Céu também é delas! Conheça a única copiloto do Grupamento de Operações Aéreas da Polícia Civil do Paraná
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Foram anos de preparo que, a princípio, quase “morreram na praia”. Formada em ciências aeronáuticas, Daiane teve de abrir mão da pilotagem logo após a graduação. “Quando me formei eu tinha toda a força de vontade necessária para decolar. Literalmente. Só que quando entrei no mercado, percebi que a profissão exigia altíssimos investimentos e que o resultado vinha a longo prazo. Sem ter como arcar com os custos deste início de carreira, acabei engavetando este sonho e comecei a estudar para concurso público”, relembra.Ainda assim, enquanto conciliava os estudos da graduação aos do concurso – Daiane tirou do próprio bolso os recursos para o aprimoramento necessário à atuação como piloto. Fez curso teórico, prova teórica, obteve o certificado médico aeronáutico e realizou a prova da ANAC, que chancela os aspirantes ao exercício da profissão. Até aí, a então estudante, acumulava dezenas de horas de voo prático.
“Nessa etapa tive contato ainda mais aprofundado com a realidade da profissão e pude concluir que, sim, ainda é um segmento extremamente masculino”, revela. Para concluir os estudos, legitimar suas primeiras horas de voo e se formar piloto, Daiane optou por ignorar piadinhas e comentários indecorosos. Sobre o machismo no mercado da aviação, porém, ela não passa pano. “Tem machismo sim, como todo o segmento do mercado de predominância masculina ou não. Eu mesma já ouvi a piadinha sem graça do: ‘mulher só serve pra pilotar fogão’. Mas nunca dei bola pra esse tipo de coisa e sempre me posicionei pra que não me rebaixassem”, afirma.Em 2010 então, Daiane dava mais um grande passo – mesmo que não soubesse – em direção à sua vocação. Aprovada no concurso da Polícia Civil, dentro de dois anos, ela seria nomeada investigadora da PCPR. Convidada a integrar o setor administrativo do GOA, em 2020, a investigadora já sabia que, cedo ou tarde, alçaria voos ainda mais altos. “Atuar na Polícia Civil é minha paixão. Quando eu soube que a própria organização viabilizaria o curso de pilotagem comercial, eu quase não coube em mim de tanta alegria. Era meu sonho que virava realidade. Finalmente!”, conta.
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Ao lado de outros dois investigadores, os policiais, Jaime Pacífico Urdiales e Santos Dumont de Menezes Júnior, Daiane completou o curso para condução de aviões multimotores, em Santa Catarina. “A formação foi feita pela escola Voe Floripa entre janeiro e abril deste ano. A PCPR custeou todo o curso e ao todo, nós cumprimos 120 horas de aulas práticas em aviões, além da instrução em simuladores de voos de aeronoves multimotoras, por instrumento”, conta.
Para a copiloto, o momento mais emocionante da escalada até o atual posto, foi a prova prática, na qual o aluno realiza o primeiro voo solo. “É você e a aeronave. Absolutamente tudo depende de você nessa hora. A conclusão do primeiro voo solo é marcante para todo o piloto. Pra mim não foi diferente”, revela.
Desafios
Sobre os desafios de atuar num mercado cuja representação masculina é de 96%, a policial pondera: se você é mulher, planeje-se. Isso porque, segundo ela, as exigências da profissão demandam dedicação integral o que, para muitas profissionais que sonham em ser mães, pode representar fator de ‘concorrência’.“Quando me perguntam sobre os obstáculos da profissão – além é claro do alto investimento financeiro – minha resposta é sempre esta: ser mãe e dedicar-se à profissão pode ser mais desafiador quando em comparação às mulheres que não têm filhos. Porém, se essa é sua vocação e seu sonho é ser piloto, não desista! É preciso estimular cada vez mais as mulheres a ingressarem na aviação. Temos que trabalhar para quebrar esse paradigma que diz que este mercado é dos homens e para os homens”, ressalta.
Para quem está no começo da jornada, Daiane recomenda: “primeiro precisa querer muito. E, então, se dedicar. Ficar longe de casa, da família e mudar-se de cidade também não pode ser problema. Mas no fim, estar acima das nuvens faz tudo valer a pena. O céu lá de cima, também merece o olhar das mulheres”, finaliza.
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