quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Cassilda Cornelsen Grosmann e Marina Nelson: Duas Mulheres, Uma Casa, Um Sonho em Madeira — A História Esquecida de um Lar que Nunca Foi

 

Eduardo Fernando Chaves:  Projetista

Denominação inicial: Projecto de residência para as Snras. Marina Nelson e Cassilda Cornelsen Grossmann

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência Econômica

Endereço: Rua Nunes Machado

Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 63,00 m²
Área Total: 63,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Madeira

Data do Projeto Arquitetônico: 24/08/1926

Alvará de Construção: Nº 3371/1926

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de uma residência de madeira.

Situação em 2012: Demolido


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.

Referências: 

1 - GASTÃO CHAVES & CIA. Projecto de uma residência para as Srnas. Marina Nelson e Cassilda Cornelsen Grossmann. Plantas do pavimento térreo e de implantação, corte e fachada frontal apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba.

Cassilda Cornelsen Grosmann e Marina Nelson: Duas Mulheres, Uma Casa, Um Sonho em Madeira — A História Esquecida de um Lar que Nunca Foi

Por uma voz que ecoa nos traços a lápis, nas linhas de planta baixa e no silêncio das ruas que mudaram — a história de duas mulheres que, em 1926, decidiram construir juntas um lar. Não como irmãs, não como esposas, mas como companheiras. E como o tempo, implacável, levou a casa... mas não apagou o sonho.


Duas Mulheres, Um Projeto: Cassilda e Marina

Em 24 de agosto de 1926, enquanto Curitiba ainda era uma cidade de ruas de terra e casas de madeira, duas mulheres tomaram uma decisão incomum para a época:

Cassilda Cornelsen Grosmann e Marina Nelson — cujos nomes hoje soam quase como poesia esquecida — contrataram o projetista Eduardo Fernando Chaves para construir uma casa.

Não foi uma mansão. Não foi um sobrado. Foi uma residência econômica, simples, funcional, feita de madeira, com apenas 63 m² de área total — um espaço modesto, mas cheio de intenção.

Elas não eram casadas. Não havia marido, nem filhos registrados. Elas eram duas mulheres, vivendo juntas, investindo em um futuro comum. Em 1926, isso era raro. Era corajoso. Era revolucionário.


O Projetista Anônimo: Eduardo Fernando Chaves — Construtor de Sonhos Simples

Já conhecemos Eduardo Fernando Chaves — o mesmo arquiteto que, semanas antes, projetara a casa de Anna Preutter na Rua Saldanha Marinho. Ele não era um nome famoso, mas um profissional atento às necessidades reais da população.

Seu projeto para Cassilda e Marina é um exemplo de eficiência e sensibilidade:

  • Planta do pavimento térreo (mostrando os cômodos distribuídos de forma racional)
  • Planta de implantação (indicando a posição da casa no lote)
  • Corte longitudinal (mostrando a altura e os detalhes estruturais)
  • Fachada frontal (com portas, janelas e varanda — elementos que dão personalidade ao lar)

Tudo isso em uma única prancha, desenhada com precisão, mas também com carinho. Porque, por trás de cada linha, havia duas mulheres que queriam viver juntas — em paz, em segurança, em liberdade.


O Endereço que Conta Tudo: Rua Nunes Machado

A casa seria construída na Rua Nunes Machado — uma rua que, em 1926, estava longe do centro, mas já começava a se urbanizar. Era um bairro de trabalhadores, comerciantes, imigrantes — gente que buscava oportunidade, estabilidade, um lugar para chamar de seu.

O alvará de construção foi emitido em 1926, sob o número Nº 3371/1926 — um registro oficial da prefeitura, que atesta que a obra foi autorizada, planejada, e provavelmente iniciada.

Mas...


A Casa que Desapareceu — E o Que Ficou Além dela

Em 2012, quando pesquisadores do Arquivo Público Municipal de Curitiba revisaram o acervo histórico, descobriram que a casa de Cassilda e Marina não existe mais.

Foi demolida — talvez nos anos 1960 ou 1970, quando Curitiba começou a se modernizar, substituindo casas de madeira por prédios de concreto, ruas estreitas por avenidas largas.

Ninguém sabe exatamente quando. Ninguém sabe por quê. Talvez tenha sido por deterioração. Talvez por especulação imobiliária. Talvez por falta de manutenção.

Mas o que permanece — e isso é o mais importante — é o projeto.

Guardado em microfilme digitalizado no Arquivo Público Municipal, o desenho de Eduardo Fernando Chaves continua vivo. Ele mostra não apenas uma casa, mas uma intenção: a intenção de Cassilda e Marina de viverem juntas, e a intenção de Eduardo de tornar esse sonho possível.


O Legado Invisível: O Que Ficou Além da Madeira

Cassilda Cornelsen Grosmann e Marina Nelson podem ter morrido sem deixar fotos, sem biografia, sem monumento. Mas elas deixaram algo mais poderoso: um registro de sua existência.

Elas foram duas mulheres que, em 1926, tomaram uma decisão corajosa: viverem juntas, sem homem, sem filhos, sem pressão social. Elas contrataram um projetista. Pediram um projeto. Obtiveram um alvará. Provavelmente, viram as paredes serem erguidas, as telhas colocadas, as janelas abertas para o sol da manhã.

E mesmo que a casa tenha desaparecido, ela existiu. E quem viveu nela — Cassilda, Marina, talvez amigas, visitantes, vizinhos — carregou consigo a sensação de pertencimento, de segurança, de lar.

Eduardo Fernando Chaves, por sua vez, deixou um legado silencioso: centenas de projetos como esse, espalhados pela cidade, que moldaram o perfil de Curitiba. Ele não construiu arranha-céus, mas construiu vidas.


Para Cassilda, Para Marina, Para Todas as Mulheres que Viveram Juntas

“Cassilda, Marina — vocês não foram esquecidas. Seus nomes estão aqui, em tinta, em papel, em memória. Vocês quiseram uma casa — e conseguiram. Mesmo que ela tenha sido demolida, seu sonho foi real. Você escolheu viver com quem amava, sem pedir permissão. Eduardo, você não foi um arquiteto famoso, mas foi um construtor de sonhos. Você desenhou mais do que paredes — desenhou liberdade. E nós, que caminhamos pelas ruas de Curitiba, passamos por onde sua casa esteve, e sentimos sua presença — sutil, mas real.”


Ficha Técnica da Casa que Nunca Foi (Mas Existiu)

  • Denominação inicial: Projecto de residência para as Snras. Marina Nelson e Cassilda Cornelsen Grossmann
  • Denominação atual: Demolida (situação em 2012)
  • Categoria (Uso): Residência
  • Subcategoria: Residência Econômica
  • Endereço: Rua Nunes Machado
  • Número de pavimentos: 1
  • Área do pavimento: 63,00 m²
  • Área Total: 63,00 m²
  • Técnica/Material Construtivo: Madeira
  • Data do Projeto Arquitetônico: 24/08/1926
  • Alvará de Construção: Nº 3371/1926
  • Situação em 2012: Demolida
  • Imagem Referência: Projeto Arquitetônico (planta, corte, fachada) — Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba

Cassilda Cornelsen Grosmann e Marina Nelson — duas mulheres que sonharam com um lar juntas.
Eduardo Fernando Chaves — um projetista que transformou sonhos em linhas.
Curitiba — a cidade que guardou suas histórias, mesmo quando as casas desapareceram.

Que esta história continue sendo contada — não apenas nos arquivos, mas nas conversas de família, nos passeios pelas ruas antigas, nas perguntas que fazemos ao passado: Quem viveu aqui? O que sonharam? O que construíram?

Porque, no fim, toda casa é uma história. E toda história merece ser lembrada.

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