terça-feira, 13 de junho de 2017

Passeio Público. Ponte sobre o Rio Belém. Data: 1900

Passeio Público. Ponte sobre o Rio Belém. Data: 1900. Foto: Adolph Volk. Acervo: Cid Destefani. Gazeta do Povo, Coluna Nostalgia (02/10/1994).



Passeio Público. Ponte sobre o Rio Belém. Data: 1900. Foto: Adolph Volk. Acervo: Cid Destefani/FCC-Casa da Memória. Gazeta do Povo, Coluna Nostalgia (02/10/1994).

Vista do Centro registrada da esquina entre as ruas Buenos Aires e Benjamin Lins, no Batel. Data: julho de 1954

Vista do Centro registrada da esquina entre as ruas Buenos Aires e Benjamin Lins, no Batel. Data: julho de 1954. Foto: Domingos Foggiatto. Acervo: Cid Destefani. Gazeta do Povo, Coluna Nostalgia. (Cid Destefani, 27/09/1992)






Coluna Nostalgia. 1954 – Uma Vista Parcial (Cid Destefani, 27/09/1992)

"(...) Hoje vamos focalizar uma vista da cidade mais recente, feita do alto do antigo Museu Paranaense, que ficava na esquina da Rua Buenos Aires com Benjamin Lins (construção de Ernesto Guaita de 1902). A imagem foi gravada em julho de 1954, em direção ao centro da cidade. Em primeiro plano vemos a Praça Theodoro Bayma, cujo nome já era bem antigo no logradouro, mas ninguém sabia da sua existência. Todo mundo quando falava do local mencionava a “Pracinha do Museu”. 

Na ocasião que a vista foi tomada, já possuía a praça um ponto de automóveis de aluguel, popularmente conhecidos como “carros de praça". Foram "chauffeurs" ali o senhor José Stanoga, o Luiz Pavone e o Moacyr Aleixo. O mais conhecido deles, Venceslau de Souza Florêncio dirigia um enorme “Nash” preto. O Venceslau ainda hoje trabalha lá (1992) com seu táxi. Pelo nome ninguém o conhece, mas por seu apelido, “Cabeleira”, é extremamente popular.

A Rua Emiliano Perneta à esquerda, antiga Rua do Aquidaban, desce em linha reta até a Praça Zacarias. Nesta época ainda possuía os trilhos dos bondes que vinham daquela praça em direção ao batel e ao Seminário. Só os trilhos, pois os bondes já tinham deixado de circular em 1952.

À direita vemos o início da Rua Dr. Pedrosa que fazia a ligação com a Praça Ruy Barbosa. Entretanto o que sobressai na paisagem são o edifícios prontos ou em construção. São os primeiros arranha-céus. Começam eles a dividir as épocas históricas da cidade.

Estava Curitiba deixando de ser a pacata urbe onde todo mundo se conhecia para entrar na era moderna dos apartamentos em grande parte adquiridos pelo pessoal do interior, principalmente do Norte do Paraná, abastados fazendeiros de café. A cidade começava portanto, a receber os primeiros prédios que formariam o maciço de edifícios que hoje possui e cuja vista que apresentamos seria impossível de ser feita atualmente.

Impossível por duas razões. A primeira seria pelo impedimento causado pela muralha de prédios. A segunda por não mais existir o imponente prédio do museu que estava instalado no alto do Morro da Bela Vista. Nem o prédio nem o morro. Hoje, no local, um tapume esconde o buraco que deixaram há muitos anos. (Hoje, 2014, o local é ocupado por uma locadora de vídeos e outros estabelecimentos comerciais).

Quando falamos do velho Museu nos vem à lembrança a piazada e os mais taludos que morando nas cercanias, por ali circulavam. Pessoal miúdo que estudava no grupo escolar 19 de Dezembro e, mais tarde, em outros colégios, como o velho Belmiro Cézar.

Vem-nos à lembrança os nomes de Lucyr Pasini e seus irmãos Lunes e Laércio. Normando e Manfredo Schiebler, José e Eduardo Carneiro de Mesquita. Alex e Renato Schaitza o “Renatinho” Schaitza, nosso companheiro de infância mais tarde companheiro nas lides jornalísticas e um grande incentivador deste trabalho que fazemos sobre a memória da cidade.

Roberto Linhares da Costa e Charles Curt Müller, companheiros do velho Grupo Dezenove. O Gil Marcos Puppi, quando garoto chegou a arranhar as cordas de um violino, hoje respeitado ginecologista, nas horas vagas um razoável taco de sinuca. João Régis Teixeira quando piá também esteve às voltas com aulas de violino e, segundo ele, o melhor som que conseguiu tirar do instrumento foi quando o arremessou sob um bonde que passava e o mesmo foi reduzido a cavacos pelas rodas do coletivo.

Irajá Bastos, Fernando Maranhão, Álvaro Albuquerque, Norberto e Francisco Chella, João e Klaus Maschtke são mais alguns nomes que me vem à lembrança quando vemos a fotografia acima. Outros tantos rostos vemos cujos nomes não conseguimos retirar do arquivo da nossa memória. Afinal lá se vão quarenta anos ou mais. Desculpem-nos os não citados.

Acabamos divagando sobre nossas próprias lembranças ao vermos essa imagem feita em 1954. Outras tantas nos vêm à mente quando por ali circulávamos na infância e na juventude. Dariam pra encher várias páginas e a paciência do leitor. Vamos deixar que cada um eu tiver recordações a fazer em cima desta imagem aproveite o domingo para um bom exercício de memória".

Avenida Luiz Xavier vista da Travessa Oliveira Bello (ligação com a Praça Zacarias). Data: 25/01/1941

Avenida Luiz Xavier vista da Travessa Oliveira Bello (ligação com a Praça Zacarias). Data: 25/01/1941. Foto: Domingos Foggiato (?). Acervo: Cid Destefani. Gazeta do Povo, Coluna Nostalgia (04/07/1999)








































Gazeta do Povo, Coluna Nostalgia (Cid Destefani, 04/07/1999)

"(...) O prédio cinza da direita abrigou por muitos anos a Casa do Estudante. Ao seu lado, o edifício Eloísa, de propriedade de David Carneiro, industrial do mate e historiador. Foi anunciado no começo daquele ano que ali brevemente se instalaria o Cine ÓPera, um dos melhores cinemas que a cidade veio a ter. No alto do prédio vemos a propaganda do Mate Real, que era produzido no engenho de erva da família Carneiro. Foi um dos primeiros anúncios com luz neon de Curitiba. O 'reclame', como era conhecido na época, veio abaixo durante um tufão que se abateu sobre a cidade no mesmo ano de 1941. (...)"

Praça Tiradentes, em frente ao Hotel Eduardo VII, ainda em construção. 22 de dezembro de 1952

Praça Tiradentes, em frente ao Hotel Eduardo VII, ainda em construção. 22 de dezembro de 1952. Foto: Domingos Foggiatto. Acervo: Cid Destefani. Gazeta do Povo, Coluna Nostalgia 24/12/1989.








































Distribuição de presentes aos pobres promovida pela LBA. O evento acontecia desde os anos 30 e sempre era conduzido pela primeira-dama do estado (que em 52 era Hermínia Lupion).
HOTEL seria concluído três anos depois.

Mais informações: Gazeta do Povo, 09/12/2012 - "Eduardo VII não abdica do trono" (José Carlos Fernandes)


Acidente entre bonde e veículo na Rua Barão do Rio Branco em 1936.

Acidente entre bonde e veículo na Rua Barão do Rio Branco em 1936. Acervo: Cid Destefani. Gazeta do Povo, Coluna Nostalgia (27/02/2000)























Gazeta do Povo, Coluna Nostalgia (Cid Destefani, 27/02/2000)

"(...) Há alguns anos nos foi entregue uma fotografia de um acidente entre um bonde e um automóvel pelos peritos de criminalística Roberto Werbitzki e Carlos Eduardo Martins Mercer. A imagem foi tomada quando a Polícia Técnica atendia os acidentes de trânsito para fazer o levantamento e fornecer o devido laudo técnico.

O aludido acidente ocorreu na Rua Barão do Rio Branco em frente ao nº. 239 em cujo prédio funcionava a Tinturaria a Vapor Indiana de propriedade de Arthur Meister, no dia 4 de novembro de 1936, quando chovia bastante. O bonde da Cia Força e Luz nº. 119 que fazia a linha da Praça Tiradentes - Portão, via Rua Barão, trombou com o automóvel marca Rugby de placa P 2-337, de propriedade de Júlio Meister Sobrinho. O referido veículo saiu do seu estacionamento não dando tempo para que o motorneiro do bonde, Eduardo Pawloski conseguisse parar o coletivo rapidamente. Além disso, os trilhos molhados fizeram o bonde deslizar. Os prejuízos foram de pequena monta. (...)"

Visconde de Guarapuava, vista da João Negrão em direção à Ubaldino do Amaral


Visconde de Guarapuava, vista da João Negrão em direção à Ubaldino do Amaral. Foto: Domingos Foggiatto, março de 1939. Acervo: Cid Destefani, Gazeta do Povo, Coluna Nostalgia (03/12/1989).























Gazeta do Povo, Coluna Nostalgia - “Uma visita à zona”
(Cid Destefani, 03/12/1989)

"Hoje a Nostalgia vai nos levar a uma viagem diferente. Vamos todos para a zona. Para lá mesmo, meu amigo. Para a zona do baixo meretrício da velha e boa Curitiba dos anos trinta, quarenta e cinquenta, quando os conceitos eram outros e, talvez, um artigo deste jaez não pudesse ser publicado. Atualmente o movimento feminista a liberdade do sexo e os novos conceitos de moral nos permitem esta liberdade (ou libertinagem)?

A zona na atualidade é um ambiente demodê, só existindo ainda e agonizante em pequenos lugarejos piegas e insensíveis às mudanças do progresso e do tempo presente.

A fotografia de hoje nos leva ao mês de março de 1939 e nos coloca na avenida visconde de Guarapuava, da João negrão para o alto da Ubaldino do Amaral. Ali era a zona. Não que Curitiba só tivesse aquela, mas ali era a maior concentração de prostíbulos. Outros existiam espalhados pela urbe.

Na Visconde os bordéis se misturavam com casas comerciais e de residências familiares. Durante o dia era um ambiente relativamente pacato. À noite o local se transformava. Os clientes começavam a chegar, a pé ou transportados por carros de praça. Ouvia-se a música chorosa das sanfonas acompanhadas por pancadas da bateria, som que se misturava com o coaxar dos sapos que habitavam os banhados formados pelos rios Ivo e Belém. Era muito fácil achar as ditas 'casas de zona': nas fachadas das mesmas sempre havia uma indefectível lâmpada vermelha acesa.

A casa de madeira com três andares, que vemos à direita era uma das famosas. Ficou conhecida, pelo seu estilo cheio de janelas, como pombal e funcionou no local por várias décadas. Por volta de 1950 um soldado da aeronáutica foi agredido em uma das casas existentes um pouco adiante, na rua General Carneiro. Seus companheiros de quartel vieram vingar a agressão sofrida e, usando como munição as pilhas de macadame que estavam depositadas para o calçamento da rua apedrejaram a maioria das casas da zona. Foi tal a destruição que daquele momento em diante a região ficou conhecida como ‘Coréia’ (onde acontecia uma guerra naquela época), apelido que perdurou por muitos anos.

Não foram poucos os acontecimentos trágicos ocorridos na região. Assassinatos, suicídios e, principalmente, pancadarias aconteciam com certa frequência. Quando havia briga era comum eram comuns as quedas nos banhados e nos próprios rios Ivo e Belém.

Pombal, Helena, Helena do Papagaio, Amélia, Argentina, Bernadette, Sobradinho (ou Cento e Onze), Inferninho, etc eram alguns dos nomes das casas da região, que existiam sem fixação de épocas. Estas casas ficaram na memória de quem as frequentou, que fazem lembrar outros nomes curiosos espalhados por Curitiba: Alice, Chiquinha, Dinorah, Mesquita, Quinta Coluna, Aviãozinho, A Vila, Otília, Uda, Foco Vermelho, Tânia, Chacrinha, Maria Sem Calça, Casa de Campo, Frida Treze (Polaca), Maria Cebola e uma infinidade de outras que não nos foram lembradas.

O fim da noitada sempre acabava no bar e café Palácio, no Peixe Frito ou no caneco de Sangue. Estes dois últimos bares eram da pesada. No linguajar telegráfico de um jovem moderno poderíamos dizer:

-Pô meu, Curitiba era uma zona!"

Rua Marechal Deodoro, uma quadra antes da Praça Zacarias. Data: 19/03/1947

Rua Marechal Deodoro, uma quadra antes da Praça Zacarias. Data: 19/03/1947. Foto: Domingos Foggiato. Acervo: Cid Destefani. Gazeta do Povo. Coluna Nostalgia, 19/11/1989



Gazeta do Povo. Coluna Nostalgia - Marechal Deodoro, a velha rua (Cid Destefani, 19/11/1989) 

"A fotografia acima, feita no dia 19 de março de 1947, nos mostra a antiga Rua Marechal Deodoro. Viela pacata e estreita, com calçamento de paralelepípedos polidos pelo uso. A Deodoro conservou essa imagem até 1965, quando foi alargada para se transformar na avenida que hoje conhecemos. A história dessa rua se perde nos longínquos tempos do início da cidade. Foi batizada de início como Rua da Carioca de Baixo, em virtude de possuir na vargem do Rio do Ivo um dos três chafarizes que forneciam a água para os curitibanos de antanho. 

A cidade evoluiu e a nossa Marechal Deodoro acompanhou o progresso a ser chamada e Rua do Comércio e fazendo a ligação entre o Largo da Ponte (Praça Zacarias) e o Alto do Matadouro (Rua Ubaldino do Amaral). Em maio de 1880, com a visita e Dom Pedro II, a rua foi rebatizada com o nome do imperador, conservando esta denominação até o advento da República, quando então seu nome oi trocado para o que conserva até hoje. 

A Marechal Deodoro da época da foto acima era uma rua com uma característica provinciana e a parte focalizada, exatamente o seu início, nos traz à lembrança a vida pacata da cidade antes dos anos 60. A imagem do Cine Luz na esquina com a Rua Doutor Muricy tendo ao fundo a Zacarias com suas casas baixas. A linha de bondes que seguia pela Rua Aquidaban (Rua Emiliano Perneta) e as casas residenciais convivendo com as comerciais. 

O velho armazém Pão de Açúcar. A Casa de Móveis dos Daitzchman, posteriormente Troib. A casa Miranda de Calçados, a Galeria das meias do Kudry e o escritório de Lattes & Cia. A “boite” Elite, que posteriormente passaria a ser Marroco e comandaria a vida noturna da cidade dirigida pelo “Rei da Noite”, Paulo Wendth. Neste pedaço da Deodoro também funcionou um barracão de madeira, a redação do “Paraná Esportivo”, dirigido pelo José Muggiati e Ezio Zanello, jornal que contava com a fotografia de Domingos Foggiato para suas ilustrações e onde, também como fotógrafo, entramos para as lides da imprensa do Paraná, em 1958. 

Durante o dia a rua era frequentada por transeuntes que se dirigiam às casas comerciais, bancos e escritórios que ali funcionavam. À noite a rua se transformava, principalmente na década de 50, quando as “mariposas” de desentocavam das pensões ali existentes e faziam o trottoir perambulando pelas calçadas à caça de fregueses. O povo as chamava “Marchadeiras da Marechal” e também de “Marechalinas”. 

Quem olha hoje a larga avenida que é a Marechal Deodoro, nem por muito esforço que faça consegue imaginar que ali existiu uma viela quase tão velha quanto Curitiba, onde em noites escuras ouvia-se o coaxar dos sapos no Rio do Ivo".

Avenida Luiz Xavier. Data: 05/11/1947


Avenida Luiz Xavier. Data: 05/11/1947 (à época chamada João Pessoa). Foto: Domingos Foggiatto. Acervo: Cid Destefani. Gazeta do Povo, Coluna Nostalgia, 30/07/1989

Rebouças, Avenida Iguaçu. Data: 7 de abril de 1950. Foto: Domingos Foggiatto. Acervo: Cid Destefani. Gazeta do Povo, Coluna Nostalgia (14/01/1996)



Gazeta do Povo, Coluna Nostalgia - O Último Apito (Cid Destefani, 14/01/1996)

"(...) Várias indústrias possuíam suas enormes chaminés e apitos, principalmente as ligadas ao beneficiamento da erva-mate. As madeireiras todas tinham. Outras indústrias como Todeschini, Mueller, Trevisan, Cruzeiro e Brahma possuíam seus apitos. Os moradores das redondezas das fábricas conheciam esses apitos pelos sons, sabendo perfeitamente que horas estavam apontando cada um deles. 

A cidade inteira e baseava nos apitos da fábricas, excluindo-se aí, o centro. Entretanto, a poucas quadras da Praça Tiradentes já se podiam ouvir os estridentes marcadores dos horários. Eram centenas deles espalhados pelos bairros e arrabaldes. 

(...) No começo da noite, todos os apitos das fábricas eram acionados. A zoeira era infernal e permanecia por mais de meia hora, quando o sons iam sumindo conforme o vapor nas caldeiras ia sendo consumido. 

Existiam ocasiões especiais quando estes apitos eram todos acionados. durante a última guera mundial, quando se faziam exercícios de black out, quando a cidade ficava totalmente às escuras, eles sinalizavam o início e o final destes exercícios, quando era proibido acender qualquer tipo de luz, até um palito de fósforo. Quando a guerra terminou os apitos tocaram festivamente o seu fim. 


Com o passar do tempo as fábricas foram sendo desativadas, os engenhos de erva-mate e as serrarias foram desaparecendo e, junto com eles, os sons estridentes que marcavam os horários dos curitibano dos anos quarenta (...).

Revolta Estudantil - Junho de 1945 - Causa: aumento das passagens de bondes e ônibus em Cr$0,10 (dez centavos). Data: 06/06/1945. Foto: Domingos Foggiato. Acervo Cid Destefani. Gazeta do Povo, Coluna Nostalgia, (06/06/1993)



Gazeta do Povo - Coluna Nostalgia, Cid Destefani - 06/06/1993

A nossa máquina do tempo vai nos transportar para o começo do mês de junho de 1945, quando não fazia ainda um mês que havia acabado a 2ª Guerra Mundial. Tudo começou no dia 31 de maio quando surgiu na imprensa o seguinte comunicado: 

"A Companhia Força e Luz do Paraná (CFLP), na contingência de fazer vigorar para seus empregados a tabela de reajustamento de salários comunica ao público que a partir e junho de 1945, fará cobrar nos serviços de transporte coletivo a seu cargo (ônibus e bondes) a taxa adicional de Cr$ 0,10 (dez centavos) por passagem, pelo qual serão observadas as seguintes tarifas devidamente aprovadas pela prefeitura: Linhas de Bondes: Praça Tiradentes à Água Verde: Cr$0,30 - Água Verde ao Portão: Cr$0,30 - Praça Tiradentes ao Portão (direto): Cr$ 0,50 - Praça Tiradentes ao Juvevê: Cr$0,30 - Juvevê ao Bacacheri: Cr$ 0,30 - Praça Tiradentes ao Bacacheri (direto): Cr$ 0,50 - Praça Zacarias ao Batel: Cr$ 0,30 - Batel ao seminário: Cr$0,20 - Praça Zacarias ao Seminário (direto): Cr$0,40 - Trajano Reis ao Asilo Cr$ 0,30 - Asilo ao Prado: Cr$0,30 - Praça Tiradentes ao Prado (direto): Cr$0,50 - Linha de ônibus Alto da Rua XV ao Hospital Militar: R$ 0,40".

Este comunicado foi o estopim com retardo para o que iria acontecer no dia 3 de junho, quando à noite, por volta das 21 horas, começaram os protestos dos estudantes universitários que em número aproximado de uma centena fizeram uma viagem de bonde da Praça Zacarias ao Seminário, retornando ao ponto de partida, onde retiveram o veículo até as 23 horas. À frente da multidão os diretores da União Paranaense dos Estudantes (UPE), cujo presidente Francisco Oswaldo Costelucci falou às pessoas ali reunidas, atacando os lucros das passagens e os altos lucros auferidos pela CFLP. O manifesto foi pacífico contando com a presença de policiais.



O mesmo bonde derrubado por estudantes na Avenida João Gualberto. Foto: Domingos Foggiato, 06/06/1945. Acervo: Cid Destefani, publicada na mesma Coluna Nostalgia de 06/06/1993.

No dia seguinte, 4 de junho, os estudantes universitários, em comissão, levaram notas de protestos ao Interventor Interino Rosaldo Mello Leitão, ao chefe de polícia, major Fernando Flores e ao prefeito Alexandre Beltrão, além de ter sido expedido um telegrama ao presidente da república. Já no dia 5 as manifestações começara a tomar o rumo da violência, apesar do manifesto publicado pelo Sindicato dos Trabalhadores da Empresa de Carris de Curitiba, apelando ao povo que apoiasse o aumento que iria trazer melhorias aos trabalhadores e que a situação dos salários, como estava, era insustentável.

Em contrapartida, a UPE mantinha-se em assembléia e visitava o Comando da 5ª Região Militar. Os estudantes, durante o dia, junto a populares, lotavam os bondes e se negavam a pagar as passagens, mantendo-se pacificamente dento dos veículos. À noite o movimento esquentou e o povo depredou vários bondes, tendo a CFLP interrompido o tráfego dos mesmos em quase todos os bairros.

Os estudantes ainda apelavam para que a população se mantivesse pacífica enquanto se processavam as demarches junto ao governo para o retorno da tabela antiga.

No dia 6, pela manhã, foi tombado um bonde da linha Juvevê, na Avenida João Gualberto. À tarde, uma comissão da UPE esteve outra vez com o interventor com quem confabularam por mais de uma hora e meia, quando imensa massa popular ficou em frente ao Palácio do Alto São Franciso (Mansão Garmatter). Nesse manifesto, a UPE julgava-se no dever de defender o povo contra a ganância e a especulação da Companhia Força e Luz, cujas tenazes se apertavam sobremodo nas taxas de luz, ultra-exorbitantes. Se a CFLP estivesse sofrendo prejuízos, ela não estaria senão sofrendo o que o povo sofria nesses reajustes de pós-guerra. Nesse momento o governo deveria dar preferência em estar com o povo, já sobrecarregado de tantos encargos, e não entregá-lo sem proteção aos seus algozes.

Em resposta às reivindicações estudantis, o governo mandou, à noite, piquetes de cavalaria da Força Policial para a frente dos Colégios Iguaçu e Novo Ateneu, quando os milicianos deram cargas com suas espadas desembainhadas contra os estudantes que saíam das provas parciais de meio de ano. Vários foram feridos, tendo inclusive cavalarianos tentado adentrar com suas montarias no Colégio Iguaçu. Foi uma verdadeira operação "matar no ninho", afim de impedir que os colegiais voltassem a atacar os coletivos. Motivados por esta agressão, os estudantes criariam poucos dias depois, a União Paranaense dos Estudantes Secundários. 



Em junho de 1945, policiais vigiavam a entrada da garagem de bondes da Companhia Força e Luz do Paraná, em frente ao prédio da Assembléia Legislativa (hoje sede da Câmara).

Para encurtar um pouco a história da revolta dos estudantes por causa do aumento de 10 centavos na passagem dos coletivos, podemos dizer que ela se estendeu até o dia 15 de junho, com visitas diárias às autoridades, agora já com as fileiras engrossadas por sociedades operárias sindicatos e professores além da população que apoiou firmemente o movimento encetado pelos nossos estudantes universitários e secundaristas.

Quem viveu a Curitiba daqueles tempos lembra muito bem do que os estudantes eram capazes de fazer na maioria das vezes, ordeiramente, para reivindicar seus direitos e do próprio povo. Afloravam inteligências, oradores se revezavam em alocuções quentes e coerentes, onde mitas vezes despontavam futuros lideres políticos. Em 64 veio a "Revolução Redentora" e, com ela, a liquidação das associações estudantis. Nos vinte anos em que esteve no limbo, a nossa juventude retornou à pré-história perdendo a força do diálogo e da oratória. Hoje, quando protestam, pintam as caras, para, como silvícolas mostrarem que estão em guerra.

As manifestações de junho de 1945 só terminaram quando Manoel Ribas voltou da viagem que fizera ao Rio de Janeiro, reassumindo a Interventoria do Paraná. De todo aquele movimento realizado pela UPE, além do exemplo, ficaram as imagens que publicamos: policiais protegendo a Estação de Bondes da Força e Luz, na Barão do Rio Branco e o bonde tombado na Avenida João Gualberto quando as passagens dos coletivos, depois de se manterem durante anos em custos estáveis, subiram dez centavos.