quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

‘Passagens secretas’, túneis de Curitiba eram abrigos antinazistas

 

‘Passagens secretas’, túneis de Curitiba eram abrigos antinazistas

Saídas subterrâneas foram usadas no período de guerras, diz pesquisador.
Túneis teriam saídas estratégicas para vários pontos da cidade



“É bem provável que exista alguma ligação secreta escondida. Até porque atrás do colégio fica o Círculo Militar, e o exército sempre teve essa estratégia subterrânea em toda a sua história”. É com essa afirmação que o pesquisador Marcos Juliano Ofenbock descreve uma das mais curiosas histórias de Curitiba.

Os túneis espalhados pela região das Mercês e do Centro da cidade até hoje chamam a atenção de aficionados pelo tema. Há quem acredite que seja possível desvendar, através de escavações, os mistérios guardados por diversas gerações nessas passagens subterrâneas da capital paranaense.

Marcos conta que os túneis foram utilizados entre o período da primeira e segunda Guerra Mundial e teriam conexões entre o antigo Clube Concórdia (atual Clube Curitibano), e as igrejas Catedral, da Ordem, Rosário e Ruínas de São Francisco, no Largo da Ordem. Cada um desses túneis teria saídas estratégicas para outros lugares.

O G1 publica até sexta-feira (29), dia em que Curitiba completa 320 anos, uma série de reportagens sobre lendas urbanas. As histórias possuem várias versões e foram relembradas por pequisadores.

“Eu acredito que a conexão da Igreja Matriz [Catedral] foi utilizada pelo exército durante a Segunda Guerra Mundial e que conectava com o depósito de munição do exército que fica na esquina das Ruas Carlos Cavalcanti com a Rua Riachuelo”, diz Ofenbock.

O pesquisador argumenta que, em 2012, durante o período de reformas da Catedral, foi descoberto um poço sobre o chão do altar. “Ninguém sabe dizer o porquê deste poço. Na minha opinião era o respiradouro do túnel que foi alagado pelo exército”.

Segundo Marcos Juliano Ofenbock, essas passagens subterrâneas serviam para esconder tesouros, documentos, restos mortais e até mesmo para que imigrantes pudessem empreender fuga. “Eles precisavam dessa passagem secreta para uma possível invasão nazista, caso os alemães ganhassem a guerra na Europa e viessem para a América do Sul. Acho que a igreja poderia ser um local de reunião de líderes de uma possível resistência e distribuição de suprimentos”.

Empolgado, Marcos também fala da passagem no Colégio Estadual do Paraná (CEP). “Outro ponto da cidade que todos relatam que existe uma saída subterrânea é o CEP. O interessante é que a planta do colégio é a mesma da academia militar das Agulhas Negras (unidade de treinamento do Exército em Resende, no Rio de Janeiro), e o prédio possui um subterrâneo preparado para servir como abrigo antiaéreo”, explica Ofenbock.

Para o pesquisador, há chances de que tenham outras passagens secretas ainda dentro da estrutura do colégio. “Se essa construção foi baseada em um modelo militar, é bem provável que exista alguma ligação secreta escondida. Até porque atrás do colégio fica o Clube Círculo Militar, e o exército sempre teve essa estratégia subterrânea em toda a sua história”.

Sobre o antigo Clube Concórdia ele afirma que o túnel levava a dois lugares. “Uma conexão iria para as galerias do Largo da Ordem, e, a outra, em direção a Fundição Muller, onde atualmente está instalado o Shopping Muller”, explica.

Busca sem fim

Na busca por outras passagens subterrâneas, Juliano conta que já entrou em vários lugares da cidade. Entre eles estão os porões da Câmara de Vereadores e casarões antigos. Ele explica que o interesse em estudar os possíveis túneis, é apenas para resgatar a história da cidade. “Resgatar a história é uma coisa legal porque a gente resgata para as gerações futuras e para si próprio”.

O G1 foi até a sede do antigo Clube Concórdia citado pelo pesquisador e constatou que existe um porão com uma entrada para um túnel quem tem aproximadamente 97 cm x 1,10 m de diâmetro.

Segundo Claudio Mader, um dos associados do clube, há muitas histórias, mas não é correto afirmar nada com convicção. “Não sei até onde é história ou lenda. Desse porão sai um túnel perto do banheiro e termina num alicerce de uma construção feita entre 1956 e 1957. Dali para frente é suposição, mas não tem registro oficial disso em lugar nenhum”, conta.

Para Mader, os associados acreditam que existe muita chance de não existir túnel nenhum, tendo como base o desenvolvimento da cidade de Curitiba. “Se existisse esse túnel com conexão para outros lugares como a igreja Matriz, por exemplo, com todas as galerias de água e esgoto que se tem em Curitiba, já teria sido descoberto esse túnel”, pondera Claudio.

Segundo a assessoria de imprensa do Curitibano, o prédio foi construído muito antes da primeira Guerra (1914-1918). A data de fundação do clube é 1886. Diante disso, o associado não vê a possibilidade do túnel ter servido de abrigo para refugiados. “Essa construção é muito anterior a primeira guerra mundial, não tem nada a ver e a suposição que o túnel teria sido construído para esconder”.

O porão, que é atualmente é ocupado pelo bar do clube, antigamente era o espaço da cozinha. Os mantimentos eram guardados nesse local porque na época não havia geladeira, e o local era o mais bem ventilado entre os demais.

A assessoria de imprensa confirmou ainda que existem projetos de restauração da sede, recém-incorporada, mas não afirma que serão feitos investimentos para que se investigue a procedência do túnel. “Trata-se de um patrimônio cultural de Curitiba, e por isso, todo cuidado histórico é tomado para que a composição do prédio seja resguardada”.

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