sábado, 15 de abril de 2023

A RUA DA PRAIA (Por Dona Elfrida Lobo)

 A RUA DA PRAIA
(Por Dona Elfrida Lobo)


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A RUA DA PRAIA
(Por Dona Elfrida Lobo)
No meu tempo de criança a rua da praia era a mais movimentada da cidade. Nos dias de semana havia o movimento das carrocinhas puxadas por burros que levavam suas cargas para os armazéns localizados no inicio da Rua Benjamim Constant, pertencentes às firmas Elysio Pareira & Cia., Antonio Lobo & Cia,. Ataliba Alves & Cia. Muitas lanchas e barcos de pequeno porte, conduziam as cargas até o navio cargueiro ancorado no largo da baía. Todas as firmas de exportação e importação tinham seus escritórios nesta rua. Era o cais do Porto de Paranaguá.
O escritório da firma do meu sogro Antonio Lobo & Cia. era localizado no final da Rua 15 de novembro onde hoje se encontra o Restaurante Danubio Azul. Os escritórios da firma do Sr João Guilherme Guimarães ficavam ao lado do Moinho Santista. Os armazéns eram localizados bem em frente onde os vagões da estrada de ferro vinham da estação D. Pedro ll e desembarcavam as cargas no grande trapiche para a Argentina.
O escritório da firma Rocha & Cia., pertencente ao marido da minha tia Palmeira, era localizado no Porto D'água em frente á residência da família, hoje perrtecente ao Sr Eugênio Cominese. A firma possuía 3 armazéns e um trapiche próprio para desembarcar as cargas. Havia um desvio da estrada de ferro bem ao lado da casa para o transporte de erva-mate e madeira para os armazéns. Muitas vezes fiquei na casa da minha tia, para brincar com minhas primas Diva e Lucy, e assistir as manobras dos vagões que exalavam um cheiro forte de erva e madeiras cortadas.
Nos domingos e dias festivos, a rua da praia também era movimentada, quando haviam competições de natação e regata. A família assistia a toda movimentação das janelas do escritório do meu avô Elysio. Nós crianças não parávamos, íamos e vinhamos acompanhando as competiçoes que iniciavam na pracinha até o mercado e retornavam ao ponto de partida.
Lembro-me que no ano de 1922, centenário de Independência, houve um grande acontecimento. A Rua da praia ficou toda embandeirada. O povo festejava à chegada dos bravos homens do mar, chefiados por Joaquim Tigre e barra Velha, que com mais 12 remadores fizeram o percurso da Ilha do Mel ao Rio de janeiro, em 2 canoas. A cidade toda estava em festa! Pelo telégrafo, cuja localização era situada também na rua da Praia, chegou a notícia alviçareira de que os destemidos remadores estavam voltando á Paranaguá, onde seriam homenageados. Homens simples e corajosos, que quiseram dar sua participação no ano do centenário da da nossa Independência. Pena é que não tenhamos nenhum jornal ou revista daquela época, registrando este fato memorável. Lembro-me bem desse episódio, porque o meu tio Arçindo Lacerda, casado com a minha tia Edith, quando noivo era funcionário do telégrafo. Logo que recebeu a notícia transmitiu ao prefeito, Sr Jose G. Lobo que tratou incontinenti de tomar as providências a fim de festejar o glorioso evento.
Tenho certeza que as evocações narradas nessas páginas são um tanto pueris para um leitor exigente. Elas porém foram descritas com a autenticidade que iam chegando à minha memória. Por isso são autênticas.
Não sei de vocábulos escolhidos, apenas fui escrevendo com tanta ância para não perder a imagem que via enchendo a minha mente e o meu coração.
A memória é uma relação entre os diferente estados do cérebro que permite não apenas lembrarmo-nos dos nossos próprios atos, mas ainda dos atos alheios.
Fonte: Retalhos de uma vida, 1990. Elfrida Marcondes Lobo. Pag 58. 

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