sábado, 15 de novembro de 2025

Guilherme Weiss e o Palacete Perdido: Uma Joia Arquitetônica da Curitiba dos Anos 1920

 

Guilherme Weiss e o Palacete Perdido: Uma Joia Arquitetônica da Curitiba dos Anos 1920

No coração de Curitiba, onde hoje o asfalto guarda em silêncio as memórias de tempos mais majestosos, erguia-se, até pouco mais de uma década atrás, um testemunho do esplendor burguês do início do século XX: o Palacete Guilherme Weiss. Projetado em 18 de setembro de 1922 pelo escritório Gastão Chaves & Cia., sob a assinatura do projetista Eduardo Fernando Chaves, este imóvel não era apenas uma residência — era uma declaração de status, cultura e identidade de uma elite urbana que moldava a fisionomia da capital paranaense.

Infelizmente, em 2012, o palacete foi demolido, deixando apenas registros fotográficos, plantas arquitetônicas e a saudade de quem conheceu sua imponência. Mas sua história merece ser contada — não apenas como um retrato do patrimônio perdido, mas como um tributo à visão de um homem: Guilherme Weiss.


O Patrono: Guilherme Weiss — Um Homem de Visão

Embora os arquivos não revelem com riqueza biográfica os detalhes da vida pessoal de Guilherme Weiss, seu nome ressoa como o de um cidadão de destaque na Curitiba da Primeira República. Provavelmente ligado ao comércio, à indústria ou às finanças — atividades que floresciam na cidade naquele período —, Weiss tinha recursos e sensibilidade artística suficientes para encomendar uma residência que transcendesse a mera funcionalidade.

Ele escolheu o melhor endereço da época: a esquina da Rua Comendador Araújo com a Rua Visconde do Rio Branco, no centro da cidade, onde se concentravam as famílias mais abastadas e os símbolos do progresso urbano. Ali, encomendou não uma casa, mas um palacete — termo reservado às residências de grande porte, com linguagem arquitetônica inspirada na Europa, especialmente no ecletismo francês e neoclássico tão em voga entre 1890 e 1930.


A Obra: Um Projeto de Excelência Arquitetônica

O projeto arquitetônico, datado de 18 de setembro de 1922, foi desenvolvido pelo escritório Gastão Chaves & Cia., um dos mais respeitados de Curitiba na primeira metade do século XX. O projetista responsável, Eduardo Fernando Chaves, demonstrou domínio técnico e estético ao criar uma residência que harmonizava grandeza e elegância, sem cair no excesso ornamentativo.

Características principais:

  • Dois pavimentos, com área total construída de 800 m² (800 m² por pavimento, segundo os registros da época — possivelmente referindo-se à área do térreo, já que a cobertura era menor).
  • Técnica construtiva em alvenaria de tijolos, o que garantia solidez e durabilidade.
  • Fachadas ricamente detalhadas, com elementos clássicos como frontões, balaustradas, janelas em arco pleno e molduras ornamentais.
  • Planta distribuída com rigor funcional: salões de recepção, salas de jantar, gabinetes, quartos amplos, dependências de serviço e terraço panorâmico.
  • Cobertura elaborada, sugerindo a presença de um mirante ou espaço de lazer com vista para a cidade.

O projeto foi apresentado em cinco pranchas técnicas, que incluíam:

  1. Fachada principal e corte longitudinal;
  2. Fachada principal com detalhes internos;
  3. Fachada lateral (Rua Visconde do Rio Branco);
  4. Seção transversal da residência;
  5. Plantas dos pavimentos térreo, superior e cobertura.

Essas pranchas, hoje preservadas em microfilme digitalizado, são valiosos documentos da história da arquitetura curitibana.

Além delas, existe uma fotografia do imóvel, sem data exata, mas que mostra a majestade da edificação já concluída — com suas janelas altas, telhado imponente e portão de ferro forjado, típico das residências aristocráticas da época.


Contexto Histórico: Curitiba em Transformação

O ano de 1922 era simbólico no Brasil: centenário da Independência, efervescência cultural e anseio por modernidade. Curitiba, embora ainda pequena comparada ao Rio ou São Paulo, vivia um período de urbanização acelerada, impulsionado pelo café, pela imigração europeia e pelo surgimento de uma elite urbana que via na arquitetura um meio de afirmar seu lugar no mundo.

O Palacete Weiss inseria-se nesse contexto como símbolo de sofisticação. Sua localização privilegiada, perto do Largo da Ordem e da futura Rua XV de Novembro, colocava Guilherme Weiss no epicentro da vida social e econômica da cidade.


O Desaparecimento: Um Lamento pelo Patrimônio Perdido

Em 2012, o palacete foi demolido, vítima de uma lógica imobiliária que frequentemente ignora o valor histórico em favor do lucro imediato. Não há registros de que tenha sido tombado — o que, infelizmente, era comum para muitas edificações do início do século XX, vistas como "antigas", mas não "históricas" o suficiente.

Sua destruição deixou uma lacuna irreparável no tecido urbano de Curitiba. Onde antes havia um monumento à memória arquitetônica, hoje ergue-se, provavelmente, um edifício comercial ou residencial moderno — funcional, mas anônimo.

Felizmente, o Arquivo Público Municipal de Curitiba, a Casa da Memória e a Fundação Cultural de Curitiba preservam os documentos do projeto, incluindo a fotografia do imóvel e as plantas assinadas por Eduardo Fernando Chaves. Esses materiais integram a Coleção Palacete Guilherme Weiss, referenciada sob o código 0200, PPA, e são acessíveis a pesquisadores e historiadores.

A memória do palacete também foi mantida viva por Bruno Weiss de Castilho, descendente da família, que contribuiu para a preservação de sua história.


Epílogo: Lembrar Para Não Repetir

O Palacete Guilherme Weiss foi mais do que tijolos, argamassa e madeira. Foi o sonho materializado de um homem, a expressão artística de um arquiteto e um pedaço vivo da alma de Curitiba. Sua demolição é um lembrete doloroso de que patrimônio não é apenas o que está em livros de história — é o que ainda respira na cidade.

Que a memória de Guilherme Weiss, de Eduardo Fernando Chaves e de sua obra perdida sirva como chamado para a valorização do que ainda resta. Porque, como diz o ditado, “quem não conhece sua história, está condenado a repeti-la” — e, neste caso, a repetir a perda.

O Palacete Weiss não existe mais — mas enquanto houver quem se lembre dele, ele ainda ergue suas paredes na memória coletiva de Curitiba.

Eduardo Fernando Chaves: Projetista na empresa Gastão Chaves & Cia.

Denominação inicial: Projecto do Palacete para o Snr. Guilherme Weiss

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Grande Porte

Endereço: Rua Comendador Araújo esquina com Rua Visconde do Rio Branco

Número de pavimentos: 2
Área do pavimento: 800,00 m²
Área Total: 800,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos

Data do Projeto Arquitetônico: 18/09/1922

Alvará de Construção: Talão Nº 606; N° 2252/1922

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção do Palacete Weiss e fotografia do imóvel.

Situação em 2012: Demolido


Imagens

1 – Fachada principal e corte.
2 – Fachada principal e corte com detalhes do interior.
3 – Fachada para a Rua Visconde do Rio Branco.
4 – Secção transversal da residência.
5 – Plantas dos pavimentos térreo e superior e da cobertura.
6 – Fotografia do imóvel, s/d.

Referências: 

1, 2 , 3, 4 e 5 - GASTÃO CHAVES & CIA. Projecto do Palacete para o Snr. Guilherme Weiss na Rua Comendador Araújo esquina com Visconde do Rio Branco. Planta dos pavimentos térreo, superior e de cobertura, corte e fachadas frontal e lateral apresentados em cinco pranchas. Microfilme digitalizado.
6 – Coleção Palacete Guilherme Weiss.

Acervo: Casa da Memória/Diretoria do Patrimônio Cultural/FCC (Fundação Cultural de Curitiba) – referência: 0200, PPA; Arquivo Público Municipal de Curitiba; Bruno Weiss de Castilho.

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