Posse do Presidente do Estado do Paraná Carlos Cavalcanti de Albuquerque, em 25/02/1912. A foto mostra, autoridades e convidados chegando ao Grande Hotel (que ficava na esquina da Rua XV com a Barão do Rio Branco) para um almoço comemorativo.
Gazeta do Povo, Coluna Nostalgia (Cid Destefani, 17/03/1991)
"O povo curioso se apinhava em frente ao prédio do Congresso Estadual, hoje Câmara de Vereadores para assistir a chegada dos convidados em suas caleças e landaus puxados por belas parelhas de animais. Contingentes do Exército e da Polícia Militar, à poca denominada Força Pública´, formavam na Rua Barão do Rio Branco, que uma semana antes ainda se chamava Rua da Lyberdade pois a denominação fora trocada no dia 18 de fevereiro daquele ano.
Após a solenidade de posse no Congresso, a comitiva e dirigiu ao Palácio do Governo, que ficava também na Rua Barão, para assistir à transmissão do cargo . Após assumir o cargo de presidente, Carlos Cavalcanti recepcionou os seletos convidados com um lauto almoço no Grande Hotel, que ficava na esquina da Rua XV de Novembro com Barão do Rio Branco. Cavalcanti era um oficial do Exército nascido no Rio de Janeiro e há muito tempo radicado em Curitiba.
Na política local já havia sido deputado estadual com sua primeira eleição em 1891, reelegendo-se sucessivamente ate 1900, quando se tornou deputado federal por dois mandatos consecutivos. Em 1911, sem concorrentes, chegou ao cargo de presidente do estado, denominação esta que se dava aos que dirigiam o governo estadual até a Revolução de 30. Governou o estado, Carlos Cavalcanti, entre 1912 e 1916 e um dos principais problemas que enfrentou foi a questão de limites entre o Paraná e Santa Catarina quando houve a célebre Campanha do Contestado. Posteriormente chegou a ser eleito senador. veio a falecer em 23 de fevereiro de 1935".
Outra foto do Grande Hotel, na esquina entre a Rua XV e a Barão do Rio Branco. Proprietário: Gino Zanchetta. Gazeta do Povo, Coluna Nostalgia (Cid Destefani, 25/05/1997).
Publicidade do Grande Hotel em 1908: "Grande Hotel Zanchetta & Comp. Restaurante a la carte de primeira ordem, com vinhos das mais afamadas adegas. Diária: 6 mil réis. Quartos de dois, três e cinco mil réis. Commodos arejados. Banhos amenos. Poem carros à disposição todos os dias à disposição dos hóspedes.É um dos primeiros hotéis do sul do Brazil". (Revista O Olho da Rua, 13/05/1908).
Gazeta do Povo, Coluna Nostalgia – 06/08/1989 - José Bonifácio, a Rua Fechada
"No século passado era uma viela lamacenta com precárias calçadas de pedras conhecidas como “pé-de- moleque” Vinha do Largo da Ordem e terminava na parede dos fundos da antiga Matriz onde havia uma passagem estreita que podia ser utilizada unicamente por pedestres, daí o nome Rua Fechada. Com a demolição da velha Matriz, iniciada em 1876 e com a construção, ao lado da futura catedral foi aberta a rua, fazendo sua ligação com a Praça Tiradentes.
A tradição católica fazia com que se enterrassem os mortos no solo sagrado das igrejas, abaixo de seus assoalhos. A velha Matriz de Curitiba, com dois séculos no local, abrigou uma série de restos mortais em seu subsolo durante toda a sua existência, até ser criado, em 1854, por Zacarias de Góes, o atual Cemitério Municipal. Com a rua já aberta e denominada José Bonifácio, foi em 1906, escavada para dar lugar aos tubos condutores do esgoto que eram instalados na cidade. A remexida feita na terra com a abertura das valetas fez com que aflorassem à superfície uma grande quantidade de ossadas humanas. Como a memória do povo é curta e a predisposição da mente para o fantástico e a tônica do simplório, espalhou-se pela cidade que o local, incluindo a Praça Tiradentes foram um imenso cemitério. Alguns afirmavam, e tem gente que acredita até hoje, ter sido ali um cemitério indígena. Pura lenda que os ossos da velha Matriz e a imaginação do povo criaram.
A Rua José Bonifácio que aparece acima, fotografada no dia 3 de dezembro de 1944, nos mostra um movimento inusitado de uma manhã de sábado com o burburinho das carroças oferecendo os seus produtos às donas-de-casa que acorriam ao local para as compras. As casas comerciais ofereciam de tudo aos compradores. Tinha de tudo. Apesar da guerra estar ainda comendo solta na Europa e seus reflexos se fazendo sentir por aqui através de racionamentos e do envio de nossos soldados aos campos de batalha da Itália o curitibano vivia pacatamente na cidade que possuía pouco mais de cem mil habitantes.
Os estabelecimentos comerciais instalados na Rua José Bonifácio com raríssimas exceções, eram dominados por antigos imigrantes alemães e seus descendentes. A mais tradicional das famílias de comerciantes do local sempre foi a Hauer e com um dos seus ancestrais aconteceu interessante história: José Hauer Senior que aportou em São Francisco do Sul por volta de 1860 veio em seguida para Curitiba e aqui se instalou uma modesta loja de ferragens. Trabalhando com perseverança, amealhou considerável fortuna e, já no final do século, adquiriu a primeira Usina Elétrica que a cidade teve, atrás do prédio onde hoje fica a Câmara Municipal, transferiu-se para o início do Capanema e explorou-a até o começo da década de 10.
José Hauer Senior teve um dissabor muito grande no seio de sua família. Vendeu a usina, o seu palacete (hoje Colégio Divina Providência) e vastíssima quantidade de terras que possuía nos arredores da cidade. Milionário voltou para a Alemanha e lá, na cidade de Wiesbaden, construiu um palacete de dois andares e cuja fachada estava escrito Curityba. Quando ele morreu, foi enterrado daquela cidade com terra curitibana que transportara daqui dentro de um saco. Oi a maneira de mostrar a gratidão e o amor pela cidade que lhe proporcionara a imensa fortuna que começou a amealhar na pequena loja de ferragens da Rua Fechada".
Desfile da Festa da Primavera, realizado pelo Centro Estudantil Paranaense (1910).
Gazeta do Povo, Coluna Nostalgia (13/03/1998)
"A Rainha da Festa, Laurita de Oliveira, aparece como passageira da primeira caleça. Entre o público vemos de terno e chapéu branco, Leocádio Pereira e, atrás dele o 'coronel' Juca Luz e Romário Martins. Junto ao poste, de chapéu côco, está o doutor Miguel Santiago.
O desfile, ou préstito, como era chamado, esta vindo pela Rua Voluntários da Pátria e, entrando na Avenida Luiz Xavier, na esquina da Praça Osório. A partir dali ele prosseguia pela Rua XV em direção ao Passeio Público, onde se desenrolariam os festejos, cujo ponto alto seria a saudação à Primavera, feita pelo poeta Emiliano Perneta".
Caixa d'água localizada no extremo leste do Cristo Rei, sem data. Acervo Nestor Gastão Poplade, publicado por Cid Destefani na Gazeta do Povo, Coluna Nostalgia, 08/10/2000.
Coluna Nostalgia (08/10/2000).Algumas datas importantes na história do Cristo Rei
1670 – A área foi doada como sesmaria a Antônio Rodrigues Cid.
1886 – A região era conhecida como “Quarteirão do Uberaba”, e se dividia nas propriedades de Carlos Weigert, Franz Muller, Giacomo Berlezi e Michel Angel Poplade.
1900 – A região passou a ser representada nos mapas como pertencente ao Cajuru e, tempos mais tarde, englobaria também a Vila Morgenau.
1918 – Fundação da Sociedade Beneficente e Recreativa da Villa Morgenau.
1932 – Fundação do Bloco Esportivo Morgenau
1936 – O Padre Germano Mayer é encarregado da criação da paróquia do Cajuru, cuja igreja ficou pronta um ano depois. A nova paróquia recebeu o “orago” de Cristo Rei, em 2 de dezembro de 1937. O local começou a ser frequentado por devotos de São Judas Tadeu.
1968 – Fusão entre o Bloco Esportivo Morgenau e a SBRVM, criando a atual Sociedade Morgenau.
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Antigos nomes de ruas no Cristo Rei
Rua XV: Caminho do Uberaba e Rua São Paulo
Avenida Souza Naves: Rua Guarany
Rua Reinaldino S.de Quadros: Rua das Araucárias
Rua Padre Germano Mayer: Rua Goethe
Rua Fernando Amaro: Rua Benjamin Constant
Vista do Cristo Rei em direção ao sul, abril de 1949. Acervo Nestor Gastão Poplade, publicada na mesma edição da foto anterior.
Gazeta do Povo, Coluna Nostalgia (Cid Destefani, 07/06/1992) - De uma velha crônica: a origem do nome Rua das Flores
"(...) Há poucos dias o jornalista Arnaldo Alves da Cruz nos entregou uma cópia de um artigo escrito pelo Doutor João Pâmphilo D'Assumpção, pulicado em jornal local em janeiro de 1927.sob o título: "Como conheci a Rua XV de Novembro".
A descrição de Pâmphilo D'Assumpção é saborosa e nos leva ao passado da então Rua das Flores, onde ele nasceu em 1868. Entretanto, o que de mais importante nos deixa são informações como esta: "A primeira reconstituição que fiz foi a da esquina da Rua Dr. Muricy, outrora chamada Rua da Assembléia e, antes, Rua Nova, quando em 1794 foi concedida a carta de data a Ivo José de Andrade que deu o nome ao ribeiro".
Eis o primeiro esclarecimento importante na crônica do ilustre curitibano: a razão do nome do Rio do Ivo é por fazer divisa, há quase 200 anos, com a terra cuja propriedade era deste ilustre senhor José Ivo de Andrade.
Continua a descrição: "A memória que tenho deste local remonta à época em que se abriu esse trecho para o começo da Estrada do Mato grosso. Havia um paredão de pedra sore o qual existiam duas ou três casinhas, numa das quais morava o Mestre Torquato, alfaiate. É onde está hoje a Casa Carioca". Isto em 1927, quando o artigo foi escrito. . Hoje naquela esquina da XV com a Muricy está instalada a Tecelagem Imperial.
Vai o ilustre articulista retratando a Rua das Flores de seu tempo, dizendo que onde hoje está a Farmácia Colombo ainda não existia edificação e que o local era uma pequena elevação de barro amarelo
Seguindo sua reconstituição vai, Dr. Pâmphilo nos dizendo como era a esquina com a Marechal Floriano, onde hoje está a agência do Bamerindus. Ali a atual Floriano subia em estreito caminho ladeado por altos barrancos até o Largo da Matriz, hoje Praça Tradentes. Na esquina onde está o banco, ficava o sobrado que havia sido palácio do governo. No quintal deste sobrado existiam dois cedros não-europeus. Eram cedros das nossas matas.
Outra menção curiosa focaliza onde hoje se encontra o prédio do Banestado (Casa Gótica da XV, atual agência do Itaú), na esquina da Monsenhor Celso. Chamavam a esse trecho, de mesquinha edificação, "as casinhas". Eram ocupadas por bodegas ordinárias, onde reuniam-se cachaceiros e se vendia toucinho charque e aguardente. Do outro lado, em frente, existia um casebre que pelo rebaixamento da rua ficou empoleirado no alto de alicerces, de modo que para atingir a porta, havia uma escada de tábuas até a Travessa da Matriz (Monsenhor Celso).
Desta velha crônica o trecho que se segue é sumariamente esclarecedor. sabemos hoje que o nome Rua das Flores advém da existência de alguns pés de "Rosa Louca" em divisa de terreno daquela via, no século XIX. Pamphilo D'Assumpção nos da a localização exata destas flores. Vamos a seu texto:
"Outra reconstituição é a da esquina onde funciona o Club do Comércio e a Bomboniére Mimosa. Este canto pertencia à minha família. Era fechado por muros velhos, remendados com tábuas. Havia ali uma roseira da variedade que vulgarmente se chama 'Mariquinha', roseira que cobria todo o muro e de tal modo florescia que deu à rua o nome de Rua das Flores".
A Rosa chinensis (conhecida popularmente no Brasil como "Mariquinha"). Desenho de 1816, da ilustradora Caroline Maria Applebee (1799-1854). Extraído de Royal Horticultural Society.
Eis, portanto, o local onde estavam localizadas as flores que deram a denominação à rua no século XIX, na esquina entre a XV e a Marechal Floriano, onde está instalado o edifício Manoel de Macedo. Obviamente guardando o espaço que foi desapropriado para o alargamento da rua em 1965.
Vamos terminando esta viagem proveitosa e nostálgica ao nosso passado, deixando o fechamento da matéria por conta do cronista que deixou a nós, pósteros, estas preciosas informações.
"Estes pontos que rememorei bastam para dar a medida do nosso progresso, que é proporcionalmente maior que o de São Paulo que quando nos largou, deixou-nos uma mísera vila isolada nestes campos dos pinhais, tendo tido o cuidado de na legislatura anterior a nossa emancipação suprimir, por economia, três lampiões de azeite que existiam na terra. Isso deu-se em 1853... O que Curitiba precisa é que seus filhos a amem com ardor, queiram-na com entusiasmo. Que percam o too receio de passar por jeca pelo fato de enaltecerem seu berço. Convençam-se de que a nossa capital é das cidades mais belas, mais adiantadas e mais progressistas do Brasil".
A fotografia que ilustra a 'Nostalgia' de hoje foi feita no dia 18 de abril de 1948 e nos mostra a antiga casa de Manoel de Macedo, na esquina da XV com a Floriano, onde no século XIX existiu o muro com as famosas rosas "Mariquinha", que deram nome à Rua das Flores".
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João Pâmphilo Velloso de Assumpção. Data de nascimento: 7 de setembro de 1868. Falecimento: 15 de janeiro de 1945. Natural de Curitiba, Paraná.
Formação Acadêmica: Bacharelou‐se em Direito pela Faculdade de São Paulo no ano de 1889 na mesma turma de que fizeram parte Emiliano Pernetta e Octavio do Amaral. Doutor em Ciências Jurídicas e Sociais pela FDUP – Faculdade de Direito da Universidade do Porto (1897), por meio de concurso para lente substituto de um grupo de cadeiras referentes a Economia e Administração.
Docência: Lecionou Direito Civil das Obrigações aos 44 anos. Discurso Inaugural na sessão solene de Instalação da Academia de Letras do Paraná, em abril de 1923.
Publicações: ASSUMPÇÃO, Pâmphilo de. Duas orações. Curityba: Livraria Mundial, 1923. ASSUMPÇÃO, Pâmphilo de. “Colônia Penal”. Diário da Tarde. 12 abr. 1907. Ano X, n. 2475, p. 1. ASSUMPÇÃO, Pamphilo de. “O crime no Paraná”. Diário da Tarde. Curitiba, 21 ago. 1908. Ano XI, n. 2889, p. 1.
Vida Profissional: Fundou o Instituto dos Advogados do Paraná (1917), do qual foi Presidente por 15 anos; Fundou a Seção do Paraná da Ordem dos Advogados do Brasil (1930), da qual foi Presidente por 5 anos (1932/1935). Foi membro fundador do Centro de Letras do Paraná, do qual foi Presidente. Presidente da Sociedade Thalia (1927‐28). Presidente da Associação Comercial do Paraná (1909‐ 13 e 1927‐31). Fundador e ocupante da cadeira número 7 da Academia Paranaense de Letras.Também atuou como membro do Conselho Penitenciário do Paraná.
O leiloeiro Julio Gineste conversa, do interior do seu veículo, com um ciclista (tratava-se do então jovem fotógrafo Domingos Foggiato).
Gazeta do Povo. Coluna Nostalgia (Cid Destefani, 05/07/1992)
"(...) A fotografia acima, feita em 24 de junho de 1940, apresenta uma vista parcial da cidade em direção ao sul, tendo em primeiro plano um canto da Praça Tiradentes, exatamente na esquina com a Marechal Floriano, onde esta tem seu início.
No prédio desta esquina funcionava a casa Goudart, especializada em partituras e instrumentos musicais e seu endereço era exatamente na rua Marechal Floriano nº. 1. Este estabelecimento sofreu certa feita, no final da década de 30, um acidente inusitado. Tendo um bonde que vinha da Rua do Rosário perdido o seu controle, chegando em frente à casa de partituras, descarrilou, entrando reto com violento estrondo pela vitrine da Casa Goudart. Foi um acidente comentado por anos a fio em toa a cidade.
A fotografia ainda nos mostra outras fachadas na Praça Tiradentes como a casa especializada em importações de frutas do árabe Hassan M. Raas, a Farmácia Leão, onde, na parte e cime tinham seus consultórios os doutores José Loureiro Fernandes e Osvaldo faria da Costa, vindo em seguida a Casa Eduardo, de propriedade de Eduardo Karam.
A fotografia revela uma Curitiba onde se vislumbrava o horizonte que se perdia para os lados de São José dos Pinhais. O casario ainda permitia a beleza dessa vista. A Marechal Floriano em linha reta se perde lá para os lados do Asilo, com destino à Vila Hauer e Boqueirão. (...)"
Gazeta do Povo - Coluna Nostalgia, Cid Destefani - 06/06/1993
A nossa máquina do tempo vai nos transportar para o começo do mês de junho de 1945, quando não fazia ainda um mês que havia acabado a 2ª Guerra Mundial. Tudo começou no dia 31 de maio quando surgiu na imprensa o seguinte comunicado:
"A Companhia Força e Luz do Paraná (CFLP), na contingência de fazer vigorar para seus empregados a tabela de reajustamento de salários comunica ao público que a partir e junho de 1945, fará cobrar nos serviços de transporte coletivo a seu cargo (ônibus e bondes) a taxa adicional de Cr$ 0,10 (dez centavos) por passagem, pelo qual serão observadas as seguintes tarifas devidamente aprovadas pela prefeitura: Linhas de Bondes: Praça Tiradentes à Água Verde: Cr$0,30 - Água Verde ao Portão: Cr$0,30 - Praça Tiradentes ao Portão (direto): Cr$ 0,50 - Praça Tiradentes ao Juvevê: Cr$0,30 - Juvevê ao Bacacheri: Cr$ 0,30 - Praça Tiradentes ao Bacacheri (direto): Cr$ 0,50 - Praça Zacarias ao Batel: Cr$ 0,30 - Batel ao seminário: Cr$0,20 - Praça Zacarias ao Seminário (direto): Cr$0,40 - Trajano Reis ao Asilo Cr$ 0,30 - Asilo ao Prado: Cr$0,30 - Praça Tiradentes ao Prado (direto): Cr$0,50 - Linha de ônibus Alto da Rua XV ao Hospital Militar: R$ 0,40".
Este comunicado foi o estopim com retardo para o que iria acontecer no dia 3 de junho, quando à noite, por volta das 21 horas, começaram os protestos dos estudantes universitários que em número aproximado de uma centena fizeram uma viagem de bonde da Praça Zacarias ao Seminário, retornando ao ponto de partida, onde retiveram o veículo até as 23 horas. À frente da multidão os diretores da União Paranaense dos Estudantes (UPE), cujo presidente Francisco Oswaldo Costelucci falou às pessoas ali reunidas, atacando os lucros das passagens e os altos lucros auferidos pela CFLP. O manifesto foi pacífico contando com a presença de policiais.
O mesmo bonde derrubado por estudantes na Avenida João Gualberto. Foto: Domingos Foggiato, 06/06/1945. Acervo: Cid Destefani, publicada na mesma Coluna Nostalgia de 06/06/1993.
No dia seguinte, 4 de junho, os estudantes universitários, em comissão, levaram notas de protestos ao Interventor Interino Rosaldo Mello Leitão, ao chefe de polícia, major Fernando Flores e ao prefeito Alexandre Beltrão, além de ter sido expedido um telegrama ao presidente da república. Já no dia 5 as manifestações começara a tomar o rumo da violência, apesar do manifesto publicado pelo Sindicato dos Trabalhadores da Empresa de Carris de Curitiba, apelando ao povo que apoiasse o aumento que iria trazer melhorias aos trabalhadores e que a situação dos salários, como estava, era insustentável.
Em contrapartida, a UPE mantinha-se em assembléia e visitava o Comando da 5ª Região Militar. Os estudantes, durante o dia, junto a populares, lotavam os bondes e se negavam a pagar as passagens, mantendo-se pacificamente dento dos veículos. À noite o movimento esquentou e o povo depredou vários bondes, tendo a CFLP interrompido o tráfego dos mesmos em quase todos os bairros.
Os estudantes ainda apelavam para que a população se mantivesse pacífica enquanto se processavam as demarches junto ao governo para o retorno da tabela antiga.
No dia 6, pela manhã, foi tombado um bonde da linha Juvevê, na Avenida João Gualberto. À tarde, uma comissão da UPE esteve outra vez com o interventor com quem confabularam por mais de uma hora e meia, quando imensa massa popular ficou em frente ao Palácio do Alto São Franciso (Mansão Garmatter). Nesse manifesto, a UPE julgava-se no dever de defender o povo contra a ganância e a especulação da Companhia Força e Luz, cujas tenazes se apertavam sobremodo nas taxas de luz, ultra-exorbitantes. Se a CFLP estivesse sofrendo prejuízos, ela não estaria senão sofrendo o que o povo sofria nesses reajustes de pós-guerra. Nesse momento o governo deveria dar preferência em estar com o povo, já sobrecarregado de tantos encargos, e não entregá-lo sem proteção aos seus algozes.
Em resposta às reivindicações estudantis, o governo mandou, à noite, piquetes de cavalaria da Força Policial para a frente dos Colégios Iguaçu e Novo Ateneu, quando os milicianos deram cargas com suas espadas desembainhadas contra os estudantes que saíam das provas parciais de meio de ano. Vários foram feridos, tendo inclusive cavalarianos tentado adentrar com suas montarias no Colégio Iguaçu. Foi uma verdadeira operação "matar no ninho", afim de impedir que os colegiais voltassem a atacar os coletivos. Motivados por esta agressão, os estudantes criariam poucos dias depois, a União Paranaense dos Estudantes Secundários.
Em junho de 1945, policiais vigiavam a entrada da garagem de bondes da Companhia Força e Luz do Paraná, em frente ao prédio da Assembléia Legislativa (hoje sede da Câmara).
Para encurtar um pouco a história da revolta dos estudantes por causa do aumento de 10 centavos na passagem dos coletivos, podemos dizer que ela se estendeu até o dia 15 de junho, com visitas diárias às autoridades, agora já com as fileiras engrossadas por sociedades operárias sindicatos e professores além da população que apoiou firmemente o movimento encetado pelos nossos estudantes universitários e secundaristas.
Quem viveu a Curitiba daqueles tempos lembra muito bem do que os estudantes eram capazes de fazer na maioria das vezes, ordeiramente, para reivindicar seus direitos e do próprio povo. Afloravam inteligências, oradores se revezavam em alocuções quentes e coerentes, onde mitas vezes despontavam futuros lideres políticos. Em 64 veio a "Revolução Redentora" e, com ela, a liquidação das associações estudantis. Nos vinte anos em que esteve no limbo, a nossa juventude retornou à pré-história perdendo a força do diálogo e da oratória. Hoje, quando protestam, pintam as caras, para, como silvícolas mostrarem que estão em guerra.
As manifestações de junho de 1945 só terminaram quando Manoel Ribas voltou da viagem que fizera ao Rio de Janeiro, reassumindo a Interventoria do Paraná. De todo aquele movimento realizado pela UPE, além do exemplo, ficaram as imagens que publicamos: policiais protegendo a Estação de Bondes da Força e Luz, na Barão do Rio Branco e o bonde tombado na Avenida João Gualberto quando as passagens dos coletivos, depois de se manterem durante anos em custos estáveis, subiram dez centavos.