Álvaro Teixeira de Freitas: O Homem que Sonhou um Bangalô em 1924 — E a Casa que Virou Memória
Por aqueles que ainda ouvem o sussurro do vento entre paredes que já não existem — mas que viveram, amaram e sonharam.
O Dia em Que um Sonho Foi Desenhado — 9 de Setembro de 1924
Em um dia comum de setembro, sob o céu claro de Curitiba, um projeto arquitetônico foi assinado — não apenas com tinta e papel, mas com esperança, funcionalidade e elegância. Era o projeto para o bangalô de Álvaro Teixeira de Freitas, localizado nos lotes 69, 70, 71 e 72 da Planta de Afonso A. Teixeira de Freitas — uma área que, na época, ainda era fronteira entre o urbano e o rural.
O projetista? Mais uma vez, Eduardo Fernando Chaves — o mesmo nome que, no mesmo dia, desenhava a casa de José Nunes Bellegard. Um dia, dois projetos, duas famílias, duas histórias. Curitiba estava sendo moldada por mãos talentosas — e Álvaro Teixeira de Freitas foi um dos homens que confiou nesse talento para construir seu refúgio.
Um Bangalô de 144 m² — Pequeno, Mas Perfeito
O projeto, registrado no Alvará de Construção nº 3250/1924 (Talão nº 1030), previa uma residência de pequeno porte, com apenas um pavimento, construída em alvenaria de tijolos — material nobre, durável, e que conferia solidez à estrutura.
As plantas, cuidadosamente elaboradas por Eduardo Fernando Chaves, incluíam:
🔹 Planta do pavimento térreo — com distribuição inteligente dos ambientes;
🔹 Corte longitudinal — revelando a altura dos cômodos e a estrutura interna;
🔹 Fachadas frontal e lateral — que combinavam simplicidade com requinte, típico do estilo residencial da década de 1920.
Com seus 144 m², o bangalô era compacto, mas generoso — ideal para uma família pequena, que valorizava privacidade, conforto e beleza arquitetônica. Não era uma mansão, mas era sua casa — e isso, para Álvaro, era tudo o que importava.
Álvaro Teixeira de Freitas — Quem Era Ele?
Embora os registros históricos sejam escassos, podemos imaginar Álvaro como um homem de negócios, talvez comerciante, funcionário público ou até mesmo um profissional liberal — alguém que, em meados da década de 1920, tinha condições de encomendar um projeto arquitetônico personalizado.
Ele escolheu Eduardo Fernando Chaves — um nome respeitado na cidade — para transformar seu sonho em realidade. E isso diz muito: não era apenas uma construção, era uma declaração de identidade.
Álvaro provavelmente caminhava pela região dos lotes 69 a 72 com orgulho, imaginando sua família reunida na sala, as crianças brincando no quintal, os jantares à luz de velas nas noites de verão. Sua casa era seu refúgio, seu legado, sua marca na paisagem urbana de Curitiba.
Eduardo Fernando Chaves — O Projetista que Deixou Sua Assinatura na Cidade
Não há muitas informações sobre a vida pessoal de Eduardo Fernando Chaves, mas seu trabalho fala por ele. Em 1924, ele já era reconhecido como um projetista competente — capaz de entender as necessidades de seus clientes e traduzi-las em planos práticos, estéticos e funcionais.
Seu projeto para Álvaro Teixeira de Freitas é um exemplo raro de arquitetura residencial da época — documentado, detalhado, preservado em microfilme no Arquivo Público Municipal de Curitiba. É uma janela para o passado, uma prova de que Curitiba já pensava em design, em qualidade de vida, em beleza urbana — mesmo antes de se tornar a “cidade-jardim”.
O Que Aconteceu com a Casa? — Demolida em 2012
Infelizmente, a história dessa residência termina com uma nota triste: em 2012, a casa foi demolida. Não há registro oficial do motivo — talvez tenha sido substituída por um prédio comercial, por um edifício residencial, ou simplesmente por negligência. Mas o fato permanece: uma peça importante da memória arquitetônica de Curitiba desapareceu.
Hoje, onde estava o bangalô de Álvaro Teixeira de Freitas, pode haver um estacionamento, um supermercado, ou um prédio sem alma. Mas quem conhece a história sabe que ali, um dia, existiu algo belo — algo humano.
Por Que Isso Importa? — A Memória que Constrói Nossa Cidade
Casas como a de Álvaro Teixeira de Freitas não são apenas estruturas de tijolo e cimento. Elas são testemunhas silenciosas da vida cotidiana, do crescimento das famílias, das mudanças sociais, da evolução urbana.
Quando demolidas sem registro, sem valorização, sem memória — perdemos mais do que paredes. Perdemos histórias. Perdemos rostos. Perdemos a identidade da cidade.
O projeto de Eduardo Fernando Chaves, preservado no arquivo municipal, é um tesouro. Ele nos permite reconstituir, mesmo que parcialmente, o que foi perdido. Ele nos lembra que Curitiba não começou ontem — ela tem raízes, nomes, vidas, sonhos.
Para Sempre na Memória da Cidade
“Uma casa pode ser demolida. Mas o sonho que a construiu, o amor que a habitou, e a arte que a projetou — esses jamais serão apagados.”
Álvaro Teixeira de Freitas, mesmo sem biografia completa, merece ser lembrado — não apenas como proprietário de uma casa, mas como parte da história viva de Curitiba.
Eduardo Fernando Chaves, embora pouco conhecido, deixou sua marca — e essa marca é a prova de que a arquitetura não é apenas técnica, mas também poesia.
Com respeito, por aqueles que construíram, sonharam e viveram em Curitiba — mesmo que suas casas já não existam.
— Curitiba, 21 de novembro de 2025
🏡 “Nem todas as casas precisam estar de pé para serem importantes. Algumas vivem apenas nos desenhos, nas memórias, nas histórias — e são eternas por isso.”
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