Othmar Singer – Eduardo Fernando Chaves: Arquiteto
Uma residência de médio porte na Curitiba dos anos 1930
Em janeiro de 1936, em pleno auge do desenvolvimento urbano da capital paranaense, o arquiteto Eduardo Fernando Chaves assinava um novo projeto residencial destinado ao senhor Othmar Singer, um cidadão cuja identidade permanece envolta em poucos registros públicos, mas cujo nome ficou ligado a uma edificação que refletia com clareza os valores estéticos, técnicos e sociais da Curitiba da Primeira República tardia e do início do Estado Novo.
Registrado sob a denominação inicial “Projéto de Casa para o Snr. Othmar Singer”, o empreendimento localizava-se na prestigiada Avenida 7 de Setembro, s/n — uma das principais vias da cidade, historicamente associada à elite curitibana e ao crescimento residencial de padrão elevado. Embora hoje não mais exista, tendo sido demolido antes ou durante o ano de 2012, o imóvel permanece como um testemunho valioso da produção arquitetônica civil no Paraná entre as décadas de 1920 e 1940.
Características técnicas e espaciais
Tratava-se de uma residência de médio porte, composta por dois pavimentos — térreo e superior — com área total construída de 202,00 m², distribuídos de forma equilibrada entre os níveis. Apesar de não haver duplicação exata da área por pavimento (já que a área total coincide com a área por pavimento mencionada nos dados), é provável que a planta tenha sido concebida com áreas comuns no térreo e dormitórios no andar superior, seguindo o modelo convencional da época.
A construção foi executada em alvenaria de tijolos, técnica dominante na arquitetura residencial brasileira até meados do século XX, valorizada por sua durabilidade, isolamento térmico e facilidade de execução. Esse método construtivo permitia também maior liberdade compositiva nas fachadas, especialmente quando combinado com elementos decorativos em argamassa, madeira ou ferro forjado.
O projeto foi formalizado com o Alvará de Construção nº 1682/1936, emitido pela Prefeitura Municipal de Curitiba, garantindo a legalidade da obra perante as normas urbanísticas vigentes à época.
Composição gráfica e documental
O acervo preservado no Arquivo Público Municipal de Curitiba reúne duas pranchas fundamentais para a compreensão do projeto:
- Planta dos pisos térreo e superior, com indicação clara dos ambientes, circulações internas e relação com o lote;
- Fachadas principal e lateral direita, revelando o tratamento estético da edificação — provavelmente marcado por simetria, janelas verticais e platibandas discretas, características comuns nas residências de classe média-alta da era Vargas;
- Cortes A-B e C-D, que permitem visualizar a estrutura vertical, altura dos cômodos, tipo de cobertura e integração entre os níveis;
- Detalhamento da garagem, elemento já presente mesmo em residências de médio porte, demonstrando a crescente importância do automóvel na vida urbana;
- Implantação no terreno e projeto de muro, indicando preocupação com privacidade, segurança e integração com o espaço público.
Além disso, o Alvará de Construção original (nº 1682) encontra-se digitalizado, oferecendo dados administrativos e legais que complementam a análise histórica e técnica da obra.
Contexto histórico e cultural
A década de 1930 foi um período de intensa transformação em Curitiba. A cidade vivia os efeitos da modernização impulsionada pelo governo estadual e municipal, com investimentos em infraestrutura, saneamento, transporte e habitação. A Avenida 7 de Setembro, inaugurada ainda no século XIX, consolidava-se como um corredor residencial elegante, abrigando famílias de comerciantes, industriais, profissionais liberais e imigrantes europeus bem-sucedidos — entre os quais possivelmente se encontrava Othmar Singer, cujo sobrenome sugere ascendência germânica, comum na região Sul do Brasil.
Nesse contexto, o trabalho de Eduardo Fernando Chaves ganha relevância. Embora não seja amplamente reconhecido nos cânones da história da arquitetura moderna no Paraná — dominada por figuras como José Wasth Rodrigues ou posteriormente por João Batista Vilanova Artigas —, Chaves representa a figura do arquiteto-projetista cotidiano, responsável por dar forma concreta aos sonhos habitacionais de uma parcela significativa da população urbana.
Seus projetos, como este para Othmar Singer, não buscavam rupturas estilísticas radicais, mas sim harmonia, funcionalidade e dignidade construtiva, dentro de um vocabulário eclético ainda influenciado pelo neocolonial e pelo classicismo simplificado.
Desaparecimento e memória
Infelizmente, como tantas outras edificações históricas do centro e entorno de Curitiba, a residência de Othmar Singer não resistiu às pressões do desenvolvimento imobiliário contemporâneo e foi demolida. Sua ausência física reforça a urgência de políticas de preservação que considerem não apenas os monumentos excepcionais, mas também as edificações representativas do cotidiano urbano, que, em conjunto, tecem a identidade histórica de uma cidade.
Felizmente, graças ao cuidado arquivístico da Prefeitura Municipal de Curitiba e ao trabalho de digitalização do Arquivo Público Municipal, o projeto permanece acessível para pesquisadores, historiadores e entusiastas da arquitetura. Ele serve como documento vivo de uma época em que cada casa contava uma história — de família, de ofício, de pertencimento.
Conclusão
O projeto para a residência de Othmar Singer, assinado por Eduardo Fernando Chaves em 1936, é mais do que um simples plano arquitetônico. É um retrato sensível da Curitiba em transformação, onde tradição construtiva, aspirações sociais e identidade urbana se entrelaçavam em tijolos, cal e madeira. Sua demolição é uma perda material, mas sua memória, preservada em pranchas e alvarás, continua a inspirar reflexões sobre o valor do patrimônio comum — aquele que, embora discreto, sustenta a alma de uma cidade.
#PatrimônioDeCuritiba
#ArquiteturaHistóricaPR
#EduardoFernandoChaves
#OthmarSinger
#Avenida7DeSetembro
#ResidênciaAnos1930
#ArquiteturaDeAlvenaria
#CasaDemolidaMemóriaPreservada
#ArquivoPúblicoMunicipalCuritiba
#ProjetosArquitetônicos1936
#HistóriaDaArquiteturaParanaense
#PatrimônioCulturalCuritiba
#ArquiteturaResidencialBrasileira
#CuritibaNosAnos30
#AlvaráDeConstrução1682
#ArquiteturaEcléticaNoParaná
#MemóriaUrbana
#PreservaçãoDoPatrimônio
#ArquiteturaDeMédioPorte
#FundaçãoCulturalDeCuritiba
Eduardo Fernando Chaves: Arquiteto
Denominação inicial: Projéto de Casa para o Snr. Othmar Singer
Denominação atual:
Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Médio Porte
Endereço: Avenida 7 de Setembro s/n
Número de pavimentos: 2
Área do pavimento: 202,00 m²
Área Total: 202,00 m²
Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos
Data do Projeto Arquitetônico: 27/01/1936
Alvará de Construção: N° 1682/1936
Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de residência e Alvará de Construção.
Situação em 2012: Demolido
Imagens
1 - Projeto Arquitetônico.
2 – Cortes e garagem.
3 - Alvará de Construção.
Referências:
1 e 2- CHAVES, Eduardo Fernando. Projéto para Casa de Propriedade do Snr. Othmar Singer. Planta dos pisos térreo e superior, fachadas principal e lateral direita e muro; cortes A-B e C-D, garagem e implantação representados em duas pranchas. Microfilme digitalizado.
2 - Alvará n.º 1682
1 - Projeto Arquitetônico.
2 – Cortes e garagem.
Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.

