terça-feira, 13 de junho de 2023

Enedina Alves Marques (Curitiba, 13 de janeiro de 1913 – entre 20 e 27 de agosto de 1981)

 Enedina Alves Marques (Curitiba13 de janeiro de 1913 – entre 20 e 27 de agosto de 1981)


Enedina Alves Marques
Nome completoEnedina Alves Marques
Conhecido(a) porprimeira mulher negra engenheira do Brasil e primeira mulher engenheira do Paraná
Nascimento13 de janeiro de 1913
CuritibaParanáBrasil
Morteagosto de 1981 (68 anos)
CuritibaParanáBrasil
ResidênciaCuritiba
Nacionalidadebrasileira
ProgenitoresMãe: Virgília Alves Marques
Pai: Paulo Marques
Alma materUniversidade Federal do Paraná
OcupaçãoEngenheira civil

Enedina Alves Marques (Curitiba13 de janeiro de 1913 – entre 20 e 27 de agosto de 1981) foi uma professora e pioneira engenheira brasileira.[1][2][3][4]

Formou-se em Engenharia Civil em 1945 pela Universidade Federal do Paraná, entrando para a história como a primeira mulher a se formar em engenharia no estado e a primeira engenheira negra do Brasil.[1]

Biografia

Enedina nasceu na capital paranaense em 1913.[5] Era filha de Paulo Marques e Virgília Alves Marques, que chegaram a Curitiba nos anos 1910. A família teria se radicado no bairro Ahú ou no Portão, bairro onde Dona Duca, como a mãe de Enedina era chamada, ganhava a vida como lavadeira. Na década de 1920, Dona Duca foi trabalhar para a família do delegado e major Domingos Nascimento Sobrinho. A casa da família, de madeira, com varandas e lambrequins, foi desmontada e transferida para o Juvevê e, hoje, abriga a sede regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.[1] Domingos, que tinha uma filha de mesma idade, Isabel, mais conhecida como Bebeca, pagou a educação de Enedina em colégios particulares, para que ela fizesse companhia a sua filha.[1][6][7][8]

Entre 1925 e 1926, Enedina foi alfabetizada na Escola Particular da Professora Luiza, dirigida pela professora Luiza Dorfmund. No ano seguinte, ingressou na Escola Normal, onde permaneceu até 1931. Entre 1932 e 1935, formou-se no curso Normal e junto com Isabel, Enedina passa a trabalhar como professora no interior do estado. Atuou em cidades como Rio NegroSão Mateus do SulCerro Azul e Campo Largo.[1][5][6]

Voltou a Curitiba entre 1935 e 1937, para cursar o Madureza no Novo Ateneu (curso intermediário que, na época, era exigido para o magistério). No mesmo período, Enedina morou com a família do construtor Mathias e com sua esposa Iracema Caron, no bairro do Juvevê. Durante este período deu aulas no próprio bairro, na Escola de Linha de Tiro. O amigo Jota Caron, parente do casal, é quem garante a permanência da professora na residência. Depois dos Nascimento, os Caron se tornam os novos benfeitores de Enedina. Mesmo sem ser formalmente empregada da casa, pagava os préstimos com serviços domésticos.[6][7]

Em 1935, alugou uma casa na frente do Colégio Nossa Senhora Menina, no Juvevê, e montou classes seriadas de alfabetização. Em 1938, faz curso complementar em pré-Engenharia no Ginásio Paranaense (hoje Colégio Estadual do Paraná), no período noturno, enquanto morava na casa dos Caron.[5]

Engenharia

Em 1940, ingressou na Faculdade de Engenharia da Universidade do Paraná. Em 1945, Enedina graduou-se em Engenharia Civil, tornando-se a primeira mulher engenheira do Paraná e a primeira engenheira negra do Brasil. A formatura se deu no Palácio Avenida, tendo como paraninfo o professor João Moreira Garcez. Antes dela, dois negros se formaram em Engenharia na instituição: Otávio Alencar (1918) e Nelson José da Rocha (1938).[1][5][6]

Exonerada da Escola da Linha de Tiro em 1946, Enedina se tornou auxiliar de engenharia na Secretaria de Estado de Viação e Obras Públicas. Enedina foi chefe de hidráulica, chefe da divisão de estatísticas e do serviço de engenharia do Paraná, na Secretaria de Educação e Cultura do Estado.[7] No ano seguinte, o governador Moisés Lupion, concede transferência para o Departamento Estadual de Águas e Energia Elétrica. Enedina trabalhou no Plano Hidrelétrico do estado e atuou no aproveitamento das águas dos rios CapivariCachoeira e Iguaçu. Para muitos, a Usina Capivari-Cachoeira foi seu maior feito como engenheira. Apesar de vaidosa, Enedina usava macacão nas obras da usina e levava uma arma na cintura, disparando tiros para o alto para se fazer respeitar entre os homens da construção.[1] Dentre outras de suas obras, destacam-se o Colégio Estadual do Paraná e a Casa do Estudante Universitário de Curitiba.[5][1]

O major Domingos Nascimento Sobrinho morreu em 1958, deixando Enedina como uma de suas beneficiárias em seu testamento. Foi entrevistada pelo sociólogo Octávio Ianni em 1961, para a pesquisa "Metamorfoses do escravo", financiada pela Unesco. Em 1962, aposenta-se no governo do estado e recebeu o reconhecimento do governador Ney Braga, que por decreto, admitiu os feitos da engenheira e lhe garantiu proventos equivalentes ao salário de um juiz.[5][7]

Morte

Enedina morreu em agosto de 1981, aos 68 anos. Ela foi encontrada morta em seu apartamento na Rua Ermelino de Leão, no Centro de Curitiba, vítima de um infarto no dia 27.[5][9] Pelo estado de decomposição do corpo, acredita-se que ela tenha morrido pelo menos uma semana antes, no dia 20. No atestado de óbito consta a data de 27 de agosto, mas a estimativa é dia 20.[10]

O jornal Diário Popular, tabloide da época, a retratou como uma idosa excêntrica, como se não fosse uma pessoa de importância, o que causou a indignação de membros do Instituto de Engenharia do Paraná. Após o caso, vários artigos ressaltando seus feitos foram publicados pela imprensa.[1] Enedina não tinha parentes próximos quando morreu.[5][7] No que se tem registro, nunca se casou e não teve filhos.[1]

Legado e homenagens

Em 1988, uma rua da Vila Oficinas, no bairro Cajuru, foi batizada com o seu nome e Enedina recebeu uma inscrição no Memorial à Mulher Pioneira, local construído pelas Soroptimistas, organização internacional voltada aos direitos humanos, da qual participou. Em 2006, foi fundado o Instituto de Mulheres Negras Enedina Alves Marques, em Maringá. Em 2014, uma campanha pela internet pedia que o Edifício Teixeira Soares, ex-RFFSA, adquirido pela UFPR, fosse renomeado em sua homenagem.[1]

Em 2018, placa em homenagem no prédio de Tecnologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR). [11]

Em 2019 a Assembleia Legislativa do Estado do Paraná aprovou o projeto de lei que denomina Engenheira Enedina Alves Marques o trecho da PR-340 entre Cacatu e Cachoeira de Cima, no município de Antonina.[2][3][4]

Em 2021. Homenagem para Enedina Marques por Turma da Mônica no Dia Internacional das Mulheres na Engenharia. [12]

Em 2023, o Doodle do Google no Brasil homenageou na data de seu aniversário. [13]

Bibliografia

  • BANDEIRA, Pura Domingues. Memorial à Mulher: Pioneiras do Paraná (1853-1953). Curitiba: Soroptimist International of the Americas e Prefeitura Municipal de Curitiba. Abril, 2000.
  • FERNANDES, Sandro Luis. Negra Curitibana em Território de Brancos: Enedina Alves Marques.. 2009. (Apresentação de Trabalho/Comunicação). Seminário de Estudos Étnico-raciais e V Semana de História. História: espaços simbólicos - UNICENTRO (PR).
  • Negra Enedina, a engenheira. Matéria do Gazeta do povo. Texto publicado na edição impressa de 1 de março de 2013, por José Carlos Fernandes. Visitado em 10 de outubro de 2015.
  • NICOLAS, Maria. Pioneiras do Brasil: Estado do Paraná. Curitiba: Editora da Autora. 1977.
  • PUPPI, Ildefonso C. Fatos e reminiscências da Faculdade: Retrospecto da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Paraná. Curitiba: Fundação da UFPR. p. 122-123. 1986.
  • SANTANA, Jorge Luiz. Enedina Alves Marques: A Trajetória da Primeira Engenheira do Sul do País na Faculdade de Engenharia Do Paraná (1940-1945). IN: Revista Vernáculo. n. 28, 2o. sem./2011 Dossiê Estudos Afro-Brasileiros.
  • SOUZA, Mickaelle Lima. Documentário curta “Além de Tudo, Ela”. COCO filmes, 2019.
  • CASAGRANDE, Lindamir Salete. Livro juvenil, finalista no Prêmio Jabuti, sobre Enedina Marques 2021. Editora Verso. ISBN: 978-65-86436-86-0.


Referências

  1. ↑ Ir para:a b c d e f g h i j k José Carlos Fernandes (11 de abril de 2014). «Conheça a história da engenheira Enedina Alves Marques». Gazeta do Povo. Consultado em 6 de janeiro de 2022
  2. ↑ Ir para:a b «Pioneira da engenharia dará nome a trecho da rodovia PR-340». Assembleia Legislativa do Estado do Paraná. 17 de dezembro de 2019. Consultado em 5 de janeiro de 2022
  3. ↑ Ir para:a b «DER-PR corrige placa em homenagem a engenheira Enedina Alves». Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná. 15 de agosto de 2021. Consultado em 5 de janeiro de 2022
  4. ↑ Ir para:a b «Rodovia PR340 agora leva o nome da Engenheira Enedina Marques». Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR). 19 de agosto de 2021. Consultado em 5 de janeiro de 2022
  5. ↑ Ir para:a b c d e f g h Caroline Souza e Lucas Gomes (ed.). «Quem foi Enedina Marques, primeira engenheira negra do Brasil». Nexo. Consultado em 21 de janeiro de 2019
  6. ↑ Ir para:a b c d «Conheça a história de Enedina Marques, a primeira engenheira negra do Brasil». INBEC Pós-Graduação. Consultado em 21 de janeiro de 2019
  7. ↑ Ir para:a b c d e «Enedina Alves Marques, a primeira engenheira negra do Brasil». buildin. Consultado em 21 de janeiro de 2019
  8.  «Enedina Alves Marques. Primeira engenheira negra do Brasil». Fundação Cultural Palmares. 13 de janeiro de 2017. Consultado em 13 de janeiro de 2023
  9.  «Enedina Alves Marques, A Primeira Engenheira Negra Do Brasil (1913-1981)». CEERT. Consultado em 21 de janeiro de 2019
  10.  «Mulher, negra e pobre: a primeira engenheira do Paraná». Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná. Consultado em 21 de janeiro de 2019
  11.  «Inaugurada placa em homenagem a Enedina Marques, primeira engenheira negra do País e formada na UFPR». UFPR. 20 de novembro de 2018. Consultado em 13 de janeiro de 2023
  12.  Isabela Stanga (24 de junho de 2021). «Turma da Mônica homenageia Enedina Alves Marques, primeira engenheira negra do Brasil». Tudo já existe. Consultado em 14 de janeiro de 2023
  13.  «Homenagem Doodle do Google». Google. 13 de janeiro de 2023. Consultado em 13 de janeiro de 2023

Emílio Nunes Correia de Meneses (Curitiba, 4 de julho de 1866 — Rio de Janeiro, 6 de junho de 1918)

 Emílio Nunes Correia de Meneses (Curitiba4 de julho de 1866 — Rio de Janeiro6 de junho de 1918


Emílio de Meneses
Foto de quando concorreu à ABL, 1911
Nome completoEmílio Nunes Correia de Meneses
Nascimento4 de julho de 1866
CuritibaPR
Morte6 de junho de 1918 (51 anos)
Rio de JaneiroRJ
Nacionalidadebrasileiro
Ocupaçãojornalista e poeta
Principais trabalhosMarcha fúnebre (1892) e Poemas da morte (1901)

Emílio Nunes Correia de Meneses (Curitiba4 de julho de 1866 — Rio de Janeiro6 de junho de 1918) foi um jornalista e poeta parnasiano brasileiro, imortal da Academia Brasileira de Letras e mestre dos sonetos satíricos. Para Glauco Mattoso, o poeta paranaense é o principal poeta satírico brasileiro após Gregório de Matos.

Biografia

Emílio de Meneses nasceu em Curitiba, Paraná, em 4 de julho de 1866.[1] Era filho de Emílio Nunes Correia de Meneses e de Maria Emília Correia de Meneses, único homem dentre oito irmãs. Seu pai também era um poeta. Faz seus estudos iniciais com João Batista Brandão Proença, e depois no Instituto Paranaense. Sem ser de família abastada, trabalha na farmácia de um cunhado e, ainda com dezoito anos, muda-se para o Rio de Janeiro,[1] deixando em Curitiba a marca de uma conduta já destoante ao formalismo vigente: nas roupas, no falar e nos costumes.

Era um boêmio desregrado, que vivia na calaçaria dos cafés e botequins e se tornou célebre por sua maledicência.[2] Na capital do país encontrou solo fértil para destilar sua fértil imaginação, satírica como poucos. A amizade com intelectuais, entretanto, fez com que tivesse seu nome afastado do grupo inicial que fundara a Academia. Torna-se jornalista e, por intercessão do escritor Nestor Vítor, trabalhou com o Comendador Coruja, afamado educador. Em 1888 casou-se com uma de suas filhas, Maria Carlota Coruja, com quem teria no ano seguinte seu filho, Plauto Sebastião.[3]

Todavia, Emílio não era afeito à vida doméstica e nesse mesmo ano separa-se da esposa, mantendo um romance com Rafaelina de Barros.

Autor de versos mordazes, eivados de críticas das quais não escapavam os políticos da época, mestre dos sonetos, Emílio de Meneses é portador de uma tradição - iniciada com o Brasil, em Gregório de Matos.

Tendo sido nomeado para o recenseamento, como escriturário do Departamento da Inspetoria Geral de Terras e Colonização, em 1890, Emílio aposta na especulação da falácia econômica do Encilhamento, criada pelo Ministro da Fazenda Ruy Barbosa: como muitos, fez rápida fortuna, esbanja e, terminada a farsa, como todos os outros investidores, vai à falência. Não muda, entretanto, seus hábitos. Continua o mesmo boêmio de sempre, a povoar os jornais da época com suas percucientes anedotas.

Sobre o poeta
"Os que conheceram Emílio de Menezes ainda estão a vê-lo, com aquela bigodeira à Vercingectórix e aquele amplo chapéu, ora brandindo o bengalão retorcido, a expedir raios sobre a iniquidade dos pigmeus que o irritavam; ora sufocado num riso apopléctico de intenso gozo mental, rematando uma sátira com que, destro, arrasava a empáfia dos potentados e a impertinência dos presunçosos; ora bonacheirão, carinhoso, entalando uma fatia de pão de ló na boca de um de seus fiéis cães de raça; ora ainda transfigurado, olímpico, dizendo, com inspiração extraterrena, 'Os Três Olhares de Maria' ou o 'Ibiseus Mutabilis'. (...)" - Mendes Fradique, no Prefácio de "Mortalha - Os deuses em ceroulas".

Olivenkranz.png Academia Brasileira de Letras

Caricatura por Kalixto, 1915

Apesar de preterido pelo silogeu nacional, Emílio veio finalmente a ser eleito para a Academia Brasileira de Letras em 15 de agosto de 1914, onde recebeu vinte e três votos, enquanto o escritor Virgílio Várzea obteve quatro votos e Gilberto Amado apenas um.[2] Ele veio a ocupar a cadeira de número 20, cujo patrono é Joaquim Manuel de Macedo, e na qual jamais veio a tomar assento, falecendo em 1918. Seria saudado por Luís Murat. Como sucessor, foi escolhido o amigo de Emílio, o escritor maranhense Humberto de Campos, muito popular na época, que tomou posse em 1919.

Na versão oficial, disponível no sítio da ABL, Emílio deixara de tomar posse por conta da sua teimosia em manter críticas no discurso de posse:

Emílio compôs um discurso de posse, em que revelava nada compreender de Salvador de Mendonça, nem na expressão da atuação política e diplomática, nem na superioridade de sua realização intelectual de poeta, ficcionista e crítico. Além disso, continha trechos arguidos, pela Mesa da Academia, de “aberrantes das praxes acadêmicas”. A Mesa não permitiu a leitura do discurso e o sujeitou a algumas emendas. Emílio protelou o quanto pôde aceitar essas emendas, e quando faleceu, quatro anos depois de ter sido eleito, ainda não havia tomado posse de sua cadeira. (do sítio da Academia).

Sobre o episódio do discurso de Emílio, o Imortal Afrânio Peixoto, que por muitos anos presidiu a Casa, consignou:

Emílio de Meneses quisera descompor a Oliveira Lima, ao que se opôs Medeiros e Albuquerque, que então presidia, ordenando a supressão dos tópicos alusivos e ofensivos: à insistência do neófito, em dizê-los, ameaçou-o com o comutador da luz elétrica, desde aí ao alcance da mão do presidente. Não foi preciso usar deste obscuro meio coercitivo, porque o acadêmico recalcitrante não chegou a ser recebido, e seu discurso apenas tardiamente publicado nos jornais, razão por que não figura na coleção da Academia.

Obras

Emílio escrevia não apenas com o próprio nome: diversos pseudônimos foram por ele utilizados, tais como NeófitoGaston d’ArgyGabriel de AnúncioCyrano & Cia.Emílio Pronto da Silva. Na sua obra reunida, contabiliza-se 232 composições poéticas, predominando o soneto como principal forma de expressão.

Trabalhos publicados
  • Marcha fúnebre - sonetos - 1892
  • Poemas da morte -1901
  • Dies irae - A tragédia de Aquidabã - 1906
  • Poesias - 1909
  • Últimas rimas - 1917
  • Mortalha - Os deuses em ceroulas - reunião de artigos, org. Mendes Fradique - 1924
  • Obras reunidas - 1980

Um poema de Emílio

Classificado como parnasiano (simbolista), o poeta Emílio de Meneses era dotado de domínio não apenas da palavra e dos versos, mas da capacidade de elevar-se ao mais alto sentimento, como vê-se no poema a seguir:

A romã
Mal se confrange na haste a corola sangrenta
E o punício vigor das pétalas descora.
Já no ovário fecundo e intumescido, aumenta
O escrínio em que retém os seus tesouros. Flora!
E ei-la exsurge a Romã. Fruta excelsa e opulenta
Que de acesos rubis os lóculos colora
E à casca orbicular, áurea e eritrina ostenta
O ouro do entardecer e o paunásio da aurora!
Fruta heráldica e real, em si, traz à coroa
Que o cálice da flor lhe pôs com o mesmo afago
Com que a Mãe Natureza os seres galardoa!
Porém a forma hostil, de arremesso e de estrago,
Lembra um dardo mortal que o espaço cruza e atroa
Nos prélios ancestrais de Roma e de Cartago!

Referências

  1. ↑ Ir para:a b Tigre, Bastos. Reminiscências: a alegre roda da Colombo e algumas figuras do tempo de antigamente. Thesaurus Editora, 1992. pp. 232
  2. ↑ Ir para:a b Jorge, Fernando. A Academia do Fardão e da Confusão: a Academia Brasileira de Letras e os seus "imortais" mortais. Geração Editorial, 1999. pp. 76-77
  3.  Menezes, Raimundo de. Emílio de Meneses, o último boêmio. 5ª ed. Livraria Martins Editora, 1974. pp. 370