ALGUNS LAZERES DOS IMIGRANTES ALEMÃES
ALGUNS LAZERES DOS IMIGRANTES ALEMÃES
"Para os entretenimentos e as atividades de lazer, que iriam promover maior congraçamento entre os imigrantes alemães de Curitiba criavam-se ou adaptavam-se espaços onde a música era uma constante. O imigrante chamado Buddelmayer, por exemplo, residindo nas proximidades do cemitério municipal, onde mantinha um bar-restaurante construíra uma cancha de boliche e, em um pequeno salão, ao som de um violino ou de uma gaita de foles, os freqüentadores dançavam. Em outros salões públicos, eram apresentadas audições de música e representações teatrais, pedindo-se o prestígio e o apoio de todos os “allemães civilisados” para sua continuidade.
Para os demais alemães, considerados pela imprensa "não civilizados", restava participar dos “bailes de operários, creados e carroceiros allemães”, denominados Sümpfe. Realizados aos sábados e domingos, “congregando a imoralidade e o vicio” (*1) dentro do quadro urbano, e mesmo em sua principal artéria, estes bailes públicos comprometiam “o socego publico” quando, em horas mortas da noite, “levantam-se alaridos e fazem-se sapatadas” (*2).
Tendo sido condenados pelas autoridades policiais e parcelas da população como desviantes, comprometendo a ordem e os bons costumes, os Sümpfe acabaram desaparecendo do cenário curitibano. Seus registros evidenciam condições econômicas desiguais e concepções de vida social diferenciadas entre os imigrantes alemães, algumas incompatíveis com a imagem do “bom imigrante” que vinha sendo esculpida, embora essa prática tenha contribuído para a aproximação de hábitos, ritmos, danças e gostos musicais.
Um outro costume, já praticado pela tradicional sociedade curitibana, sobretudo em ocasiões de festas religiosas, o de realizar excursões campestres em piqueniques, generalizou-se entre os alemães. Designados pela imprensa de "convescote", caracterizando-os pelo convívio próximo, quando promovidos pelas diversas associações, atraíam “enorme multidão loura e rosada de homens, mulheres e crianças, encadernados em costumes de cores vivas e variegadas” (*3) até o local predeterminado, geralmente uma das chácaras existentes nas cercanias da cidade. Organizados também pelos grupos familiares e pelas escolas, sazonalmente, os piqueniques provocavam a ansiedade das crianças:
"Nós saheremos já demanhã cedo às 8 horas Também ahi estaram alguns carros, para que os menores, que não podem agüentar o caminho até lá, possam ir de carro. Por isso também poderás levar teu irmãosinho, que gosta de andar á carro. Nós tambem executaremos num sombroso matto proximo vários jogos, como por ex., pegar lingüiça e correr sacco. Tu não precisas encommodar-te com nada, por que nosso mestre aranjou já tudo que fôr necessario. Nos ficaremos até 5 horas [...]
As brincadeiras ao ar livre faziam parte do cotidiano infantil e ruas e logradouros públicos tornavam-se palco para toda espécie de descoberta e de incursões ao não permitido, tais como caçar passarinhos com “espingarda pica-pau”. O extrato, porém, convida-nos a pensar sobre esse momento particular de viver, quando as diversas faixas etárias se encontravam e sentiam-se unidas, reforçando laços intrafamiliares, alargando o círculo de famílias e excluindo os estranhos a elas. Mesmo mantendo suas formas originais, os piqueniques adquiriam novos significados e diferenciavam-se pela sua organização, “como que regulada por uma ceremonia mesmo quando parece attingir ao maior gráo de expansividade. Os folguedos em correrias e diabruras”, os jogos alegres e competitivos contribuíam para sociabilizar a criança e desenvolver sua capacidade de comunicação. Planejados pelos adultos e direcionados ao público infantil, no ambiente descontraído nada impedia que todos participassem das práticas lúdicas, divertindo pequenos e grandes. [...]
( *1 - (Dezenove de Dezembro, 07/11/1878); *2 - (Dezenove de Dezembro, 08/11/1884); *3 - (Dezenove de Dezembro, 15/10/1884).
(Extraído de: ppge.ufpr.br/teses)
Paulo Grani
CONVESCOTE alemão,
(Foto: Publicada em A Republica de 16/03/1910)
(Foto: Publicada em A Republica de 16/03/1910)
Família de José Pinto Rebello reunida para um piquenique (convescote) nos arredores de Curitiba, década de 1920.
Foto: Acervo de Lilian Ribeiro Dantas Galvão)
Foto: Acervo de Lilian Ribeiro Dantas Galvão)
Família Cornelsen reunida em um convescote, em algum lugar nos arredores de Curitiba, década de 1910.
(Foto: Acervo Paulo José Costa)
(Foto: Acervo Paulo José Costa)
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