal, dotado de valor simbólico e tradicional, que perdura através das gerações.
(Texto escrito por Cristiane Perretto e Luciane Czelusniak Obrzut Ono - historiadoras)
(Legendas das fotografias:
1 - Máquina de costura pertencente ao acervo do Museu Tingüi-Cuera. Foto tirada em 2018
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
2 - Alfaiataria de Benjamin Coser, 2012.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
3 - Alfaiataria de Alcides Gomes Rocha, 2012
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.)
Máquina de costura pertencente ao acervo do Museu Tingüi-Cuera. Foto tirada em 2018
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres
Alfaiataria de Benjamin Coser, 2012.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres
Alfaiataria de Alcides Gomes Rocha, 2012
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres
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