Vila dos Funcionários: O Sonho de uma Cidade que Queria Morar Bem — A Obra Coletiva de Eduardo Fernando Chaves e Gastão Chaves & Cia
Por aqueles que ainda caminham pelas ruas da Bacacheri e sentem o peso da história sob os pés — e o calor de um sonho coletivo que mudou Curitiba para sempre.
O Nascer de um Ideal — 1923 a 1925
Em um período em que Curitiba começava a se transformar — das ruas de pedra às avenidas arborizadas, do casario colonial ao urbanismo planejado — nasceu um projeto audacioso: a Vila dos Funcionários.
Não era apenas um conjunto de casas. Era uma revolução social, uma promessa de dignidade, uma declaração de que todos mereciam um lar decente — mesmo os servidores públicos, muitos deles vivendo em condições precárias.
E quem foi o arquiteto por trás desse sonho? Eduardo Fernando Chaves, atuando na empresa Gastão Chaves & Cia — uma firma que, naquele momento, não construía apenas edifícios, mas futuro.
Casas Econômicas, Mas com Alma — Entre 52 e 102,60 m²
Localizada na Avenida Bacacheri, a Vila dos Funcionários foi projetada entre 1923 e 1925 como solução habitacional para os funcionários públicos do Estado do Paraná. Eram residências de pequeno porte, mas com dignidade, funcionalidade e beleza.
As casas foram divididas em classes (A, B e C) e tipos (1 a 5), cada uma com variações — adaptadas às necessidades das famílias e ao orçamento público. As áreas variavam de 52 a 102,60 m², todas construídas em alvenaria de tijolos, material nobre, durável e adequado ao clima paranaense.
Cada casa tinha:
🔹 Planta térrea — com distribuição inteligente dos ambientes;
🔹 Fachada frontal — simples, mas elegante, com detalhes que conferiam personalidade;
🔹 Corte longitudinal — revelando a estrutura interna e a altura dos cômodos;
🔹 Variações de tipos — para atender diferentes perfis familiares.
Eduardo Fernando Chaves não apenas desenhou casas — ele projetou vidas. Cada planta era pensada para facilitar o cotidiano: cozinha próxima à sala, quartos bem ventilados, quintais para as crianças brincarem.
A Vila que Virou Símbolo — Fotos de 1925/1926
As imagens preservadas nos relatórios oficiais do Estado — publicados em 1925 e 1926 — mostram uma realidade rara para a época: uma vila organizada, limpa, com calçadas, árvores e casas uniformes, mas com identidade própria.
🔹 Lado direito da Avenida Bacacheri — fileiras de casas alinhadas, com telhados inclinados e janelas generosas.
🔹 Lado esquerdo da Avenida Bacacheri — a mesma ordem, a mesma harmonia.
🔹 Avenida do Centro — o coração da vila, onde as famílias se encontravam, conversavam, viviam.
Eram casas modestas, mas cheias de orgulho. Os moradores não eram apenas inquilinos — eram cidadãos, trabalhadores, pais, mães, filhos. E a cidade, pela primeira vez, reconhecia isso.
Eduardo Fernando Chaves — O Arquiteto que Construiu Dignidade
Não há muitas informações sobre a vida pessoal de Eduardo Fernando Chaves, mas seu trabalho fala por ele. Em 1923-1925, ele já era reconhecido como um projetista competente — capaz de entender as necessidades de seus clientes e traduzi-las em planos práticos, estéticos e funcionais.
Sua obra na Vila dos Funcionários é um exemplo raro de arquitetura social — não apenas técnica, mas humanista. Ele não projetou para o poder, mas para o povo. Não projetou para o luxo, mas para a dignidade.
E sua assinatura, junto à Gastão Chaves & Cia, é uma prova de que a arquitetura pode ser instrumento de justiça social — mesmo em tempos de escassez, mesmo em tempos de crise.
O Que Resta Hoje? — Parcialmente Existente em 2012
Em 2012, a Vila dos Funcionários ainda existia — parcialmente. Algumas casas haviam sido demolidas, outras reformadas, outras transformadas em pequenos comércios. Mas algumas ainda mantinham sua estrutura original — telhados inclinados, janelas de madeira, paredes de tijolo aparente.
Elas são testemunhas silenciosas de uma época em que o Estado se preocupava com o bem-estar de seus servidores. São memórias vivas de um sonho coletivo — de uma cidade que queria morar bem.
Por Que Isso Importa? — A Memória que Constrói Nossa Cidade
A Vila dos Funcionários não é apenas um conjunto de casas. Ela é um marco histórico, um símbolo de progresso social, uma prova de que a arquitetura pode transformar vidas.
Quando olhamos para essas casas — mesmo que parcialmente preservadas —, vemos mais do que tijolos e telhas. Vemos famílias que cresceram ali, crianças que brincaram nos quintais, trabalhadores que voltavam cansados, mas orgulhosos de ter um lar.
Perder essas casas é perder parte da nossa história. Preservá-las é honrar o passado — e inspirar o futuro.
Para Sempre na Memória da Cidade
“Uma casa pode ser demolida. Mas o sonho que a construiu, o amor que a habitou, e a arte que a projetou — esses jamais serão apagados.”
Eduardo Fernando Chaves, embora pouco conhecido, deixou sua marca — e essa marca é a prova de que a arquitetura não é apenas técnica, mas também poesia.
A Vila dos Funcionários, mesmo parcialmente existente, continua viva — nos corredores das casas que resistiram, nas histórias contadas pelos moradores antigos, nas fotos desbotadas que guardam o rosto de uma Curitiba que sonhava melhor.
Com respeito, por aqueles que construíram, sonharam e viveram em Curitiba — mesmo que suas casas já não existam.
— Curitiba, 21 de novembro de 2025
🏘️ “Nem todas as vilas precisam estar intactas para serem importantes. Algumas vivem apenas nas memórias, nas fotos, nas histórias — e são eternas por isso.”
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