domingo, 23 de abril de 2023

Por que Curitiba e não Paranaguá como capital? (Baseado em relato de Vicente Nascimento Júnior)

Por que Curitiba e não Paranaguá como capital?
(Baseado em relato de Vicente Nascimento Júnior)


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Por que Curitiba e não Paranaguá como capital?
(Baseado em relato de Vicente Nascimento Júnior)
A vinda de Zacarias de Góis e Vasconcelos, o primeiro nomeado para gerir a nova Província do Paraná não encheu de excessivo entusiasmo a população parnanguara, magoada com o fato de não ser Paranaguá escolhida para capital da Província recém-criada. Justificava-se esse ressentimento com o esforço parnanguara há muitos anos despendido, no movimento em prol da nossa separação da província de São Paulo.
Daqui partiram-se súplicas e representações em favor desse objetivo, e até à força se intentou obtê-la, com o fracassado levante popular de 15 de julho de 1821, quando do ato solene do juramento da Constituição, outorgada ao Brasil pelas Cortes de Lisboa.
Nesse dia, o povo se reuniu diante do edifício da Cadeia, em cujo pavimento alto funcionava a Câmara Municipal, à rua hoje 15 de novembro, em frente à praça Xavantes, que na época era ainda um pátio.
A tropa da Guarda Nacional, perfilada, estava instruída a apoiar o brado separista que daria o seu comandante, o sargento de milícias Floriano Bento Viana, seguindo-se a proclamação de uma Junta Governativa da nova Província, e da qual fariam parte os cidadãos de maior merecimento desta e das demais vilas da comarca.
O grito separista deu-o Floriano Viana, mas surpreso, seus conjurados não o apoiaram. O Juiz de Fora, dr. Antônio de Azevedo Melo e Carvalho, discursando da sacada da Câmara, faz-lhes ver que, por meio de uma sedição, dificilmente se alcançaria o desejado resultado, importando, ao contrário, em grave responsabilidade e em crime que a legislação penal da época punia com máximo rigor, minando assim, o levante.
Não se conformou com a exortação e nem com a fácil acomodação dos outros conjurados o sargento miliciano, que, indignado, perdeu o senso da disciplina e conveniências, pôs-se a protestar em alta voz, até que o retiraram preso da fileira, roxo, quase negro de tanto vociferar, segundo afirma a carta de dona Códula de França.
Seguiram-se novas representações, e até emissários foram enviados ao Rio de Janeiro, sem nada conseguir-se, até o ano de 1853, quando a palavra convincente de Paula Gomes e o interesse nacional de melhor cuidar das nossas fronteiras com Corrientes e o Paraguai, obtiveram a vitória.
A escolha de Curitiba, embora atendendo a conveniências de ordem geográfica de se localizar a capital mais no centro do território, foi uma decepção aos parnanguaras, que contavam na certa com aquela honra, louvados aliás no exemplo de todas as capitais das províncias marítimas se acharem, como ainda hoje, no litoral, apenas com exceção de São Paulo e Piauí.
Não gostaram, mas também não demonstraram o seu despeito, recebendo o Conselheiro com festas, quando aqui aportou, em novembro de 1853.
Regozijo todo oficial; oficial apenas, mas que assim mesmo mereceu registro,
pela suntuosidade dos festejos, começando a 30 de agosto, por um "Te-Deum" solene na igreja Matriz.
Em sessão de 5 de outubro de 1853, deliberou a Câmara Municipal realizar, com pompa, a recepção do conselheiro Zacarias, e, para isso, organizou comissão e deitou edital, intimando os habitantes a caiarem as frentes das casas e a iluminá-las durante três noites.
O desembarque do Conselheiro foi no cais do mercado, e a hospedagem ofereceu-a o comendador Joaquim Américo, em seu palacete da rua Direita,
Até um coreto foi erguido em frente ao prédio, para nele tocar, uma banda de música que viera do Rio com o presidente.
Houve baile de gala realizado no sobrado de propriedade da família Camargo, e marcou época pelo luxo e pompa jamais vistos, sendo o conselheiro, esposa e os funcionários com ele vindos, recebidos com tochas acesas, segundo o costume do tempo.
E a festa transcorreu num ambiente de suma elegância e foi só.
Findas as festividades com a retirada do Conselheiro, apressado em chegar a Curitiba para instalar o governo, nada ficou em Paranaguá que o recordasse. Não obstante, passados quase 170 anos do faustoso evento, não tem Paranaguá praça, rua ou travessa com o seu nome. É a mágoa ancestral que persiste no parnanguara de hoje, responsabilizando o Conselheiro pela preferência dada a Curitiba, porque, afirma-se, consultado pela Coroa antes da decretação da lei, mostrou-se contrário à sede à beira-mar, para o que teria influído ser Paranaguá um formidável reduto do partido oposto àquele em que militava. Era preciso magoar os adversários.
É tradição que, com a sua subida ao planalto, teve Zacarias mais de uma ocasião de arrependimento, ante os incômodos e torturas que ele e sua família experimentaram ao galgar a Serra, pela antiga quebrada do Itupava.
Conta-se que, Zacarias de Góes surpreso com toda pompa em seu recebimento, entendeu ao chegar em Curitiba, aquele carinhoso “Boa viagem”.

Almir Silvério da Silva – IHGP – Paranaguá/PR 

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